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O celibato sacerdotal: base bíblica e normas

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Vanderlei de Lima - publicado em 30/01/22

Frente ao grande número de pessoas que livremente foram abraçando o celibato ao longo da história, a Igreja houve por bem dar normas disciplinares

O celibato sacerdotal, embora um tanto combatido e contestado em nossos dias, é, segundo Dom Nasrallah Pierre Sfeir, cardeal maronita, “a joia mais preciosa do tesouro da Igreja Católica” (ACI, 07/10/2005). Daí, dedicarmos o presente artigo ao assunto.

Logo de início, digamos que o celibato clerical na Igreja Latina (na Oriental, os padres diocesanos podem se casar) é uma norma disciplinar, e, embora com boas raízes na Escritura, na Tradição e no Magistério da Igreja, não constitui dogma, ou seja, é algo que poderia, a princípio, ser, um dia, revisto.

Base bíblica

Não obstante a possibilidade de revisão do celibato a fim de torná-lo opcional, ele não é mera invenção da Igreja. Tem sua base bíblica em duas principais passagens que devem ser lidas com vagar: a) 1Cor 7,25-35: há aí o louvor à vida una e indivisa por amor a Deus. Quem O descobre fica ciente de que a figura deste mundo passa. Por isso, tudo o que for aqui feito, deve ser realizado, sem perda de tempo (que se fez breve (vers. 29) com a vinda de Cristo, ele mesmo celibatário), para o Senhor ou em vista do Eterno e b) Mt 19,12: Nosso Senhor trata aí do eunuco por livre opção (“por amor ao Reino dos céus”) ante os eunucos por natureza e, por essa condição, menosprezados pela Antiga Lei (cf. Lv 21,1-20; Dt 23,2). Certo é que o Senhor Jesus não desvaloriza, de modo algum, com isso, a sexualidade no sacramento do Matrimônio por Ele mesmo elogiado (cf. Mt 19,4-5 ligado a Gn 1,27; 2,24), nem defende a castração física, mas ensina que o amor exclusivo a Deus, e por Ele ao próximo, deve ser vivido na entrega total ao Reino e por causa do Reino. Nele – só concretizado plenamente no céu – todos serão como os anjos (cf. Mt 22,30; Mc 12,25; Lc 20,35).

Certo é que outros textos de São Paulo parecem, à primeira vista, polêmicos ou afrontadores do celibato, mas, na verdade, não o são, pois a Palavra de Deus não pode se contradizer. Com efeito, em 1Tm 3,2.12; 5,9; Tt 1,6, há a recusa de segundas núpcias aos epíscopos, presbíteros, diáconos e viúvas consagradas ao serviço do altar, o que pode parecer recomendação ao primeiro casamento. Na verdade, o apóstolo está tratando com uma comunidade na qual, muito provavelmente, não havia celibatários, de modo que é preciso escolher pessoas casadas para o trabalho eclesial com a recomendação de que, uma vez viúvas, não contraíssem nova união conjugal. Como bom soldado de Cristo, o ministro deve dedicar-se inteiramente ao serviço do Evangelho (cf. 2Tm 2,3-4).

Normas

Como quer que seja, frente ao grande número de pessoas que livremente foram abraçando o celibato ao longo da história, a Igreja houve por bem dar normas disciplinares – portanto, não dogmáticas – a respeito da vida celibatária. Assim, o Concílio regional de Elvira, por volta do ano 300; o de Roma, em 386; os de Cartago, em 390 e 401; o de Toledo, em 400; o de Turim, em 401 (ou 417, a data é incerta); o de Latrão, em 1139, e o do Vaticano II (1962-1965). Também uma série de Santos e Papas, ao longo dos milênios, defenderam o celibato clerical, o que bem demonstra a sua grande importância. Daí poder afirmar o cardeal Alfons Maria Stickler, SDB, que “da prática disciplinar ocidental considerada até o momento, concluímos que: a continência própria dos três últimos graus do ministério clerical se manifesta na Igreja como uma obrigação que se remonta aos começos da Igreja, e que foi transmitida como um patrimônio da tradição oral” (Celibato eclesiástico: história e fundamentos teológicos. Presbíteros.org, cap. III).

Ante tudo isso, para o Papa Francisco a abolição do celibato está fora de discussão. Sim, no voo de regresso do Panamá a Roma, em 29/01/2019, ao ser indagado sobre o tema, afirmou: “Não concordo em permitir o celibato opcional. No rito latino, uma frase de São Paulo VI vem à minha mente: ‘Prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato’. Neste momento, isso me veio à mente e quero afirmá-lo porque é uma frase corajosa. Ele disse isso em 1968-1970, num momento mais difícil do que o atual. Não ao celibato opcional antes do diaconato. É uma coisa minha, pessoal. Eu não o farei, isso é claro. Sou fechado? Talvez, mas não me sinto [bem] de colocar-me diante de Deus com esta decisão” (Coletiva de Imprensa durante o voo de regresso a Roma. Vatican.va).

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