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Mãe de 51 anos, doente, marca data para morrer: este domingo, 10 de outubro, às 7h

Martha, a mulher doente de ELA que marcou data para morrer

@Fede0830

Martha Liria Sepúlveda Campo

Francisco Vêneto - publicado em 07/10/21

O delicado desafio de equilibrar uma profunda empatia por Martha e, ao mesmo tempo, discordar construtivamente da sua dolorosa decisão

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Martha Liria Sepúlveda Campo é uma mulher colombiana de 51 anos, mãe, moradora de Medellín, atingida por uma doença degenerativa que afeta 5 em cada 100 mil pessoas no planeta e que, por causa disso, escolheu a própria data para morrer.

A esclerose lateral amiotrófica, mais conhecida pela sigla ELA, já afetou o tronco cerebral e a medula espinhal de Martha, tirando dela o movimento das pernas ainda no ano passado.

A esclerose lateral amiotrófica (ELA)

O estado de Martha não é terminal: de fato, ela se mostra lúcida e se declara tranquila com a sua dificílima decisão.

O caso é que, mesmo não tendo ainda chegado à fase terminal, a doença não tem cura no atual estágio da medicina. A esclerose lateral amiotrófica vai matando os neurônios que controlam os músculos voluntários, levando a uma gradual rigidez muscular, espasmos e fraqueza geral, o que também provoca dificuldades crescentes de fala, deglutição e, por fim, da respiração: a maioria dos doentes graves morre de insuficiência respiratória.

As causas da doença não são conhecidas em 90% a 95% dos casos, com cerca de 5% sendo hereditários. O diagnóstico se baseia em sintomas e testes para descartar outras causas possíveis.

A sobrevivência média a partir do início da doença varia de dois a quatro anos, mas cerca de 10% dos doentes sobrevivem mais de 10 anos. Atualmente, recorre-se a um medicamento chamado Riluzol para tentar prolongar a vida em alguns meses e à ventilação não-invasiva para proporcionar uma qualidade melhor de vida ao paciente nessas condições.

Eutanásia na Colômbia

Martha Liria Sepúlveda Campo optou pela eutanásia, permitida pela legislação colombiana. Ela seria, porém, a primeira mulher do país a submeter-se à eutanásia mesmo sem estar em fase terminal de doença. Esta possibilidade foi aprovada pela Corte Constitucional da Colômbia em julho deste ano.

Em impactante reportagem veiculada pelo canal de TV Caracol neste último domingo, 3 de outubro, Martha se declarou tranquila com o fato de estar, conscientemente, vivendo os seus últimos 7 dias neste mundo.

De fato, ela marcou data e hora para morrer: o próximo domingo, 10 de outubro, às 7h do horário local.

A mulher com data para morrer

Martha, que afirma ser católica, disse à reportagem:

“Tenho muita fé em Deus, mas repito: Deus não quer me ver sofrer. E acho que não quer ver ninguém sofrer. Nenhum pai quer ver os filhos sofrerem”.

De fato, a TV Caracol optou por uma abordagem sensacionalista do assunto, com a manchete “A eutanásia de uma mulher de fé“.

Federico Redondo, filho de 21 anos de Martha, declarou apoiar a dolorosa decisão da mãe e se diz “focado em fazê-la feliz, em fazê-la rir, em alegrá-la um pouco, e em fazer com que a sua permanência na Terra, no que lhe resta, seja um pouco mais amena”.

A situação de Martha é de uma complexidade ímpar e não há nenhuma resposta fácil a ser dada ao seu sofrimento nem à sua decisão de não viver até os estágios finais da esclerose lateral amiotrófica.

O que pode ser “julgado” na decisão de Martha?

Martha precisa de compreensão, empatia e solidariedade em vez de julgamentos pessoais – até porque os julgamentos pessoais são possíveis apenas a Deus, que “lê o que há no coração”.

No entanto, a decisão de Martha não só pode, como deve ser julgada, no sentido mais objetivo e construtivo desse termo: julgar consiste em analisar os fatos conhecidos e comprovados, com imparcialidade, para emitir um parecer justo e isento sobre os seus aspectos positivos, neutros e negativos e, com base nesse parecer, orientar a decisão que represente o máximo bem possível – ou o menor dos males, no caso extremo de que não se vislumbre bem nenhum a ser escolhido.

