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Sacerdote explica por que “o marxismo não é para católicos”

Marxismo e a queda do muro de Berlim

Ricotti Alvaro/Press Association/East News

A queda do Muro de Berlim

Francisco Vêneto - publicado em 19/01/22

Ele alerta: toda ideologia baseada em conflito inevitável nos arrasta ao conflito perpétuo

O marxismo não é para católicos, reforçou o pe. Nelson Faria, sj, em artigo publicado pelo portal Ponto SJ, dos jesuítas em Portugal, neste último 13 de janeiro.

A tensão entre o catolicismo e o marxismo, registra o sacerdote, “permanece atual, pois, apesar da sua aparente falência no final do século XX, o marxismo continua presente e influente nos planos político e social contemporâneos, ainda que em diferentes estados de vitalidade e sujeito a copiosas reinterpretações”.

Dois pontos críticos de incompatibilidade

O pe. Nelson destaca dois pontos críticos de incompatibilidade entre o catolicismo e o marxismo:

  • 1 – A visão de Deus: segundo Karl Marx, que a este propósito adota o pensamento de Feuerbach, Deus “não passa de um ideal e de uma projeção humana”, negando-se assim a Revelação; além disso, Marx afirma que “a religião é um instrumento de dominação”;
  • 2 – A propriedade privada: o marxismo a considera “um roubo”, enquanto a Doutrina Social da Igreja a considera “intrínseca à dignidade humana e um direito natural”.

Mesmo que algum católico alegue rejeitar essas duas visões e ainda assim declare abraçar outros aspectos do marxismo, o pe. Nelson observa que, nos discursos de inspiração marxista, “não é coincidência a aversão à religião, principalmente ao catolicismo, bem como o desrespeito pela propriedade privada”. O sacerdote completa: “as ideias têm consequências, e a água de uma charca, por muito que se pareça com um aprazível lago, provocará e disseminará doenças”.

Um terceiro ponto crítico de incompatibilidade: o “conflito inevitável”

Para além destas duas questões cruciais, o padre destaca um terceiro aspecto gravíssimo que é intrínseco ao marxismo: a afirmação de que a história da humanidade “não é outra coisa que conflito”. Esse reducionismo falacioso divide drasticamente as pessoas “entre opressores e oprimidos, sem espaço para matizes”. Para o marxista, em cada situação existe “um opressor e um oprimido” – e o opressor deveria ser eliminado.

“O marxismo é uma dialética do conflito”, resume o pe. Nelson. Para desenvolver essa ideia, Marx se baseou em Hegel, “que via na tensão entre a família e a sociedade a estrutura da dialética política, tensão essa que poderia ser dirimida pelo Estado”. Ou seja, Hegel propunha que haveria dois agentes em busca do bem comum e abertos à intervenção de um terceiro, mas Marx reduz essa visão, que já era limitada em si mesma, a uma ideia ainda mais limitada e limitante: a de opressores e oprimidos em conflito aberto, do qual “emergirá, inevitavelmente, um vencedor” a quem caberiam “os despojos de guerra: o domínio do aparelho do Estado”.

Totalitarismos como resultado da premissa do conflito

Esta premissa torna o marxismo “uma ideologia cega à complexidade da realidade”, porque resume a história da humanidade à opressão, deixando de reconhecer a bondade e o altruísmo: a pessoa “passa a ser um animal a ser controlado”. A consequência desta visão reducionista e essencialmente falsa da humanidade é visível em todas as sociedades que implantaram “as ideias marxistas ou os seus derivados”: são “estados totalitários, assentes na demonização do outro”.

O padre ainda constata:

“Sempre que a humanidade, pelos seus próprios meios, tentou erigir o paraíso na Terra, deu espaço a poderosos, flamejantes e temíveis Infernos”.

Demonizar o outro é incompatível com o catolicismo

Para um católico, entretando, a “demonização do outro” é “uma deturpação da sua crença”: afinal, o fato é que todos somos pecadores que precisam de salvação e não de eliminação, e cada um “deverá ser julgado pelas suas ações e não pela sua classe”. São Tomás de Aquino deixou claro: o que deve ser odiado é o pecado, não o pecador. Por isso mesmo, a “obsessão marxista por catalogar o outro e dividir a sociedade” é fundamentalmente incompatível com o Evangelho de Jesus Cristo.

Só esta premissa, aliás, já deveria deixar claro por que o marxismo não é para católicos.

“Frutos” dessa ideologia: mais conflitos e “cancelamentos”

Essa ideologia divisiva do marxismo “tem encontrado expressão contemporânea nas políticas de identidade”, observa o pe. Nelson, acrescentando que, “diante do fracasso da luta de classes, o marxismo encontrou um lugar fecundo na luta contra a discriminação racial, de gênero ou de orientação sexual”: trata-se de causas legítimas e justas, mas a abordagem do marxismo as manipula para fomentar e prolongar o conflito e abrir as portas à perseguição. Neste contexto é que surge, por exemplo, a famigerada “cultura do cancelamento”.

O sacerdote chama as atenções para a “diferença abismal” que existe entre ativistas cristãos como Martin Luther King e os atuais “Black Panthers” de inspiração marxista. Ele cita ainda a enorme diferença entre “as palavras enformadas pelo cristianismo de Nelson Mandela ou do bispo anglicano Desmond Tutu” e o atual discurso nas sociedades ocidentais, “que faz de cada cidadão branco um racista e, das figuras de autoridade, opressores”.

A atual demonização do outro “é uma reinterpretação atualizada da visão marxista”, considera o sacerdote.

Ele prossegue questionando as tergiversações sobre sexo, cor e orientação sexual, que dizem “muito pouco sobre quem a pessoa é”: pelo contrário, essa “política de aparências” já é discriminatória em si mesma. O que deveria importar, enfatiza, “são as crenças e ações de cada um”.

Uma diferença essencial: “características não são valores”

É claro que a cor, o sexo e a orientação sexual “têm um peso na biografia e no itinerário pessoal”, reconhece o pe. Nelson, e também é claro que “devemos unir-nos na luta contra toda a discriminação injusta”. Entretanto, fatores como origem social, cor da pele, atração sexual e sexo da pessoa “são características, não são valores”: em vez de focar em gerar conflitos baseados nessas características, poderíamos unir-nos em torno a valores universais como a verdade, a bondade e a justiça.

O padre anota outra observação crucial que deixa claro por que o marxismo não é para católicos:

“Qualquer ideologia assente na inevitabilidade do conflito arrasta-nos para um perpetuar do conflito”.

Ele conclui que “construir um mundo mais justo” não se fundamenta “numa dialética de conflito”, e sim “no abraçar da revelação cristã”, da qual uma parte fundamental é assim descrita pelo sacerdote:

“Todos somos filhos de um mesmo Deus; todos somos seres em caminho, um caminho feito de erros e acertos, em que a graça, agindo sobre a natureza, pode espoletar o milagre da salvação, de uma salvação a ser vivida por todos. Esta é a nossa grande esperança. Esta é a promessa de Deus para nós. Esta é a nossa vocação”.

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