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Se “a Igreja somos nós”, qual é a necessidade dos edifícios da Igreja?

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Espirat — Travail personnel I CC BY-SA 4.0

Chapelle Notre-Dame-du-Chêne.

Reportagem local - publicado em 28/10/21

Padre responde à "comum objeção protestante quanto ao templo católico"

Se “a Igreja somos nós”, qual é o significado dos edifícios da Igreja? Esta pergunta, que aparece com relativa frequência, foi respondida pelo pe. Luis Fernando, da paróquia Nossa Senhora das Graças, em Itumbiara, GO. O sacerdote explicou mediante um texto publicado em sua rede social:

“É comum a objeção protestante quanto ao templo católico. Afirmam a absoluta invisibilidade da Igreja – a Igreja somos nós – e a não necessidade de um lugar, um local sacro para o culto a Deus, uma vez que o verdadeiro culto é interior, em espírito e em verdade, como disse Jesus no Evangelho de João.

‘Na realidade da fé cristã ainda podem existir lugares particulares e tempos santos? O culto cristão não seria liturgia cósmica que abraça o céu e a terra? O mundo inteiro não seria, talvez, o seu santuário? A santidade não se realiza na vida vivida segundo a justiça? Haveria que se ter um ‘lugar santo’? Pode haver uma sacralidade diferente daquela do seguimento do Cristo, na sóbria paciência da vida cotidiana? Um tempo sacro, diferente do tempo do amor vivido para o próximo, quando e onde as circunstâncias da nossa vida o exigirem?’ (Cf. Introdução ao espírito da liturgia, pg. 47). Essas perguntas foram retiradas da obra do Cardeal Ratzinger, Introdução ao espírito da liturgia, e são pertinentes face ao questionamento protestante. Vou escrever aqui um pequeno resumo desta parte da obra que, espero, possa ajudar aos irmãos.

Mesmo os críticos da sacralidade do templo-igreja admitem que o edifício tem pelo menos a função de possibilitar o encontro litúrgico. E é justamente isso que difere os edifícios da Igreja dos templos das religiões naturais ou antigas. Os templos das religiões antigas eram recintos para a divindade. No templo de Jerusalém apenas o Sumo Sacerdote entrava no Santo dos Santos, uma vez ao ano, para oferecer o sangue do Cordeiro pascal. Ninguém, exceto ele, podia entrar ali”.

Se “a Igreja somos nós”, qual é a necessidade dos edifícios da Igreja?

O pe. Luis Fernando prosseguiu:

“O local de culto dos cristãos já nasceu diferente. O lugar onde as famílias tomavam a refeição se tornou o local de reunir os cristãos para a oração, conforme o livro de Atos. Ali haviam mulheres – que no templo de Jerusalém eram proibidas de entrar -, crianças igualmente proibidas no templo, homens de todas as raças. Imaginemos a comunidade da cidade portuária de Corinto. Nela poderia haver cristãos vindos de toda parte e todos tomavam parte na eucharistia e na ágape.

O fato de que entre os cristãos o seu edifício de culto a partir do século IV tenha se denominado de ‘domus ecclesiae’ (casa da igreja, literalmente) e de que o termo ‘Igreja’ designe não só o povo reunido (ecclesia = congregação), mas também o edifício feito para a liturgia, manifesta outra concepção: ‘o culto é celebrado pelo próprio Cristo em seu estar perante o Pai; é Ele o culto dos seus no momento em que eles se reúnem com Ele e em torno d’Ele’. Diferença brutal para os templos pagãos. Aqui os discípulos estão com o Mestre, os resgatados com o seu go’el, os salvos com o seu salvador. Lá apenas o Sumo Sacerdote que oficiava o culto entrava na presença da divindade.

A reunião do povo de Israel para o culto deu-se primeiro na tenda da reunião, depois no templo construído por Salomão. Nele ficava a Arca da Aliança, no recinto denominado santo dos santos, que era guardado por uma pesada cortina – ou véu. A arca era ornada com dois querubins encimando a sua tampa. Com a diáspora, a dispersão, construíram-se sinagogas (synagogé-ekklesía = povo reunido) que não eram apenas lugares para aprender a lei, afirma Ratzinger, mas constituíam a continuidade, em certa medida, do culto no templo do qual os judeus da diáspora não podiam participar.

O edifício cristão será o lugar do culto em espírito e em verdade com os sinais da encarnação, da paixão, da glorificação e da parusia do Filho de Deus. Será o lugar para reunir os redimidos que celebram a liturgia do amor no tempo, mas olham para a eternidade; que cantam os louvores do Senhor no tempo, a fim de cantá-los na eternidade.

Outra objeção é aquela de natureza mais abstrata: Deus está em todos os lugares. Qual a necessidade de se olhar para uma cruz? Por que não olhar o homem, imagem e semelhança de Deus, que nos lembra o Criador? Todavia, a semelhança do ser humano com o Criador não é algo óbvio de se notar, nem se pode fotografar, pois não se trata da aparência física: nota-se somente por suas virtudes mais excelsas, como a verdade, a humildade interior, o amor, a bondade, a sinceridade.

Deus certamente está em todos os lugares e todas as pessoas foram feitas à Sua imagem e semelhança; todavia, Ele mesmo usou sinais que indicam Sua presença que, em virtude do pecado e de má conduta, pode ser escondida no homem. Desde a revelação aos patriarcas e profetas até ao próprio Jesus, a presença de Deus precisou de sinais para ser compreendida: a arca da aliança, a água e o vinho, o pão, o óleo etc. O sinal do Filho do Homem é a cruz e o sinal do Cristo que vem é o sinal cósmico do sol. Estes são alguns dos sinais que constituem o fazer litúrgico e lhe dão sentido e significado para os que oram a um Deus que ultrapassa o espaço e o tempo, mas que se deixa encontrar por meio desses pobres sinais.

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