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Papa ao Sínodo: não adotar soluções velhas para problemas novos

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Antoine Mekary | ALETEIA

Reportagem local - publicado em 10/10/21

Francisco alertou para o risco de transformar o Sínodo "numa espécie de grupo de estudo, com intervenções cultas mas alheias aos problemas da Igreja e aos males do mundo"

O Papa Francisco pediu que o Sínodo leve “a sério o tempo que vivemos” e não se distancie “da realidade do santo Povo de Deus, da vida concreta das comunidades espalhadas pelo mundo”.

Na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, o Papa deu início aos trabalhos do itinerário sinodal, intitulado «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão», o qual durará 3 anos e está articulado em 3 fases – diocesana, continental e universal.

“Se falta uma participação real de todo o Povo de Deus, os discursos sobre a comunhão arriscam-se a não passar de pias intenções”, disse o Papa Francisco.

O Papa reconheceu que “sente-se ainda uma certa dificuldade e somos obrigados a registar o mal-estar e a tribulação de muitos agentes pastorais, dos organismos de participação das dioceses e paróquias, das mulheres que muitas vezes ainda são deixadas à margem”. Segundo o pontífice, a participação de todos “é um compromisso eclesial irrenunciável”.

Riscos

O Papa disse que o Sínodo, ao mesmo tempo que proporciona uma grande oportunidade para a conversão pastoral, não está isento de alguns riscos.

O Santo Padre mencionou 3 riscos: formalismo, intelectualismo e imobilismo.

1. Formalismo

Pode-se reduzir um Sínodo a um evento extraordinário, mas de fachada, precisamente como se alguém ficasse a olhar a bela fachada duma igreja sem nunca entrar nela. Pelo contrário, o Sínodo é um percurso de efetivo discernimento espiritual, que não empreendemos para dar uma bela imagem de nós mesmos, mas a fim de colaborar melhor para a obra de Deus na história.

Assim – de acordo com o Papa –, “quando falamos duma Igreja sinodal, não podemos contentar-nos com a forma”.

Temos necessidade também de substância, instrumentos e estruturas que favoreçam o diálogo e a interação no Povo de Deus, sobretudo entre sacerdotes e leigos. Por que destaco isto? Porque às vezes há algum elitismo na ordem presbiteral, que a separa dos leigos; e, no fim, o padre torna-se o «patrão da barraca» e não o pastor de toda uma Igreja que está avançando. Isto requer a transformação de certas visões verticalizadas, distorcidas e parciais sobre a Igreja, o ministério presbiteral, o papel dos leigos, as responsabilidades eclesiais, as funções de governo, etc.

2. Intelectualismo

O segundo risco, do intelectualismo, refere-se à abstração, quando “a realidade vai para um lado e nós, com as nossas reflexões, vamos para outro”.

Transformar o Sínodo numa espécie de grupo de estudo, com intervenções cultas mas alheias aos problemas da Igreja e aos males do mundo; uma espécie de «falar por falar», onde se pensa de maneira superficial e mundana, acabando por cair nas habituais e estéreis classificações ideológicas e partidárias, e alheando-se da realidade do santo Povo de Deus, da vida concreta das comunidades espalhadas pelo mundo.

3. Imobilismo

O imobilismo, terceiro risco citado pelo Papa Francisco, refere-se ao “é melhor não mudar”.

Dado que «se fez sempre assim» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 33) – esta afirmação “fez-se sempre assim” é um veneno na vida da Igreja –, é melhor não mudar. Quem se move neste horizonte, mesmo sem se dar conta, cai no erro de não levar a sério o tempo que vivemos. O risco é que, no fim, se adotem soluções velhas para problemas novos: um remendo de pano cru, que acaba por criar um rasgão ainda maior (cf. Mt 9, 16). Por isso, é importante que o caminho sinodal seja verdadeiramente tal, que seja um processo em desenvolvimento; envolva, em diferentes fases e a partir da base, as Igrejas locais, num trabalho apaixonado e encarnado, que imprima um estilo de comunhão e participação orientado para a missão.

Tempo de graça

O Papa pediu então que se viva esta ocasião de encontro, escuta e reflexão como um tempo de graça.

“Sim, irmãos e irmãs, um tempo de graça – que nos ofereça, na alegria do Evangelho, pelo menos três oportunidades“, afirmou o Papa.

A primeira é encaminhar-nos, não ocasionalmente, mas estruturalmente para uma Igreja sinodal: um lugar aberto, onde todos se sintam em casa e possam participar. Depois o Sínodo oferece-nos a oportunidade de nos tornarmos Igreja da escuta: fazer uma pausa dos nossos ritmos, controlar as nossas ânsias pastorais para pararmos a escutar. Escutar o Espírito na adoração e na oração. Como sentimos falta da oração de adoração hoje! Muitos perderam não só o hábito, mas também a noção do que significa adorar. Escutar os irmãos e as irmãs sobre as esperanças e as crises da fé nas diversas áreas do mundo, sobre as urgências de renovação da vida pastoral, sobre os sinais que provêm das realidades locais.

Por fim, temos a oportunidade de nos tornarmos uma Igreja da proximidade. Sempre voltamos ao estilo de Deus: o estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. Deus sempre agiu assim. Se não chegarmos a esta Igreja da proximidade com atitudes de compaixão e ternura, não seremos Igreja do Senhor. E isto não só em palavras, mas com a presença, de tal modo que se estabeleçam maiores laços de amizade com a sociedade e o mundo: uma Igreja que não se alheie da vida, mas cuide das fragilidades e pobrezas do nosso tempo, curando as feridas e sarando os corações dilacerados com o bálsamo de Deus. Não esqueçamos o estilo de Deus que nos deve ajudar: proximidade, compaixão e ternura.

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