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O grande mistério do Natal

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Frame Stock Footage | Shutterstock

Vanderlei de Lima - publicado em 26/12/21

O grande mistério do Natal, infelizmente um tanto esquecido nos nossos dias, é o nascimento, em Belém, do Deus-Homem

Sim, Cristo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, sem deixar de ser Deus, assumiu a nossa natureza humana em tudo menos no pecado. Há, portanto, n’Ele uma só pessoa, a divina, e duas naturezas: a divina (sempre Sua) e a humana (assumida, no tempo, no seio da Virgem Maria, por obra do Espírito Santo). Citemos, sobre esta verdade de fé, algumas profundas reflexões extraídas da Antologia de autores cartuxos publicada pela Cultor de Livros em 2020.

Guigo I († 1136) escreve sobre a importância da Encarnação/Natal para a nossa vida espiritual diária: “O homem não devia imitar senão Deus, mas ele não podia imitar senão o homem. Então o homem foi assumido (na unidade da pessoa do Verbo), a fim de que imitando o que podia, imitasse o que devia. Do mesmo modo, não lhe era útil conformar-se senão a Deus, a cuja imagem foi criado (cf. Gn 9,6), não podia (conformar-se) senão a um homem. Por isso, Deus se fez homem, de modo que, enquanto o homem se conformava ao Homem, coisa que pode fazer, se conformava também a Deus, como lhe é útil” (p. 282-283).

Francisco Pollien († 1936), por sua vez, ensina: “Cristo foi desejado antes do desenho criador. A Trindade, ao decretar a criação das criaturas do nada para a sua glória e felicidade, levou em consideração, antes de mais nada, Cristo: quer dizer, a união em uma pessoa de uma natureza criada com a natureza divina. Logo, com Ele e por Ele, a Virgem, da qual nascera no tempo; depois, os anjos que serão seus ministros e os homens que tonar-se-ão seus irmãos; por último, as criaturas inferiores que se tornarão seus instrumentos e instrumentos de seus membros. A criação se une, desse modo, toda inteira a Ele, assim como à sua cabeça” (p. 288).

João Batista Porión († 1987) também nos faz vislumbrar Cristo como centro de tudo: “É o seu Ser [de Deus Pai – nota nossa] o que contempla e ama no Verbo: espelho sem mancha (cf. Sb 7,26). É seu Verbo o que Ele vê com infinita complacência em Cristo: imagem do Deus invisível (cf. Cl 1,15). É o seu Cristo que vê e ama nas almas santificadas: conformes à imagem de seu Filho (cf. Rm 8,29). É dizendo ao Verbo como Ele obra todas as coisas, e é neste mesmo Verbo como elas retornam à sua substância no Espírito Santo. O Adão que teve de abandonar o Paraíso não era mais do que uma figura. O Adão arquétipo e o novo Adão, o homem verdadeiro, a obra de Deus, é Cristo. ‘Ecce Homo’ (Jo 19,5). ‘O Filho muito amado… Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda a Criação. Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele existe antes de todas as coisas e todas as coisas subsistem n’Ele. Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas. Porque aprouve a Deus fazer habitar n’Ele toda a plenitude e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio d’Aquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus’ (Cl 1,13-20). Pela santa Humanidade do Verbo Encarnado, a alma se eleva até a Divindade. Então se sentirá premida pela justiça divina, atraída, depois, pela misericórdia, mergulhar-se-á no amor, no qual contemplará para sempre a Beleza, a Bondade e a Verdade eternas. Reconciliados por Cristo e n’Ele, temos acesso ao Pai, no Espírito Santo: ‘Por meio d’Ele, juntos temos acesso ao Pai num mesmo Espírito’ (Ef 2,18). Isso resume a economia de todos os mistérios divinos manifestados no tempo. Criação, encarnação, redenção, glorificação; esses milagres de amor ilustram o mistério do Amor infinito, um em Três pessoas. Mistério ‘escondido desde todos os séculos, mas agora manifestado aos santos’ (Cl 1,26). Assim, tudo é restaurado em Cristo e recapitulado no Verbo que se une eternamente ao Pai na expiração do Espírito, na plenitude da Essência” (p. 297-298).

Que estas oportunas reflexões de três monges cartuxos de épocas distintas nos animem neste tempo natalino!

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