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A manhã tempestuosa em que a cabana do náufrago pegou fogo

a cabana do náufrago pegou fogo

Pixabay | Creative Commons

Francisco Vêneto - publicado em 07/02/22

"…traído mais uma vez pelo Deus impávido em quem recomeçara sofridamente a acreditar"

Conta-se de um homem que, após sofrer um pavoroso naufrágio em águas desconhecidas, foi levado pelas ondas a uma praia selvagem de alguma ilha remota.

A floresta densa se levantava como um oceano de ameaças contra o sobrevivente inerme da selva das águas, e pouco lhe restava além de refugiar-se como pudesse entre as pedras de um rochedo à beira-mar.

Sóis e luas se sucediam nas noites e dias e não se avistavam navios na surda vastidão dos horizontes. Entre a tempestade dos sentimentos desencontrados e uma lucidez teimosa, ancorada na vontade pétrea de sobreviver, o náufrago arrebatado ao mundo sentia-se ora afogado pelos vagalhões do desespero, ora acariciado pela brisa gentil de uma esperança ensolarada.

À medida que as marés do tempo varriam das areias suas mensagens mudas de socorro a marinheiros que nunca singravam aquele deserto, o caiçara solitário se habituava aos poucos à rotina de silêncio, expedições de desbravamento, coleta de frutos e lenha, fogueiras, pesca e melhorias na cabana de madeira que fora levantando ao abrigo de uma baía.

Seus brados de desespero e urros de fúria contra o Deus que o tinha esquecido e abandonado à própria sorte se iam transformando em contemplações maravilhadas de nasceres e pores do sol, de ondas suaves modelando a areia, de gaivotas livres na imensidão, de constelações longínquas que pareciam proclamar que ninguém está sozinho num universo tão maior que a nossa breve solidão.

Seu coração sentia nascerem os brotos frágeis e fortes de uma confiança no Deus que cuidava dele e o resgataria, e seus prantos de desafogo se suavizavam em lágrimas agres e doces de saudade e almejo, de paz e inquietação, de gratidão e expectativa.

Certa manhã, quando nuvens espessas se avizinhavam e ventos de tormenta vergavam as árvores altas, o caiçara de pele curtida se apressava em fisgar um último peixe entre as pedras grandes à entrada da baía. Foi então que viu erguer-se uma fumaça inusitada rumo ao céu escurecido – e seu coração disparou no peito.

Ele correu com todas as forças o caminho de volta pela baía rochosa até o arvoredo arqueado pela ventania, e, sob os açoites de um aguaceiro pesado que desabava dos céus escuros, encontrou a cabana já destruída completamente por labaredas traiçoeiras, incitadas pelo vento à rebelião em seu fogão de pedras.

Jogado ao chão em pranto solto, o náufrago desabrigado sob a fúria dos céus e dos ventos, do mar e da chuva, da vida e do nada, deixou-se esquecer também pelo tempo, e, alheio à passagem das horas, ali ficou, de mente suspensa, ausente do corpo, traído mais uma vez pelo Deus impávido em quem recomeçara sofridamente a acreditar, até que um raio de sol e falas indistintas começaram a vencer uma luta quase perdida contra a exaustão mortal.

Quando a letargia não pôde mais resistir ao instinto de decifrar os arredores estranhos, a cabeça ainda tonta foi se reerguendo enquanto os olhos doídos se forçavam a distinguir os vultos que lhe estendiam a caneca. Por todos os lados do barco, apenas o mar aberto.

– Bem-vindo a bordo!

– O que…

– Calma, guarde as forças. Já está tudo bem. Nós vimos os seus sinais de fumaça quase se apagando, e, graças a Deus, a tempestade já tinha passado para conseguirmos mudar a rota bem a tempo. Esta foi por muito, muito pouco!

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