A irmã Shahnaz Bhatti foi uma das freiras que ajudaram a tirar 14 crianças deficientes do Afeganistão no último minuto: de fato, o grupo conseguiu partir no último voo que decolou de Cabul para a Itália no final de agosto, dias após a retomada do poder pelos talibãs.
A religiosa, que é natural do Paquistão e pertence à congregação das Irmãs da Caridade de Santa Joana Antida Thouret, trabalhava no Afeganistão desde 1999, com a missão pastoral de dar "assistência espiritual e material aos pobres", conforme ela própria declarou à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre.
A religiosa havia chegado antes mesmo da ocupação norte-americana iniciada em reação aos atentados de 11 de setembro de 2001. De fato, a irmã Shahnaz relata que, quando chegou ao país, era forçada a contar com o acompanhamento de um homem nativo para qualquer saída que tivesse de fazer às ruas, além de não poder usar o crucifixo nem o hábito, já que era obrigada a se vestir como uma mulher local.
Sobre a situação das mulheres em geral, ela descreve:
"Dava uma dor indescritível ver as jovens obrigadas a se casar com o homem indicado pelo chefe de família, contra a sua vontade".
A comunidade, na época, era formada por apenas três religiosas, cada uma de uma congregação: além da própria irmã Shahnaz, estavam a irmã Teresia, da congregação de Maria Bambina, e a irmã Irene, da congregação das irmãs da Consolata. Todas se viram forçadas a ir embora de Cabul em agosto deste ano, durante a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, dentro do prazo-limite imposto pelos talibãs.
A irmã Shahnaz relata:
"Estávamos trancadas em casa e tínhamos medo. Fazia mais de um ano que éramos somente duas. Mas foi possível. A religiosa que me acompanhava teve que partir e eu fiquei sozinha até o final. Ajudei as irmãs da Madre Teresa, nossas vizinhas, a saírem com suas 14 crianças gravemente deficientes e sem família e a embarcarem no último voo para a Itália antes dos atentados. Se eles não tivessem sido resgatados, não teríamos partido".
Entretanto, nem todos os familiares das crianças deficientes do Afeganistão atendidas pelas religiosas puderam partir com elas do país. As famílias que tiveram de continuar no Afeganistão "continuam nos ligando e pedindo ajuda", relata a freira paquistanesa, agora na Itália.
Em 2001, a congregação da irmã Shahnaz havia aderido ao projeto "Salvem as Crianças de Cabul", inspirado num apelo do Papa São João Paulo II e posto em prática por um consórcio de congregações católicas. Ela conta:
"Abrimos uma escola para crianças com deficiência mental e síndrome de Down, de 6 a 10 anos, que preparávamos para entrarem no sistema escolar público. Professores, cuidadores e cozinheiras afegãs trabalhavam conosco. Graças à ajuda das autoridades italianas, conseguimos trazer esses colaboradores à Itália com as suas quinze famílias. Eles foram recebidos por congregações religiosas muito generosas e acolhedoras".
A irmã manifestou a sua gratidão ao Ministério das Relações Exteriores da Itália e à Cruz Vermelha Internacional pela escolta para chegar ao aeroporto de Cabul em meio ao caos instaurado na capital. Também agradeceu ao pe. Giovanni Scalese, responsável pela missão católica no Afeganistão, por "ter permanecido conosco até que fomos embora".