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O inferno existe? Como entendê-lo?

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Vanderlei de Lima - publicado em 10/10/21

Dada a estranheza dos dizeres atribuídos ao Santo Padre, órgãos católicos se puseram a comentar o tema

Em data recente, o Sr. Eugênio Scalfari, do jornal italiano La Repubblica, disse ter o Papa Francisco lhe assegurado que o inferno não existe, por conseguinte, ninguém vai para lá. As almas dos maus simplesmente desaparecem.

Dada a estranheza dos dizeres atribuídos ao Santo Padre, órgãos católicos se puseram a comentar o tema. “É ‘fruto de uma reconstrução’ e ‘não é uma transcrição fiel’” – disse a Sala de Imprensa da Santa Sé, conforme o site Vaticannews.va, de 3 de abril último. Já a página Religionenlibertad.com, de 29 de março, assegura que a fala de Scalfari não é credível, pois, além de ter errado outras vezes, nos seus 93 anos, faz entrevistas, mas nada grava, nem anota. Reproduz tudo de memória no seu jornal.

Isso posto, pergunta-se: qual é, em suma, a doutrina da Igreja sobre o inferno? – No Antigo Testamento, há uma insinuação da existência do castigo eterno aos idólatras (aqueles que adoram falsos deuses) em Isaías 66,24. O castigo é aí, como em outras passagens bíblicas (cf. Judite 16,17; Eclesiástico 7,17;21,9), designado por fogo e verme. Também Daniel 12,2, ao tratar da ressurreição, diz que, depois dela, uns irão para o prêmio e outros para o castigo eterno.

O Novo Testamento tem trechos ainda mais claros sobre o inferno. As parábolas do joio e do trigo (cf. Mateus 13,24-30.36-43), da rede de pesca (cf. Mateus 13,47-50), dos convidados à ceia (cf. Lucas 14,16-24), das dez virgens (cf. Mateus 25,1-12; Lucas 13,27-29) e do rico e Lázaro (cf. Lucas 16,19-31). Essas passagens são enfatizadas, mais claramente, em Mateus 25,33-46, no conhecido Evangelho do Juízo Final.

Outros textos vêm ainda ao caso. Marcos 3,28-29, onde fala que todo pecado é perdoado, menos o pecado contra o Espírito Santo. Que é esse gravíssimo pecado? – É o fechamento obstinado à graça de Deus que chama, sem cessar, mas também sem forçar, o ser humano à conversão. Diz-se que é contra o Espírito Santo por ser Ele o grande dom divino à humanidade. Em João 5,28-29, aparece, com ênfase, o julgamento (krísis, em grego) no sentido de que o réu se sai mal ou é condenado (cf. João 3,17). Marcos 9,47-48, relembrando Isaías 66,24, recorda a importância de cortar o mal de nossa vida a fim de sermos salvos ou não condenados. Os Apóstolos também afirmam a salvação ou a condenação eternas em Gálatas 5,19-21; Efésios 5,5; 2 Coríntios 4,3-4.

O Papa Paulo VI, resumindo o clássico ensino da Igreja, no Credo do Povo de Deus (1968), n. 13, diz que o Senhor Jesus sofreu, morreu na cruz e ressuscitou, subiu ao céu, e de lá virá julgar os vivos e os mortos, segundo os seus méritos: “os que corresponderam ao Amor e à Misericórdia de Deus irão para a vida eterna; porém os que os tiverem recusado até a morte serão destinados ao fogo que nunca cessará. E o seu reino não terá fim” (itálico nosso). É a confirmação do inferno.

Pergunta-se: em que consiste, afinal, o inferno? – O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 212, responde: o inferno “consiste na condenação eterna daqueles que, por escolha livre, morrem em pecado mortal. A pena principal do inferno é a eterna separação de Deus, o único em quem o homem encontra a vida e a felicidade para que foi criado, e a que aspira. Cristo exprime esta realidade com as palavras: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno’ (Mateus 25,41)”.

Mais: como o inferno se concilia com a misericórdia de Deus? – A resposta não é difícil. Deus é infinitamente misericordioso; não tiranicamente misericordioso. Deu liberdade a cada ser humano. Ele pode usá-la bem ou mal. Daí se atribuir a Santo Agostinho de Hipona a sentença: “Aquele que te criou sem ti, não te salva sem ti”.

Quem está no inferno, além do diabo e seus anjos? – Impossível dizer. Em tese, todos os que morreram em pecado grave, mas, na prática, não se sabe até onde vai a misericórdia divina nos momentos extremos da vida de alguém ou quantos bons ladrões existem (cf. Lucas 23,42-43).

Eis os ensinamentos da Igreja sobre a dura realidade do inferno.

Vanderlei de Lima é eremita na Diocese de Amparo

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