Sandra Sabattini, a primeira noiva em processo de canonização na história da Igreja, foi beatificada em 24 de outubro de 2021 pelo cardeal Marcello Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
O cardeal presidiu a Santa Missa de beatificação na Basílica Catedral de Santa Colomba, em Rímini, cidade italiana onde nasceu em 19 de agosto de 1961 a jovem que partiu deste mundo em 1984, aos 22 anos de idade, atropelada por um carro em alta velocidade.
A jovem leiga se preparava para o sacramento do matrimônio com Guido Rossi quando sofreu o atropelamento e, infelizmente, não resistiu. Ela e o futuro esposo pretendiam mudar-se para a África a fim de fundar uma comunidade católica a serviço dos “últimos entre os últimos”.
Primeira noiva em processo de canonização na história da Igreja
Quando Sandra tinha 4 anos, sua família se transferiu para a casa paroquial de San Girolamo, cujo pároco, o pe. Giuseppe Bonini, era irmão de sua mãe. Adolescente, Sandra passou a manter um diário pessoal a partir de janeiro de 1972. Três anos depois, conheceu o padre Oreste Benzi, fundador da Comunidade Papa João XXIII, e seu carisma de servir aos “últimos da sociedade”. A jovem tornou-se parte da comunidade. Foi o pe. Oreste, aliás, quem começou a promover a causa de beatificação de Sandra.
A jovem cursava Medicina e, como voluntária, atendia pessoas doentes. Além disso, todos os dias rezava o terço e meditava sobre a Palavra de Deus, alimentando uma profunda vida espiritual. Na virada de cada ano, costumava fazer oração da meia-noite à 1h da manhã perante o Santíssimo Sacramento.
A jovem tinha 20 anos quando conheceu Guido Rossi, que tinha os mesmos propósitos de Sandra. Guido e ela noivaram. Em 29 de abril de 1984, os noivos se dirigiam a mais um encontro da Comunidade Papa João XXIII. Quando Sandra desceu do carro e aguardava para atravessar a rua, um veículo que vinha na direção contrária a atropelou. Ela foi rapidamente socorrida e levada a um hospital de Bolonha, mas não pôde resistir às consequências do impacto brutal e entregou a alma a Deus no dia 2 de maio.
"Eu vivo por um milagre"
Em 19 de julho de 2007, um homem italiano de 41 anos, Stefano Vitali, viu-se curado inexplicavalmente de um câncer em metástase, após ter rezado por intercessão de Sandra. Ele relatou a sua história no livro “Eu vivo por um milagre”, publicado em italiano e ainda sem tradução oficial para o português.
O testemunho de Stefano foi bastante divulgado. Em uma das entrevistas, ele afirmou que a sua cura não foi somente física, mas principalmente espiritual, já que o exemplo de vida de Sandra lhe apontou “o caminho para alcançar a serenidade e realizar a minha vocação”.
E completou, a respeito da primeira noiva em processo de canonização na história da Igreja:
“Se ela conseguiu isto comigo, que sou teimoso, mais ainda conseguirá com tantos que vierem a encontrá-la no futuro”.
“Ícone de santidade verossímil”
O bispo de Rimini, dom Francesco Lambiasi, testemunha sobre Sandra Sabattini:
“Ela é uma figura que pode ser apontada como um ícone de santidade verossímil e atraente, que está do nosso lado: não são necessárias experiências excepcionais de compromisso ascético ou de contemplação mística.
Tudo de que a nossa querida Sandra precisava era do tecido de uma vida comum, costurado com a fé viva, sustentada por uma oração intensa e extensa. Uma vida dedicada ao cumprimento feliz e fiel do seu dever, pontuada por pequenos gestos de amor levados ao extremo, na amizade apaixonada com o Cristo pobre e servidor, no generoso e incansável serviço em favor dos pobres.
Depois de conhecer Jesus de modo pessoal, ela não podia mais deixar de amá-Lo, centrar-se n’Ele, viver para Ele, na Igreja”.
O amor de Deus é um mar "sem fundo e sem margens"
Na homilia da Missa de beatificação, o cardeal Semeraro recordou uma ocasião em que Sandra relatara à mãe a experiência de servir às pessoas com deficiência na Comunidade Papa João XXIII. A então adolescente de 13 anos afirmou:
"Demos tudo de nós. São pessoas que eu nunca vou abandonar".
O cardeal comentou, observando que o desejo de Sandra de servir aos pobres era fruto do amor sem limites de Deus, em cujo mar "sem fundo e sem margens" ela "havia mergulhado o coração":
"Amar é carregar o sofrimento do outro".