A "liberdade" daqueles que só querem “fazer o que apetece” é uma "liberdade vazia, uma liberdade de circo: não funciona"
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O Papa Francisco afirmou ontem que uma pessoa só é verdadeiramente livre quando consegue se colocar a serviço dos demais.
Em sua catequese semanal com os peregrinos na Sala Paulo VI, o Papa alertou contra a concepção modernas de liberdade que afirma que “a minha liberdade termina onde começa a tua”. “Trata-se de um conceito individualista, onde falta a dimensão comunitária”, disse.
Liberdade não é libertinagem
Falando mais uma vez sobre a Carta aos Gálatas, o Papa explicou que a liberdade não é um modo libertino de viver, segundo a carne, ou segundo o instinto, desejos individuais e impulsos egoístas.
Pelo contrário, a liberdade de Jesus leva-nos a estar – escreve o Apóstolo – «ao serviço uns dos outros». Mas é isto escravidão? Sim, a liberdade em Cristo contém alguma “escravidão”, alguma dimensão que nos leva ao serviço, a viver para os outros. Em síntese, a verdadeira liberdade é plenamente expressa na caridade. Mais uma vez encontramo-nos perante o paradoxo do Evangelho: somos livres para servir, não para fazer o que queremos. Somos livres quando servimos, e é disto que vem a liberdade; encontramo-nos plenamente na medida em que nos doamos. Encontramo-nos plenamente na medida em que nos doamos, em que temos a coragem de nos doar; possuímos a vida se a perdermos. Isto é Evangelho puro!
Mas como se pode explicar este paradoxo?
Segundo o Papa, a resposta do Apóstolo a essa pergunta é simples e exigente: «mediante o amor» (Gl 5, 13).
Não há liberdade sem amor. A liberdade egoísta do fazer o que quero não é liberdade, pois volta a si mesma, não é fecunda. Foi o amor de Cristo que nos libertou e é ainda o amor que nos liberta da pior escravidão, a do nosso ego; por conseguinte, a liberdade cresce com o amor. Mas, atenção: não com o amor intimista, com o amor das novelas, não com a paixão que simplesmente procura o que nos convém e aquilo de que gostamos, mas com o amor que vemos em Cristo, a caridade: este é o amor verdadeiramente livre e libertador. É o amor que resplandece no serviço gratuito, modelado segundo o de Jesus, que lava os pés aos seus discípulos, dizendo: «Dei-vos um exemplo para que também vós façais como Eu vos fiz». Servir uns aos outros.
“Liberdade de circo”
Portanto – prosseguiu o Papa –, para Paulo a liberdade não significa “fazer o que apetece”.
Este tipo de liberdade, sem finalidades nem referências, seria uma liberdade vazia, uma liberdade de circo: não funciona. E com efeito deixa um vazio interior: quantas vezes, depois de termos seguido apenas o nosso instinto, nos damos conta de que sentimos um grande vazio interior e que abusamos do tesouro da nossa liberdade, da beleza de poder escolher o verdadeiro bem para nós mesmos e para os demais. Só esta liberdade é plena, concreta, dado que nos insere na vida real de cada dia. A verdadeira liberdade liberta-nos sempre; ao contrário, quando buscamos a liberdade do “aquilo de que gosto e não gosto”, no final permanecemos vazios.
Regra para desmascarar a liberdade egoísta
O Papa ofereceu então uma regra para desmascarar qualquer tipo de liberdade egoísta.
«Ninguém procure o próprio interesse, senão os dos outros» (1 Cor 10, 23-24). Esta é a regra para desmascarar qualquer liberdade egoísta. Também àqueles que são tentados a reduzir a liberdade apenas aos próprios gostos, Paulo apresenta a exigência do amor. A liberdade guiada pelo amor é a única que liberta os outros e nós mesmos, que sabe ouvir sem impor, que sabe amar sem forçar, que constrói e não destrói, que não explora os demais para a sua conveniência e que pratica o bem sem procurar o próprio benefício. Em suma, se a liberdade não estiver ao serviço – eis o teste – se a liberdade não estiver ao serviço do bem, corre o risco de ser estéril e de não dar frutos.
Não ao individualismo
O Papa disse também que a dimensão social é fundamental para os cristãos, dado que lhes permite olhar para o bem comum e não para o interesse particular.
Sobretudo neste momento histórico, temos necessidade de redescobrir a dimensão comunitária, não individualista, da liberdade: a pandemia ensinou-nos que precisamos uns dos outros, mas não é suficiente sabê-lo, devemos escolhê-lo concretamente todos os dias, decidir empreender aquele caminho. Digamos e acreditemos que os outros não são um obstáculo para a minha liberdade, mas constituem a possibilidade de a realizar plenamente. Pois a nossa liberdade nasce do amor de Deus e cresce na caridade.