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Corpo de idosa solitária é encontrado em sua casa, 2 anos após sua morte

Idosa solitária com o terço

David lada | Shutterstock

Francisco Vêneto - publicado em 11/02/22

A morte de Marinella Beretta deixou a Itália em choque nesta semana, reacendendo o debate sobre a solidão de idosos

O corpo de uma idosa solitária foi encontrado sobre uma cadeira da sua própria casa, nas proximidades do paradisíaco lago de Como, no norte da Itália, nada menos que dois anos após a sua morte.

Marinella Beretta, de 70 anos, não tinha parentes próximos: seus restos mortais, mumificados, só foram descobertos porque a polícia foi até o local para alertá-la do risco de queda de árvores em seu jardim.

Os vizinhos não a viam já fazia mais de dois anos e meio, segundo relatos da imprensa local.

A ministra italiana da Família, Elena Bonetti, declarou via rede social:

“O que aconteceu com Marinella Beretta em Como, a solidão, o esquecimento, fere as nossas consciências. Uma comunidade que quer ser unida tem o dever de se lembrar da vida. Precisamos parar de limitar os nossos horizontes à esfera privada e restabelecer os laços que nos unem (…) Ninguém deve ser deixado sozinho”.

O chocante acontecimento da semana passada em Prestino, na região da Lombardia, deixou a Itália em choque e reacendeu o debate nacional sobre a solidão de idosos. No país, quase 40% das pessoas com mais de 75 anos vivem sozinhas, segundo informações divulgadas ainda em 2018 pelo Instituto Nacional de Estatística (Istat) – desde então, é provável que o número tenha aumentado. Essa mesma porcentagem, de acordo com os levantamentos, não tem parentes nem amigos a quem recorrer em caso de necessidade.

“Vivemos sozinhos – o que é quase pior”

O colunista Massimo Gramellini, do Corriere della Sera, o maior jornal italiano, escreveu que Marinella Beretta foi a “encarnação da solidão”. E completou, escancarando o panorama de um país que tem uma das taxas de natalidade mais baixas do planeta e agora sofre as consequências do velocíssimo declínio das famílias:

“Muitos de nós ainda temos lembranças das grandes famílias da Itália rural. A família moderna encolheu (…) As pessoas morrem sozinhas. E vivemos sozinhos, o que é quase pior”.

Também o jornal Il Messaggero, de Roma, registrou a dolorosa realidade da “vida invisível” de tantos idosos italianos e do quanto esse panorama desafia a Itália inteira:

“A misteriosa vida invisível de Marinella atrás da porta fechada de sua casa nos deixa uma terrível lição. A grande tristeza não é que não tenham percebido sua morte. É não terem notado que ela estava viva”.

Epidemia de solidão

A polícia não encontrou indícios de crime na morte de Marinella.

Há um fator que, parcialmente, explica o porquê de ninguém ter dado pela sua falta na vizinhança: a pandemia de covid-19, que assolou o norte da Itália de forma particularmente brutal em 2020. O país chegou a se tornar um dos primeiros epicentros mundiais da pandemia, com índices de contágios e mortes que comoveram e aterrorizaram a população dentro e fora da Itália nos primeiros meses daquele ano.

Num cenário tão excepcional, não chega a surpreender que os vizinhos de Marinella pensassem que ela tinha se mudado para a casa de algum parente. O fato é que não havia parentes – e, pelo visto, os vizinhos sequer sabiam disso.

Desde muitos anos antes da pandemia, solidões como a de Marinella chocam ocasionalmente o país. Em 2016, um casal romano de idosos em pranto copioso de solidão também representou um alerta mundial para o drama que parece habitar muito mais endereços do que se supõe:

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