Um grupo de manifestantes invadiu a Igreja do Rosário em Curitiba, (Paraná, sul do Brasil). O ato de profanação aconteceu no último sábado, 5 de fevereiro por volta das 17h.
Os manifestantes se reuniram em frente à igreja bem na hora da Missa e acabaram atrapalhando a celebração. Por causa do barulho, o padre precisou encerrar a Missa.
“Uma situação insuportável, barulho muito grande, pedimos que abaixassem o som lá fora, saíssem da escadaria. Mas começaram a dizer que era igreja dos negros. Suspendi a Missa, porque não tinha como, não era horário para fazer o protesto”, disse o Pe. Luiz Haas à imprensa local.
Depois da bênção final, o grupo entrou na igreja e começou o protesto contra o assassinato de Moïse Kabagambe, um jovem congolês no Rio de Janeiro no dia 24 de janeiro, e de Durval Teófilo Filho, um homem negro baleado ao ser confundido com um ladrão, na porta de casa em São Gonçalo, Rio de Janeiro.
O protesto foi organizado por coletivos de defesa da população negra e de periferia. Durante o ato, o vereador Renato Freitas (PT) fez discursos e proferiu palavras de ordem contra o racismo. Os manifestantes também proferiram palavras contra a Igreja Católica e exibiam cartazes com pedidos de justiça. Nas imagens, ainda é possível ver bandeiras do PCB (Partido Comunista Brasileiro).
Por que a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
A atual Igreja do Rosário fica no centro histórico de Curitiba. Foi erguida no mesmo local onde existia a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Benedito, construída por escravos em 1737 e demolida em 1931.
Segundo os próprios manifestantes, a história dessa igreja os levou a tomá-la como palco dos protestos.
Nota de repúdio
A Arquidiocese de Curitiba divulgou nota repudiando o ato de profanação ocorrido na Igreja do Rosário. Diz a nota assassinada por Dom José Antonio Peruzzo:
“No dia 05 de fevereiro de 2022, em torno das 17.00hs, um grupo apresentou-se junto à porta da Igreja do Rosário, para protestar contra a violência havida no estado do Rio de Janeiro, cujo desdobramento final foi a morte de um cidadão congolês e, em outro caso, a morte de um brasileiro afrodescendente. Era no mesmo horário da celebração da Missa. Solicitados a não tumultuar o momento litúrgico, lideranças do grupo instaram a comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos.
É verdade que a questão racial no Brasil ainda requer muita reflexão e análises honestas, que promovam políticas públicas com vistas a contemplar a igualdade dos direitos de todos. Mas não é menos verdadeiro que a justiça e a paz nunca serão alcançados com destemperos ou impulsividades desequilibradas.
Desde a sua primeira inauguração, em 1737, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos sempre foi um lugar de veneração e de celebração da fé. Foram os escravos a edificá-la. Hoje, muitos afrodescendentes, a visitam. E o fazem em grupos ou individualmente. Sempre primaram pelo profundo respeito, até mesmo quando não católicos.
Infelizmente, o que houve no último sábado foram agressividades e ofensas. É fácil ver quem as estimulou.
A posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa. Também a Lei e a livre cidadania foram agredidas. Por outro lado, não se quer “politizar”, “partidarizar” ou exacerbar as reações. Os confrontos não são pacificadores. O que se quer agora é salvaguardar a dignidade da maravilhosa, e também dolorosa, história daquele Templo.”
Liberdade religiosa
O Partido dos Trabalhadores, partido do vereador que teria liderado os protestos, também divulgou nota, afirmando que “não participou nem da organização nem da decisão de adentrar o templo religioso”.
A nota também diz: “O PT é defensor histórico da liberdade religiosa, aliás, entre outras frentes de luta, o PT nasceu dentro das comunidades eclesiais de base e das lutas pastorais, que é um partido plural e que reconhece na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) uma importante aliada no combate ao discurso de ódio e de intolerância que estão impregnados em nossa sociedade.”