Em síntese: não se pode julgar uma pessoa, mas podem e devem julgar-se os seus atos do modo mais objetivo possível, em especial quando envolvem o próprio conceito de vida humana, das suas possibilidades e dos seus limites. Precedentes a este respeito terão impacto não apenas na vida de Martha e da sua família e amigos, mas da sociedade colombiana inteira e, em última instância, da humanidade como um todo.

Há casos documentados de doentes aparentemente sem alternativa que, no entanto, viveram reviravoltas positivas que nem sequer os médicos mais otimistas previam. E há também casos documentados, muito tristemente, de doentes que tentaram de tudo para se recuperar, mas sofreram com intensidade devastadora sem conseguirem quaisquer resultados significativos do ponto de vista da melhora física.

Reflexões sobre uma alternativa: a vida

Como lidar com uma diversidade tão complexa e delicada de variáveis, equilibrando a diretriz de que a vida deve sempre ser priorizada e, ao mesmo tempo, respeitando a liberdade de consciência e de autodeterminação de uma pessoa lúcida e livre que não deseja submeter-se a um sofrimento sem perspectiva de cura e que prefere agendar uma data para morrer?

Do ponto de vista da moral cristã católica, a diretriz geral é clara: a soberania sobre a vida humana é inteiramente de Deus, seja no tocante ao início, seja no tocante ao final da vida.

Procurando propor a Martha uma reflexão a este propósito, o bispo dom Francisco Ceballos, que preside a Comissão para a Promoção e Defesa da Vida na Conferência Episcopal da Colômbia, enviou uma mensagem em vídeo na qual destaca:

“Com muito respeito e muito carinho, quero manifestar à minha irmã Martha que ela não está sozinha, que o Deus da Vida sempre nos acompanha. A sua tribulação pode encontrar um significado transcendente”.

Falando do Amor de Deus como um Amor que cura e renova, dom Francisco prosseguiu:

“Martha, eu a convido a refletir com calma sobre a sua decisão. Espero que isto aconteça, se as circunstâncias permitirem, longe do assédio dos meios de comunicação que não hesitaram em usar a sua dor e a dor da sua família para fazer propaganda da eutanásia num país marcado pela violência”.

O bispo citou então o Papa Emérito Bento XVI:

“A verdadeira resposta não pode consistir em propiciar a morte, por mais ‘doce’ que seja, mas em dar testemunho do amor que ajuda a enfrentar a dor e a agonia de modo humano”.

Ele convidou em seguida os fiéis católicos a se juntarem à oração “por nossa irmã Martha, pelo seu filho, pelos seus familiares e pelos profissionais que a atendem, para que o Deus da Vida, que é o Amor Supremo, a encha com a Sua misericórdia”. Dom Francisco estendeu o convite à própria Martha:

“Convido também Martha Liria para a Missa que vou oferecer no dia 9 de outubro de 2021, às 8 horas da manhã [pelo horário colombiano], na Igreja Catedral Nossa Senhora dos Remédios, em Riohacha, na qual rezaremos pela sua vida, para que nosso Senhor, que assumiu a dor até a morte e morte na cruz, lhe dê a coragem de acompanhá-lo até à própria cruz”.

O bispo destacou, ainda, que “a morte não pode ser a resposta terapêutica para a dor e para o sofrimento em nenhum caso. A morte realizada mediante o suicídio assistido ou a eutanásia não é compatível com a nossa interpretação da dignidade da vida humana”.

Ao alertar para o caráter moralmente inaceitável da ação direta e voluntária de dar fim a uma vida humana, o Catecismo da Igreja Católica observa, em seu número 2.277, que “o erro de juízo, em que se pode ter caído de boa fé, não muda a natureza do ato homicida, o qual deve sempre ser condenado”.

O caso de Marieke Vervoort

Mais reflexões importantes sobre o doloroso dilema de quem se vê tentado a optar pela morte diante do sofrimento e marcar a própria data para morrer podem ser lidas no seguinte artigo sobre o caso da atleta paralímpica belga Marieke Vervoort, que, aos 40 anos de idade, submeteu-se à eutanásia em 22 de outubro de 2019, após tê-la anunciado com três anos de antecedência.

A pergunta que propusemos na época permanece válida:

“Ela já havia anunciado essa intenção fazia anos. Nós tentamos, mas por que não conseguimos fazer Marieke mudar de ideia?”

Tags:
DoençaEutanásiaIdeologiaMorteVida
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