É relativamente frequente o compartilhamento de vídeos, nas redes sociais, em que passageiros aplaudem pilotos após aterrissagens seguras em circunstâncias complexas. E são aplausos merecidos: sinal de que tudo acabou bem e de que existe gratidão nas pessoas mesmo em situações de estresse, transtorno e, muitas vezes, prejuízos decorrentes dos atrasos.
Foi o que aconteceu na semana passada com um voo da British Airways que deveria ter durado 11 horas entre Londres e Hong Kong, mas só conseguiu pousar no destino após 36 horas.
Quando o avião se aproximava do aeroporto internacional Check Lap Kok, os fortes ventos provocados por um tufão na costa chinesa obrigaram aquele e vários outros voos a se desviarem para outros aeroportos. Segundo o site Aeroin, os pilotos britânicos fizeram duas tentativas frustradas de pouso e acabaram tendo que partir para Manila, nas Filipinas, onde pousaram cerca de uma hora e meia depois.
Tripulantes e passageiros, porém, ainda tinham outro problema para encarar: se desembarcassem, precisariam fazer quarentena conforme é exigido de todos os viajantes que entram nas Filipinas. Além disso, também teriam que sofrer as limitações de entrada em Hong Kong, aplicáveis a todos os passageiros procedentes das Filipinas.
Por isso, ninguém foi autorizado a desembarcar: enquanto aguardavam passar a tempestade tropical Lionrock, todos tiveram que passar mais uma longa noite dentro da aeronave parada no aeroporto. Só no meio da manhã seguinte, com melhores condições meteorológicas em Hong Kong, o avião conseguiu decolar.
A poucos metros do toque na pista, no entanto, os pilotos tiveram que abortar pela terceira vez a aterrissagem na cidade autônoma chinesa. Finalmente, na quarta tentativa, o pouso foi realizado com sucesso e os aplausos aos pilotos ressoaram entre os passageiros cansados, mas aliviados.
Os percalços, porém, ainda não tinham terminado. O jornal South China Morning Post informa que todos os ocupantes do avião ainda tiveram que esperar algumas horas no aeroporto de Hong Kong para que os seus testes de Covid-19 fossem analisados. Por fim, tiveram também que aguardar mais um tempo não previsto até que lhes fossem providenciadas novas instalações de quarentena, porque as reservas originais nos hotéis especificamente dedicados a essa finalidade tinham sido canceladas devido ao longo atraso do voo.
É uma sequência de situações exasperantes que, compreensivelmente, poderia ter deixado todos os viajantes muito irritados. Não foi o que se registrou: eles entenderam o que aconteceu e optaram por demonstrar mais alívio e gratidão aos pilotos do que vitimismo e raiva das circunstâncias.
É o tipo de atitude prosaica que merece ser reconhecida e compartilhada, em especial neste período de tão intensa provação para a paciência da humanidade.