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O Poço do Inferno, a Porta do Inferno e o inferno segundo a Igreja

Porta do Inferno
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Francisco Vêneto - publicado em 28/09/21
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O que dois bizarros buracos misteriosos na Ásia têm a ver com o eterno suplício espiritual?

O Poço do Inferno e a Porta do Inferno são, literalmente, dois imensos buracos, tanto repletos quanto rodeados de mistérios, que espantam e geram temores em não pouca quantidade de pessoas.

Vídeos impressionantes sobre a "porta", situada no Turcomenistão, repercutem há muitos anos na internet, enquanto o "poço", localizado no Iêmen, foi assunto neste mês porque, pela primeira vez na História, um grupo de exploradores desceu até o seu fundo para ver o que há por lá.

O "Poço do Inferno" tem cerca de 30 metros de largura e 112 de profundidade e era evitado enfaticamente havia séculos pela população local - cujas lendas garantem que o buraco é habitado por gênios como os da lâmpada de Aladim, que amaldiçoam quem se atreve a descer ao seu interior.

Uma equipe de espeleólogos do vizinho Omã, porém, resolveu correr o risco e realizou a primeira descida de que se tem notícia ao Poço de Barhout, nome oficial do grande buraco situado na província de Al-Mahra, no deserto do leste do Iêmen.

Entre as estalagmites, os exploradores vindos de Omã acharam no fundo do poço do inferno uma importante quantidade de "pérolas da caverna", formadas por sais de cálcio trazidos pelo gotejamento da água das chuvas. Também acharam muitas cobras e animais mortos, o que explica o cheiro que deixava a população local ainda mais distante do poço.

Os gênios da lâmpada, no entanto, não deram qualquer sinal de vida - ou de fumaça.

A cratera de Darvaza é um grande campo de gás natural localizado na província de Ahal, no Turcomenistão. O que chama fortemente as atenções é que a cratera está em chamas, ininterruptamente, desde 1971, com seus ricos depósitos de gás natural alimentando incessantemente as labaredas. O buraco exala um forte cheiro de enxofre que pode ser sentido à distância, o que, junto com o fogo que nunca se apaga, gerou inevitáveis associações com o inferno.

A cratera tem cerca de 70m de diâmetro e fica num vilarejo de mais ou menos 350 habitantes, principalmente turcomanos da tribo Teke, de estilo de vida semi-nômade.

Em 1971, engenheiros da então União Soviética perfuraram a região em busca de gás e petróleo, mas, durante as escavações, o chão sob a plataforma de perfuração cedeu e uma grande cratera se abriu, engolindo o equipamento. Grandes quantidades de gás metano foram lançadas à atmosfera. Os cientistas consideraram mais seguro queimar os gases nocivos do que extraí-los do subsolo.

As expectativas eram de que o gás seria consumido em questão de dias - mas ele continua queimando cinquenta anos depois de ter sido incendiado. Nem mesmo atualmente há previsões de quando as chamas se extinguirão, porque não se sabe qual é a quantidade de gás que ainda resta nas profundezas da porta do inferno.

O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, nº 212, registra que o inferno "consiste na condenação eterna daqueles que, por escolha livre, morrem em pecado mortal. A pena principal do inferno é a eterna separação de Deus, o único em quem o homem encontra a vida e a felicidade para que foi criado, e a que aspira. Cristo exprime esta realidade com as palavras: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno’ (Mateus 25,41)".

Ou seja, o inferno é a eterna privação de Deus, livremente escolhida por aqueles que rejeitam a Deus com pleno discernimento dessa escolha e com plena liberdade em fazer essa escolha. Como Deus nos criou livres e respeita profundamente a nossa liberdade, Ele também aceita essa escolha de cada um. Portanto, não é Deus quem manda alguém para o inferno: é a própria pessoa que escolhe o inferno, privando-se de Deus de modo definitivo e irrevogável.

O Antigo Testamento menciona o castigo eterno dos que rejeitam o Deus verdadeiro e, com plena consciência e liberdade, optam por adorar deuses falsos, como se lê em Isaías 66,24. Outras passagens bíblicas, como Judite 16,17, ou o Eclesiástico 7,17;21,9, também falam do castigo eterno.

No Novo Testamento, o inferno é citado em parábolas como as do joio e do trigo (cf. Mateus 13,24-30.36-43), da rede de pesca (cf. Mateus 13,47-50), dos convidados à ceia (cf. Lucas 14,16-24), das dez virgens (cf. Mateus 25,1-12; Lucas 13,27-29) e do rico e Lázaro (cf. Lucas 16,19-31). Uma das passagens mais enfáticas sobre o inferno é a de Mateus 25,33-46, que trata do juízo final.

Particularmente significativo é o trecho de Marcos 3,28-29, que afirma que todo pecado é perdoado, menos o pecado contra o Espírito Santo - por consistir, precisamente, na rejeição obstinada à graça de Deus. É contra o Espírito Santo porque é Ele quem continuamente nos inspira e nos convida a converter-nos a Deus.

Vale recordar que Deus é infinitamente misericordioso, mas também infinitamente respeitoso da nossa liberdade. Santo Agostinho, a propósito, muito bem o resumiu nesta célebre frase: "Aquele que te criou sem ti não te salva sem ti" - ainda que seja graças a um lampejo de sincero arrependimento no instante final da vida (mas é mais prudente não esperar para abraçar a Deus só no último segundo).