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3 padres que lutaram contra a paranoia da caça às bruxas

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Caryn Rivadeneira - publicado em 18/10/21

E eles fizeram isso com um risco considerável para si mesmos

À medida que o Halloween se aproxima, muitas pessoas nos EUA se divertirão se vestindo de bruxa. Mas, fora das festividades do Halloween, não há nada agradável em ser rotulada como uma bruxa.

Quando o medo e a obsessão contra a bruxaria se espalharam por toda a Europa no final do século XVI e início do século XVII, milhares de pessoas se viram falsamente acusadas de serem bruxas e, em consequência disso, foram submetidas a tortura e execução.

Na vanguarda do combate a essa paranóia letal estavam três padres que alegavam que a maioria das “bruxas” eram na verdade vítimas infelizes que acabavam enfrentando uma morte horrível devido a acusações infundadas.

1. Pe. Cornelius Loos

Nascido em 1546 na cidade holandesa de Gouda, Cornelius Loos veio de uma família distinta que teve de deixar sua cidade natal em meio a hostilidades anticatólicas. Ele foi ordenado sacerdote depois de se formar na Universidade de Lovaina. Mais tarde, ele obteve um doutorado em teologia pela Universidade de Mainz, onde também atuaria como professor.

Em meados da década de 1580, Loos se mudou para Trier, uma cidade da Alemanha Ocidental mergulhada na histeria de caça às bruxas. Anos consecutivos de colheitas ruins na região apresentaram a necessidade de um bode expiatório. Logo, as pessoas ficaram preocupadas em rastrear as “bruxas”.

Como um observador do período descreveu, “de tribunal em tribunal, em todas as cidades e aldeias da diocese, atuaram acusadores, inquisidores, notários, jurados e juízes, arrastando para julgamento e torturando seres humanos de ambos os sexos e queimando-os em grande número”.

Quase ninguém acusado de bruxaria em Tréveris escaparia desse destino terrível, e a intensidade foi tão grande que até mesmo pessoas de influência política foram vítimas. Ao mesmo tempo, um certo segmento da população – como notários, interrogadores e carrascos – lucrava consideravelmente com o ciclo de acusações arbitrárias e punição agonizante.

Consternado com o que viu, Loos se esforçou para publicar um manuscrito, De vera et falsa magia (Magia Verdadeira e Falsa), criticando os caçadores de bruxas. Quando a notícia de seu manuscrito circulou, ele foi encarcerado antes que seu o livro pudesse ser publicado.

O padre preso sabia que a caça às bruxas era uma farsa perigosa, e procurou apontar que as confissões feitas sob tortura não eram inerentemente confiáveis. É claro que muitas pessoas hoje em dia concordariam, mas naquela época, mesmo considerar em particular tal ponto de vista exigia alguma independência genuína de pensamento, e expressar tal ponto de vista exigia coragem fora de série.

Como seus pontos de vista eram impopulares na época, Loos se veria coagido a retratar suas declarações sobre a caça às bruxas. Ele finalmente obteve sua libertação da prisão, mas as autoridades o colocaram sob vigilância contínua (e o prenderam novamente em várias ocasiões) pelo resto de sua vida. Ele morreu vítima da peste, em 1595, em Bruxelas.

2. Pe. Alonso de Salazar Frías

Conhecido como “defensor das bruxas”, Alonso de Salazar Frías nasceu em uma família de alto escalão na cidade de Burgos, no norte da Espanha, em 1564. Ele se formou em direito canônico pela Universidade de Salamanca e pela Universidade de Siguenza. Além de se tornar padre, ele teve uma carreira de sucesso como advogado e, eventualmente, ocupou o cargo de “inquisidor”.

Embora os inquisidores tendam a ter uma má reputação, Salazar Frías conseguiu desempenhar muito bem esse papel. Especificamente, ele defendia que as acusações de bruxaria deveriam exigir provas, e não apenas confiar em confissões coagidas.

Em uma observação que captura a barbárie absurda do período, Salazar Frías afirmou uma vez: “Não encontrei uma única prova nem mesmo a menor indicação para inferir que um ato de bruxaria realmente ocorreu”.

Devido à sua influência, muitas pessoas na Espanha dos séculos XVII e XVIII conseguiram sair ilesas de acusações de bruxaria.

3. Pe. Friedrich Spee

Friedrich Spee (muitas vezes referido como Friedrich von Spee) nasceu na cidade alemã de Dusseldorf em 1591. Ele ingressou na Ordem dos Jesuítas aos 19 anos e – após um longo período de estudo e ensino – tornou-se sacerdote. Ele se tornou professor na Universidade de Paderborn.

Spee escreveu dezenas de hinos religiosos amplamente divulgados, mas seu trabalho mais influente foi Cautio Criminalis (publicado em 1631, sem seu nome), que mostrava os cruéis abusos de justiça que ocorriam nos julgamentos de bruxaria. Uma das declarações mais marcantes do livro é: “A tortura tem o poder de criar bruxas onde nenhuma existe”.

A Cautio Criminalis era tão altamente considerada que até mesmo os protestantes (em uma era não muito distante da Reforma) se esforçaram para divulgá-la. O benefício humanitário urgente do livro superou qualquer rivalidade religiosa.

Embora o trabalho de Spee tenha despertado consciências, a prática de acusar as “bruxas” estava tão enraizada que erradicação-la levaria muitos anos.

Enquanto isso, Spee serviu como professor e padre em Colônia, antes de se mudar para Trier. Lá, em meio ao tumulto da Guerra dos Trinta Anos, ele atendeu soldados feridos. Enquanto realizava este serviço em 1635, ele contraiu a peste e morreu aos 44 anos.

Spee, junto com Frías e Loos, conheciam a triste verdade: longe de serem demoníacas, muitas das supostas “bruxas” eram inocentes condenadas a um destino terrível. 

Embora as pessoas nos países ocidentais estejam inclinadas a ver a caça às bruxas como pertencente ao passado, tais práticas persistiram até os dias atuais em várias partes do mundo. Afinal, muitos ainda buscam bodes expiatórios.

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