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É verdade que Jesus elogiou o administrador desonesto?

Parábola do administrador desonesto

Marinus van Reymerswaele, Public domain, via Wikimedia Commons

Francisco Vêneto - publicado em 08/11/21

Não! Entenda o sentido desta polêmica parábola do Evangelho

No Evangelho segundo São Lucas, 16, 1-8, Jesus conta aos discípulos uma parábola cuja interpretação costuma gerar certa polêmica: será mesmo verdade que Jesus elogiou o administrador desonesto?

Eis o que diz a parábola:

“Havia um homem rico que tinha um administrador. Este lhe foi denunciado de ter dissipado os seus bens. Ele chamou o administrador e lhe disse: Que é que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já não poderás administrar meus bens. O administrador refletiu então consigo: Que farei, visto que meu patrão me tira o emprego? Lavrar a terra? Não o posso. Mendigar? Tenho vergonha. Já sei o que fazer para que haja quem me receba em sua casa quando eu for despedido do emprego. Chamou, pois, separadamente a cada um dos devedores de seu patrão e perguntou ao primeiro: Quanto deves a meu patrão? Ele respondeu: Cem medidas de azeite. Disse-lhe: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve: cinquenta. Depois perguntou ao outro: Tu, quanto deves? Respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o administrador: Toma os teus papéis e escreve: oitenta. E o proprietário admirou a astúcia do administrador, porque os filhos deste mundo são mais astutos do que os filhos da luz no trato com seus semelhantes”.

É verdade que Jesus elogiou o administrador desonesto?

À primeira vista, muitos podem achar que Jesus faz um elogio à desonestidade do administrador. Na verdade, Jesus apenas afirma que o homem rico da parábola é quem declara admirar a esperteza do seu funcionário. Além disso, o próprio homem rico não admira a desonestidade como tal, mas sim a astúcia do empregado ao cultivar favores que lhe serão úteis quando precisar de ajuda dos outros.

O que Jesus comenta, por sua vez, é que “os filhos deste mundo são mais astutos do que os filhos da luz”.

O que quer dizer isso?

Primeiro, quer dizer que a astúcia não é o problema. Jesus, aliás, praticamente lamenta que os filhos da luz não se mostrem espertos como deveriam. Não é a astúcia o que torna alguém “filho deste mundo”: é perfeitamente possível ser um filho da luz astuto em vez de ingênuo.

Filhos do mundo ou filhos da luz

O que diferencia os filhos do mundo e os da luz é o propósito para o qual empregam a sua astúcia ou esperteza. Os filhos do mundo a usam em benefício próprio, inclusive prejudicando o próximo ou fazendo favores com segundas intenções, como no caso do ecônomo desonesto da parábola de Jesus. Entretanto, os filhos da luz devem usar a sua inteligência, perspicácia e esperteza para fazer ainda mais o bem a um número ainda maior de pessoas, sem que para isto precisem agir contra a própria consciência.

De fato, vários comentaristas desta parábola consideram que o núcleo da mensagem está no fato de que, diante de uma situação difícil, o administrador desonesto rapidamente pensa e age para resolver o seu problema, em vez de ficar se lamentando por causa das adversidades. Ele não se abate pela angústia, mas pensa em formas de superá-la. É uma pena que opte por uma estratégia desonesta em vez de usar a sua astúcia para o bem.

Esta é uma lição fundamental para os cristãos: enquanto pessoas desonestas não se deixam abater pelas dificuldades, mas se reinventam para continuar atrás dos seus propósitos, pode-se dizer o mesmo da postura das pessoas alegadamente boas? Ou será que o estado de injustiça que vive a humanidade não se deve em grande medida ao desânimo e à desistência dos bons?

Cabe aos bons, enfim, perguntar à sua consciência se os filhos deste mundo não estão sendo mais perseverantes em suas metas egoístas do que os filhos da luz em suas metas fraternais.

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