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Paquistão: “somos tratados como cidadãos de terceira”, diz cristão

Manifestation Pakistan

A Majeed / AFP

Des manifestants descendent dans la rue à Peshawar pour demander une meilleure protection suite à l'attentat suicide du 23 septembre 2013.

Reportagem local - publicado em 12/10/21

O abuso da Lei da Blasfêmia e a facilidade com que é possível acusar alguém deixam as minorias religiosas em constante estado de insegurança

No passado mês de Agosto, após oito anos no corredor da morte no Paquistão, Shagufta Kausar e o seu marido Shafqat Emmanuel, ambos acusados de blasfémia contra o Islão, receberam asilo num país europeu. Foram longos oito anos até se ter conseguido provar a inocência deste casal cristão, até se ter conseguido que o Tribunal Superior de Lahore anulasse a sentença de morte que pendia sobre eles. 

Para trás ficou uma batalha terrível em que diversas organizações da Igreja e de defesa dos direitos humanos, entre as quais a Fundação AIS, se baterem pela sua libertação, sabendo-se desde o primeiro momento que se tratava de um caso baseado numa acusação forjada.

Culpados

Em 2013, Shagufta Kausar e Shafqat Emmanuel viviam com os filhos na missão da Igreja de Gojra, no Punjab, quando algumas mensagens de texto com conteúdo considerado blasfemo foram enviadas a um clérigo local através de um telefone alegadamente registado em nome de Emmanuel. 

Apesar de reiteradamente se ter provado na Justiça de que ambos são analfabetos, que não sabem ler nem escrever, o Tribunal declarou-os culpados de blasfémia a 21 de julho de 2013. Era o início de um longo calvário que só terminou agora com o Supremo Tribunal a decretar a inocência de ambos.

Prisão

Durante todos estes anos, o casal foi defendido por Saiful Malook, o advogado que se notabilizou também na defesa de Asia Bibi, uma mulher cristã, mãe de cinco filhos e que foi também acusada falsamente de blasfémia por ter bebido um copo de água de um poço.

Asia Bibi esteve também cerca de oito anos na prisão, tendo sido libertada em 2018, após absolvição decretada pelo Supremo Tribunal do Paquistão. Hoje vive com a família exilada no Canadá pois as autoridades do seu país não conseguem garantir a sua segurança dadas as contínuas ameaças de morte que continuam a existir sobre si. 

Discriminação

Situação idêntica aconteceu agora com Shagufta Kausar e Shafqat Emmanuel. Para Joel Amir Sohatra, um antigo membro do Parlamento Provincial do Punjab e destacado militante cristão paquistanês, este é um caso que demonstra a discriminação a que está sujeita a comunidade cristã no seu país.

De passagem por Portugal, Amir Sohatra gravou uma mensagem de agradecimento por tudo o que foi feito no sentido da libertação do casal cristão. 

“Graças a Deus, o nosso irmão Emmanuel e a nossa irmã Kausar estão finalmente numa zona segura. Em nome da comunidade católica, gostaria de expressar a minha gratidão e agradecimento especial à União Europeia pelos seus esforços especiais, por aquilo que fez”, diz Amir Sohatra.

Situação dramática

Apesar de o casal cristão estar agora em segurança num país europeu, este caso revela “a discriminação” que atinge as minorias religiosas, e muito especialmente a “comunidade cristã do Paquistão que enfrenta a pior das situações”, diz ainda o antigo parlamentar. 

Joel Amir Sohatra agradece toda a ajuda demonstrada neste caso e mostra-se esperançoso de que, a partir de agora, “o mundo comece a entender o tipo de problemas que enfrentamos”. 

Lei da Blasfêmia

De fato, o abuso generalizado da chamada Lei da Blasfémia e a facilidade com que é possível acusar alguém, mesmo através de mentiras ou calúnias, é demonstrativo da insegurança em que se encontram as minorias religiosas no Paquistão.

Na mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, Joel Amir Sohatra refere esta situação e pede ajuda para as vítimas da Lei da Blasfémia.

“Peço, em nome da comunidade cristã paquistanesa e das minorias religiosas, que, pelo mundo inteiro, sobretudo na União Europeia, ergam por favor a vossa voz…” Para este dirigente, a situação que se vive no Paquistão “é péssima” e os cristãos estão a ser tratados “como cidadãos de terceira categoria…”

(Com AIS)

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