Dom Antonio Carlos Rossi Keller, bispo de Frederico Westphalen (RS), vem sendo alvo de graves acusações – até o momento gratuitas ou carentes de qualquer prova convincente – no campo moral. Daí a motivação deste artigo que visa oferecer nossa real solidariedade a esse destemido sucessor dos apóstolos.
Certo é que o nosso escrito é muito modesto. Pedimos, por isso, que os prezados leitores não queiram, por caridade, compará-lo às substanciosas Notas públicas de apoio que Dom Keller já recebeu – ainda que, talvez, por ignorância nossa, as desconheçamos – ou receberá da presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), do Regional Sul 3 da mesma CNBB, onde ele exerce seu ministério, ou, de modo avulso, de seus irmãos bispos de outras partes do nosso imenso Brasil.
Sim, esses momentos de ataques ferrenhos a um bispo nos parecem muito propícios ao sadio exercício da colegialidade episcopal. Não deixarão os demais bispos o seu irmão de Frederico Westphalen repetir, com o Papa Gregório VII, a sentença que lhe é popularmente atribuída: “Amei a justiça e odiei a iniquidade, por isso morro no exílio”. Não seria justo, nem humano, nem cristão assim proceder, pois os que renegaram a Gregório VII o fizeram, num tempo longínquo, talvez, por ignorância. Hoje, no entanto, a Igreja é chamada a ser mais misericordiosa, mais colegial e mais aberta a todos à moda de um “hospital de campanha”, como frisou o Santo Padre, o Papa Francisco.
Acusações não se sustentam
Voltando, contudo, a Dom Keller, desejamos destacar dois pontos importantes. Primeiro: todas as acusações imputadas contra ele não se sustentam. São palavras do próprio bispo, em Nota de 24/11/2021: “Diante das acusações que foram apresentadas em meu desfavor, junto às instâncias eclesiásticas e civis, após os procedimentos previstos pela legislação eclesiástica e civil, ambas já se pronunciaram a respeito, não acolhendo nenhuma destas acusações contra minha pessoa. Portanto, estas denúncias já obtiveram respostas, todas elas em meu favor”. Em outras palavras, conforme a justiça civil e a eclesiástica, Dom Keller é inocente. Segundo: Dom Keller é, dentre os poucos bispos que se pronunciam sobre temas atuais de fé e moral – campo específico do magistério autêntico da Igreja (cf. Lumen Gentium, 25) – um pastor de almas que não faz questão de seguir a cartilha do “politicamente correto”. E isso incomoda... E muito!
Ora, embora pareça que não, estas duas claras constatações já oferecem material para, no mínimo, um dilema e mais outro sério questionamento. Com efeito, se o acusado foi declarado inocente no âmbito do Estado e da Igreja, por que o interesse em continuar com as pesadas acusações? Se é culpado, por que não se exibem as provas cabais para encerrar a questão? Posto o dilema, vem o questionamento: terá Dom Keller, no seu modo, graças a Deus, politicamente incorreto de ser, incomodado potentes forças ocultas do aquém e do além – humanas e diabólicas – e, por essa razão, mereceu ter sobre si uma grande suspeita levantada a fim de que a sua voz não se faça mais tão ouvida, ou, se ainda ouvida, seja recebida com extrema desconfiança? Em outros termos, o real objetivo é ferir o pastor para que o rebanho se disperse (cf. Mt 26,31)?
Nesse contexto, Dom Keller é um mártir vivo de nossos dias. Sim, ensina o Papa Bento XVI (2005-2013), à luz do sacrifício de São Paulo (cf. 2Tm 4,6-7), que, além do martírio de sangue, há também o martírio incruento. Diz Bento: “Nem todos são chamados ao martírio cruento. Porém, há um ‘martírio’ incruento, que não é menos significativo, [...]: é o testemunho silencioso e heroico de muitos cristãos que vivem o Evangelho sem [outros] compromissos, cumprindo o seu dever e dedicando-se generosamente ao serviço dos pobres. Este martírio da vida ordinária constitui um testemunho importante como nunca nas sociedades secularizadas do nosso tempo. É a batalha pacífica do amor que cada cristão, como Paulo, deve combater incansavelmente; a corrida para propagar o Evangelho que nos compromete até à morte” (Angelus, 28/10/2007).
Possa Dom Keller, sob o peso de sua áspera cruz, aceitar a solidariedade deste irmão no santo Batismo que – carregando outra cruz, diferente, mas, quiçá, não menos pesada – lhe estende a mão...