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O metaverso e seus possíveis impactos na prática da fé

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Ricardo Sanches - publicado em 01/11/21

De que forma a revolução na maneira como interagimos com o mundo pode influenciar em nossa relação com o sagrado?

Você já deve saber: a Facebook Company (empresa que controla a rede social homônima, além do Instagram e WhatsApp) mudou de nome, passando a se chamar “Meta”. A nova marca é uma clara referência ao metaverso.

O próprio CEO da empresa, Mark Zuckerberg, já havia se referido ao termo e à estratégia em entrevista ao site “The Verge”. Ele também já adquiriu uma empresa de produção de óculos de realidade virtual, uma tecnologia que pode ser primordial para o desenvolvimento do que será o futuro da internet.

O que é metaverso? 

Embora a ideia não seja nova (já esteve presente em filmes e livros de ficção científica dos anos 1990), o conceito de metaverso é um tanto quanto abstrato e ainda está em construção. 

O que se sabe, entretanto, é que será um ambiente virtual marcado por uma nova forma de relacionamento com os mundos real e virtual. Tudo passará a ser “ainda mais real”, embora virtualmente.

Por exemplo: antigamente, para assistir à Missa, as pessoas precisavam ir a uma igreja e permanecer lá fisicamente. Depois, tiveram a oportunidade de acompanhar a celebração pelo rádio. Mais tarde, pela TV. E, agora, podem assistir por streaming. O próximo passo é o metaverso. 

Assim, ao que tudo indica, assistiremos à Missa, nos relacionaremos com as pessoas (próximas ou distantes), faremos compras, estudaremos, jogaremos videogames e veremos filmes não mais através de uma simples tela. O metaverso será uma fusão das telas com outros softwares, aplicativos e devices, como óculos de realidade virtual, realidade aumentada e dispositivos “vestíveis”, como relógios, roupas, avatares. 

E de que forma essa revolução na maneira como interagimos como o mundo vai impactar na nossa relação com o sagrado? Será que o metaverso também vai mudar o modo como praticamos a nossa fé em Deus? 

Metaverso e religião

Para o jornalista Moisés Sbardelotto, que é mestre e doutor em Comunicação, além de professor e pesquisador do Núcleo de Estudos em Comunicação e Teologia da PUC Minas, o espaço religioso já é uma espécie de metaverso. A a prática da fé é capaz de nos levar a um outro espaço, embora permaneçamos fisicamente no nosso. Com as devidas proporções, essa é a promessa do metarvervso. 

Em entrevista ao site do Instituto Humanitas Unisinos, Sbarbdelotto afirma: 

“Poderíamos dizer até que o próprio rito religioso, por exemplo, é um metaverso avant la lettre. Historicamente, os fiéis – independentemente da tradição religiosa – se dirigem a um lugar geolocalizado específico e, por meio de gestos, objetos e palavras ritualizados, fazem a experiência de um universo transcendente, em uma dimensão espaço-temporal sagrada que ressignifica o recinto físico do templo e a duração cronológica do rito. Nessa dimensão ritual e cúltica, comunicam-se com seres divinos ou mesmo pessoas que já se encontram no ‘além da vida’, tudo por meio de técnicas e tecnologias próprias para isso (discursos, sons, músicas, artes, textos, livros, símbolos, objetos cúlticos etc.). Seja no templo ou à beira de um rio sagrado, esse lugar se transforma no ‘centro do mundo’ (Mircea Eliade), um espaço sagrado por excelência, onde os diversos níveis cósmicos se comunicam.”

Sacramentos e liturgia 

O autor ainda alerta que, a exemplo do que acontece hoje no mundo digital, na era do metaverso continuará sendo impossível a vivência efetiva dos sacramentos:

“Do ponto de vista da ‘comunicação sacramental’, o que está em jogo é a ideia do hic et nunc, do ‘aqui e agora’ necessários para a celebração e a vivência de um sacramento. E esse ‘aqui e agora’ é entendido pela teologia tradicional como um mesmo tempo cronológico e um mesmo espaço geográfico.”

Por outro lado, o pesquisador considera que a liturgia é uma experiência condizente com a ideia do metaverso: 

“Como afirma a Sacrosanctum concilium, a liturgia terrena nos permite degustar (praegustando) e participar, aqui e agora, da Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém, glorificando ao Senhor junto com todos os seres celestiais e os Santos (SC 8). Com nossa corporeidade físico-biológica, comunicamo-nos no e com o universo ‘metaterreno’. Para isso, recorremos a ‘sinais sensíveis’ que significam (signa sensibilia significatur) tais realidades sagradas (SC 7). No metaverso, continuaremos recorrendo a ‘sinais sensíveis audiovisuais e talvez até de outras ordens para significar a realidade, que, por sua vez, nos permitirão fazer experiência de outros universos terrenos e – por que não? – ‘metaterrenos’.”

Evangelização nos novos tempos 

Enfim, o pesquisador ainda relata oportunidades e desafios que a Igreja deverá enfrentar com o advento do metaverso. Além disso, alerta para a necessidade de encontrar formas ainda mais eficazes de evangelização na realidade que está por vir: 

“O metaverso poderá gerar uma realidade ainda mais complexa e heterogênea do ponto de vista social, cultural e religioso, o que demandará de cada cristão e cristã uma coerência de vida ainda maior e um testemunho ainda mais consistente dos valores do Evangelho, independentemente dos ambientes (digitais ou não) em que se encontrar.

E a educação para a fé passa principalmente pelo exemplo, pela atração, e não pelo proselitismo, como o Papa Francisco reitera continuamente. Por isso, onde quer que um cristão esteja – seja neste universo que já conhecemos ou em um possível metaverso – ele será reconhecido pelo amor que tiver ao próximo (cf. Jo 13,35).”

Clique aqui e leia a entrevista na íntegra.

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