Os primeiros livros que passamos a amar provavelmente eram histórias lidas em voz alta para nós pelos nossos pais, um professor ou um irmão mais velho. Talvez você tenha ido a uma roda de histórias na biblioteca e se sentou com as outras crianças para ouvir belos contos. Ou, se você tinha irmãos e irmãs, talvez a mãe os reunisse para ouvir uma história para dormir...
De fato, a leitura começa como uma experiência coletiva. Atualmente, meus quatro filhos mais novos têm o hábito de ouvir audiolivros na sala de jogos. Eles sentam lá, todos juntos, e ouvem em silêncio por horas.
Depois que aprendemos a ler, na maior parte das vezes, toda a nossa leitura se torna uma experiência individual, algo que você faz sozinho em silêncio. Talvez ocasionalmente lemos em voz alta para uma classe ou para nossos filhos, como nossos pais faziam por nós. Mas os adultos raramente ficam sentados ouvindo audiolivros juntos.
Leitura e socialização
A teoria, porém, diz que, no passado, os adultos costumavam ser muito mais sociáveis quando se tratava de leitura. Na cultura antiga, talvez porque as taxas de alfabetização fossem mais baixas e as cópias físicas de livros muito mais raras, a leitura em voz alta era muito mais comum. Não era raro um grupo de pessoas se reunir em uma praça pública para ouvir coletivamente um livro sendo lido.
Santo Agostinho, em suas Confissões, comenta como sobre as mudanças na maneira como as pessoas liam. Quando jovem, ele conheceu Santo Ambrósio, que era bispo de Milão. Agostinho procurou Ambrósio como mentor e regularmente ia ao escritório do bispo para pedir-lhe conselhos.
Logo, Agostinho percebeu algo interessante sobre o homem mais velho, que muitas vezes estarva lendo um livro quando seu jovem protegido entrava na sala. Ele escreve: “Quando ele lia, seus olhos percorriam a página e seu coração buscava o significado, mas sua voz estava silenciosa e sua língua parada ... porque ele nunca lia em voz alta”.
Uma novidade para Santo Agostinho
Agostinho menciona isso porque era incomum. Era uma novidade que uma pessoa pudesse colocar palavras diretamente em sua mente, sem qualquer som ou movimento externo. Seus lábios nem se moviam para pronunciar as palavras, mas "Seus olhos percorriam a página e seu coração procurava o significado."
A leitura, aos poucos, se afastava dos grupos e se tornava uma atividade individual. Alguns historiadores acreditam que a mudança ajudou a desenvolver uma vida interior robusta.
Lectio divina
Essa habilidade de meditar cuidadosamente nas palavras e em um ritmo individual foi um importante desenvolvimento espiritual, pois permitiu um novo tipo de estudo da Bíblia. Santo Ambrósio era conhecido por levar as Escrituras diretamente ao coração e meditar meditar profundamente nelas. Ele tinha um método novo, já começando a se popularizar no oriente, que ajudou a introduzir no mundo ocidental. Chama-se lectio divina.
A lectio divina é uma atitude de escuta orante. Envolve permanecer em silêncio com algumas palavras de interesse e ponderá-las, permitindo que Deus fale por meio delas de novas maneiras. Conforme Ambrósio a praticava, ele claramente rendia grandes frutos na sabedoria e no poder de sua pregação.
Se praticássemos uma lectio divina da vida cotidiana, o que ouviríamos? Parece-me que a escuta orante pode ser praticada em todas as áreas de nossas vidas, não apenas lendo um texto.
A cada Advento, somos incentivados a desacelerar e ouvir mais, não só com a leitura silenciosa, mas também com o tempo de silêncio, a oração, a atenção à beleza e o tempo com a família. É uma oportunidade pela qual sou grato, este lembrete de manter o ruído fora dos meus ouvidos para ouvir e me concentrar no que é realmente importante.