Frequentemente encontramos, nos tempos atuais, um clima de animosidade entre os cristãos e a imprensa. Vivemos numa sociedade onde a mentalidade hegemônica não é católica. Pelo contrário, é até anticatólica. Jornais e jornalistas estão imersos nessa cultura e a reproduzem, mas temos muitas vezes a impressão de que eles são seus proponentes, enquanto, na maioria dos casos, são apenas parte dela. Além disso, algumas vezes temos a tendência de “culpar o mensageiro pelas más notícias”, supondo que, em artigos sobre a Igreja, os autores reverberam os fatos negativos e se calam quanto aos positivos.
A lógica dos jornais e dos jornalistas
Jornalistas não têm nenhum privilégio especial que os torne imunes a ideologias, nem têm uma lepra ideológica que os torne mais suscetíveis do que os demais. Eles, porém, têm mais informação do que a maioria das pessoas, por uma questão óbvia de dedicação à investigação, e o poder, até o dever, de divulgar essas informações. Num mundo marcado pelo pecado, terão sempre muitas más notícias para divulgar.
Todos compartilhamos – mesmo que nem sempre nos demos conta disso – da convicção de que é muito importante alertar os outros sobre erros e perigos, dando menos destaque a coisas boas. Assim, frequentemente os jornalistas se tornam divulgadores de maus feitos, dando poucas boas notícias. Um dos diferenciais dos grupos de pressão mais influentes é justamente a capacidade de propor as informações que lhes são favoráveis, rompendo essa lógica de divulgar principalmente más notícias.
As empresas jornalísticas têm uma lógica um pouco diferente daquela de seus jornalistas. Vivem do quanto arrecadam com vendas, propaganda e outros aportes. Os grandes jornais se orientam por interesses comerciais. Procuram aquilo que atrai a atenção de seu público. Um político preso com dinheiro na cueca, por exemplo, atrairá a atenção dos leitores, não importa qual seja seu partido e sua afinidade ideológica com o jornal. Isso pode levar a verdadeiros linchamentos midiáticos; mas também é verdade que todo culpado, quando é descoberto, se diz inocente e injustamente acusado pela mídia.
Nenhum veículo de comunicação é totalmente isento, mas os grandes jornais concorrem entre si para ver quem é o mais idôneo e bem-informado. Isso gera uma certa fiscalização mútua e dá para os grandes veículos uma credibilidade maior do que a da imprensa partidária – ainda que o número crescente de notícias falsas ou distorcidas tem gerado, entre nós, leitores, uma insegurança cada vez maior quanto a veracidade do que está sendo noticiado.
Existem algumas ações que nos protegem de notícias falsas. Por exemplo, procurar veículos com posições diferentes antes de acreditar numa informação duvidosa – e isso não é tão difícil com as facilidades atuais da internet. Notícias como aquelas divulgadas em redes sociais, sem referência à fonte original e à data de publicação, são sempre duvidosas. Quando ficamos sabendo de um fato escandaloso, envolvendo pessoas relativamente importantes, é bom sempre verificar se não existem desmentidos ou explicações. Gostemos ou não do que lemos, as seções “Fato ou Fake”, comuns em vários grandes jornais, têm que ser confiáveis, ou rapidamente perderiam sua credibilidade.
A influência dos grupos ideológicos
É fato que muitos influenciadores e ideólogos se tornam jornalistas para propagarem melhor suas ideias, mas são uma parcela muito menor das redações do que imaginamos. São, talvez, muito convincentes – mas justamente aí é que surge nosso primeiro problema: uma posição anticatólica não será superada simplesmente por demonizarmos os jornalistas em geral, mas sim pela nossa capacidade de mostrar a todos, jornalistas e não jornalistas, a verdade sobre o que é o cristianismo.
O verdadeiro manipulador de consciências (que muitas vezes não é nem mesmo uma pessoa em particular, mas uma tendência que vai se estabelecendo na história) exerce sua influência convencendo as pessoas que devem ter certas convicções e responsabilidades sociais, que acabam funcionando como filtros que orientam como as notícias devem ser comunicadas. Esse convencimento é muito mais genérico e amplo do que os interesses ideológicos ou comerciais dos jornais, pois acaba sendo compartilhado por todos.
Mostrar que uma notícia é falsa, com dados e argumentos comprovados, é útil. Já é pouco produtivo querer combater grupos de influência atacando os jornalistas e os jornais ou mesmo denunciando os disseminadores de fake news. Quando confrontadas, as pessoas influenciadas por aquela posição tendem a ficar ainda mais obstinadas com suas ideias preconcebidas, como todos nós já constatamos alguma vez.
A estratégia justa
O que fazer quando somos vítimas de ideologias e mentiras difundidas pelas mídias sociais? O embate direto normalmente faz com que nos tornemos iguais a nossos acusadores. Muitos cristãos, por se acharem vítimas de ataques mentirosos, começam a relativizar a própria verdade. Passam a ser determinados por uma lógica pragmática na qual justificam certos “deslizes” ideológicos como uma necessidade para enfrentar o adversário. Mas esse não é um caminho cristão.
Numa passagem já citada aqui, Bento XVI explica o sentido justo de “dar a outra face” (cf. Lc 6, 29) quando somos atacados. Significa, diz ele, “responder ao mal com o bem (cf. Rm 12, 17-21)”. Influenciadores e ideólogos não conquistaram corações e mentes acusando os adversários, mas mostrando o quanto seus correligionários eram bondosos e sofredores. Algumas vezes, essa bondade e esses sofrimentos eram reais, em outros casos não, mas esse é o mecanismo de convencimento utilizado.
Para que o cristianismo não seja cada vez mais perseguido e caluniado, nós, cristãos, temos que mostrar a bondade e o amor de Deus que experimentamos e que queremos compartilhar no mundo. O único cuidado, nesse caminho, é percebermos que não fazemos isso por uma estratégia político-cultural, como aquela praticada por muitos, mas por um desejo real de bem. Afinal, mesmo que conseguíssemos convencer aos demais com fingimentos, de que nos valeria ganhar o mundo se perdessemos a própria alma (cf. Mc 8, 36)?