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Celibato produz pedófilos?

Padre

LightField Studios | Shutterstock

Francisco Vêneto - publicado em 20/10/21

Este mesmo sofisma poderia ser usado para alegar que a homossexualidade também os produz: seria justo?

O celibato produz pedófilos? É muito frequente ouvir conversas de boteco nas quais os hediondos crimes de abuso sexual perpetrados por clérigos católicos são usados para atacar o celibato e atribuir a ele a suposta “causa” dessas aberrações.

Será mesmo?

É até compreensível que pessoas desinformadas e com pobres ou nulas noções de silogismo aventem uma relação de causa-efeito entre a abstenção sexual a que se comprometem os padres católicos e os grotescos desvios sexuais verificados entre uma parcela do clero – cerca de 3%, no caso dos bandidos presentes entre os clérigos franceses, conforme o recente relatório que chocou a França e o planeta ao estimar em cerca de 3 mil os criminosos ligados à Igreja que perpetraram esses abusos no país entre 1950 e 2020.

O que não é compreensível é que uma suposta relação de causa-efeito entre celibato e desvios sexuais seja afirmada por alegados “peritos”, como os que costumam ser consultados pela assim chamada “grande mídia” a fim de, alegadamente, “explicar” os fatos à parcela da população que ainda se presta a lhes dar ouvidos.

Celibato produz pedófilos?

Para começo de conversa, o mais completo e abrangente relatório já feito sobre o assunto na França (esse mesmo que gerou merecida convulsão mundial no começo deste mês) estimou que 3% dos religiosos que viveram no país ao longo dos últimos 70 anos cometeram esses crimes abomináveis. Isto quer dizer que não se encontrou indício de que os outros 97% os tenham cometido. Como então o celibato poderia ser apontado seriamente como a causa desses desvios criminosos?

E há mais quantificações polêmicas a serem consideradas: constatou-se também, neste e em outros relatórios, que a maior parte dos casos de abusos sexuais perpetrados por bandidos de batina foi contra vítimas do seu mesmo sexo. Por acaso este fato seria suficiente para fundamentar de modo sério uma generalizante acusação de que a causa desses abusos teria sido a homossexualidade desses clérigos?

Aliás, qual seria o tamanho da indignação em nossa sociedade se alguém acusasse a homossexualidade de ser causa de abusos sexuais e pedofilia? O que diria a sociedade? Deveria dizer, e com razão, que se trata de uma generalização injusta – mesmo quando se observa que, de fato, a maior parte dos casos de abusos sexuais perpetrados por bandidos de batina foi contra vítimas do mesmo sexo.

E se é plausível supor que haveria uma explosão de indignação na mídia contra quem traçasse uma relação generalizante de causa-efeito entre a homossexualidade e a pedofilia, também é justo questionar onde é que se esconde essa mesma indignação quando uma extrapolação igualmente fuleira pontifica que o celibato produz pedófilos. Por que uma indignação tão seletiva?

Argumente-se com fatos e com honestidade

As pessoas têm pleno de direito de questionar o celibato obrigatório dos padres católicos – e não faltam no próprio clero aqueles que o debatem e propõem a sua “revisão”, inclusive porque o celibato não é dogma de fé e sim disciplina da Igreja e conselho evangélico a quem se sinta apto a abraçá-lo. O que se espera dos questionadores é apenas que os seus argumentos sejam honestos.

É desonesto atribuir ao celibato a causa dos abusos sexuais perpetrados por 3% dos clérigos, assim como seria generalizante atribuir a causa dos mesmos abusos à homossexualidade desses bandidos.

Entre os vários estudos que refutam a suposta correlação entre celibato e abuso sexual está o livro “O celibato“, do bispo dom Juan María Uriarte. “Ah, mas ele é bispo”. Sim, ele é bispo, é doutor em Psicologia e fundamenta em sólidos alicerces científicos a tese de que a causa desses crimes clamorosos não está no voto de castidade, mas sim numa “grande deficiência do desenvolvimento sexual e afetivo do sujeito”.

A propósito: a causa de algumas generalizações, frequentemente, também.

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