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Oriente venera hoje São João Crisóstomo, “Boca de Ouro”: o maior pregador cristão de todos os tempos

São João Crisóstomo

Public Domain

Francisco Vêneto - publicado em 27/01/22

Considerado o maior pregador cristão de todos os tempos, ele proclamou homilias poderosas e discursos veementes contra os corruptos de fora e de dentro da Igreja

São João Crisóstomo (c. 347-407), arcebispo de Constantinopla, é um dos mais importantes patronos do cristianismo e um dos nomes mais importantes de toda a história da Igreja. As tradições ortodoxas e católicas orientais o veneram como um dos Três Grandes Hierarcas, juntamente com São Basílio Magno e São Gregório Nazianzeno. A tradição romana também o venera como Doutor da Igreja.

No catolicismo, a sua festa litúrgica é celebrada em 13 de setembro, recordando como de costume a sua partida para a vida eterna, mas algumas tradições ortodoxas o celebram em 27 de janeiro, data do traslado de suas relíquias.

Boca de Ouro

Crisóstomo é um epíteto de origem grega (Χρυσόστομος) que quer dizer “Boca de Ouro”, em referência ao seu extraordinário talento com as palavras e com a pregação. De fato, São João Crisóstomo é considerado o maior pregador cristão de todos os tempos, reconhecido por homilias poderosas e por discursos veementes contra os abusos de líderes políticos e eclesiásticos do seu tempo.

Tempos conflituosos

Nascido em Antioquia, uma das mais importantes metrópoles do mundo antigo, situada em território pertencente hoje à Turquia, veio de família cristã e rica e viveu numa época, o século IV, de profundos conflitos filosóficos, teológicos e religiosos entre pagãos, maniqueus, arianos, apolinaristas, cristãos e judeus.

Das paixões do mundo à consagração a Deus

Órfão de pai ainda muito jovem, João se tornou aluno do famoso orador Libânio. Aos 18 anos de idade, pediu para ser baptizado, visando superar o fato de, segundo ele próprio, estar “acorrentado às paixões do mundo”. Começou então a acompanhar os cursos de exegese de Diodoro de Tarso, que interpretava literalmente as Sagradas Escrituras em oposição à escola de Alexandria, que privilegiava uma leitura de caráter alegórico.

Influência na Igreja

Depois desta formação, recebeu as ordens menores e retirou-se num eremitério para estudar Teologia. Escreveu um tratado sobre o sacerdócio, conhecido no Ocidente como “De Sacerdotio“, que influenciaria profundamente a Igreja: nessa obra, defende que o monaquismo não é a única forma de alcançar a perfeição cristã, porque a vida sacerdotal, no serviço dos fiéis e no meio das muitas tentações do mundo, é, a seu ver, a melhor forma de servir a Deus.

Ordenado sacerdote em 386, rapidamente ficou famoso pela valentia na pregação. Em 392, organizou uma expedição para demolir templos pagãos, enquanto se consolidava também como autor de obras teológicas, espirituais e educacionais. Produziu tratados e centenas de homilias, dedicadas em grande parte à exegese das Escrituras: dentre as exegéticas que foram preservadas até os nossos dias, contam-se 67 dedicadas ao Gênesis, 90 ao Evangelho de Mateus, 88 ao de João e 55 aos Atos dos Apóstolos. Também escreveu tratados sobre Isaías e os Salmos, além de sermões entre os quais se destacam 5 sobre a incompreensível natureza de Deus, 8 sobre a resistência dos judeus a reconhecer Jesus como o Messias, 21 sobre as estátuas, bem como instruções para os catecúmenos.

Combate aos corruptos

Em 397, o imperador bizantino o escolheu para a cátedra episcopal de Constantinopla, onde foi consagrado Patriarca em 28 de Fevereiro de 398. Vigoroso e rigoroso, combateu a corrupção dos poderosos e, por consequência, fez muitos inimigos na corte, de quem sofria pesada oposição. O povo, no entanto, estimava e admirava profundamente o patriarca “Boca de Ouro”.

A moralização empreendida por São João Crisóstomo não se detinha nas denúncias contra os corruptos seculares, mas se aprofundava também na limpeza dos maus comportamentos dentro da Igreja. Destituiu inúmeros sacerdotes indignos, entre os quais o próprio bispo de Éfeso. Com estilo de vida sóbrio e eminentemente monástico, influenciava pelo exemplo e pela palavra, cuja autoridade se levantava com força na Ásia Menor.

Inimigos e banimento

Seus muitos inimigos, enquanto isso, agiam para neutralizá-lo. Conseguiram, de fato, que o imperador o depusesse e exilasse, primeiro provisoriamente, mas, em 9 de junho de 404, de modo definitivo. Passou então três anos confinado nas montanhas da Capadócia, onde trabalhou arduamente, até que, em 407, recebeu ordens para partir rumo às costas do Mar Negro, ainda mais longe.

Seu banimento enfatizava a supremacia do poder secular sobre o religioso, assim como escancarava a rivalidade entre Constantinopla e Alexandria pela preponderância dentro da Igreja Oriental. Enquanto os patriarcados do Oriente se digladiavam e dividiam, a Igreja no Ocidente se consolidava em unidade presidida espiritualmente por Roma – embora o Papado exercesse pouca influência sobre os poderes mundanos orientais, tanto é que os apelos do pontífice romano em favor do próprio Crisóstomo foram praticamente ignorados pelo imperador bizantino.

Morte, relíquias e reconhecimento

São João Crisóstomo faleceu em 14 de setembro de 407, no Ponto, e, conforme a tradição, estas foram as suas últimas palavras:

“Glória a Deus em todas as coisas”.

Em 438, seus restos mortais foram solenemente transladados para a Igreja dos Santos Apóstolos em Constantinopla. Mais tarde, ainda seriam transportados para a Basílica de São Pedro, em Roma, depois do saque de Constantinopla de 1204. Em 1568, o Papa São Pio V o proclamaria Doutor da Igreja, incluindo-o no Breviário Romano juntamente com São Basílio, Santo Atanásio e São Gregório Nazianzeno.

Com informações de Radio Roma Libera

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