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Petrópolis: o padre Alan celebra o casamento de Sara e Bernardo; um ano depois, preside seu funeral

O casal Sara e Bernardo, de Petrópolis, no dia de seu casamento
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Francisco Vêneto - publicado em 21/02/22
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"O padre também é um homem, então a gente sente as dores de toda a humanidade"

Dezembro de 2020.

O padre Alan Rodrigues é pároco da igreja de Santo Antônio, no bairro Alto da Serra, em Petrópolis. É mês de Natal. Esperanças se refazem diante da pandemia de covid-19, que, naquele mês, parece apresentar sinais de mitigação - sinais que, infelizmente, dariam lugar à sua onda mais mortífera a partir de janeiro seguinte. Na luta pela vida e pelo futuro apesar das incertezas do presente, o padre Alan celebra naquele dezembro a Santa Missa de casamento de Sara Walsh e Bernardo Albuquerque. Bernardo havia sido coroinha e seminarista antes de discernir a vocação matrimonial. Sara e Bernardo são colaboradores nos projetos sociais da paróquia do padre Alan. Mais ainda: os noivos e o padre são amigos. O sacerdote os acompanha na vida cristã e os incentiva na construção de uma família sólida e feliz. A chegada dos filhos, de fato, faz parte, explicitamente, dos planos do jovem casal.

Fevereiro de 2022.

O padre Alan é pároco da igreja de São Sebastião de Carangola, no bairro Cidade Nova. Na terça-feira, 15, a sua antiga paróquia se transforma num dos mais ativos centros de ajuda e voluntariado de Petrópolis para responder em caráter de emergência a uma tragédia devastadora: grande parte do bairro Alto da Serra não existe mais. Grande parte do bairro Morro da Oficina também não existe mais. Aqueles planos de Sara e Bernardo, de ter filhos e consolidar uma família feliz, também não existem mais. Os seus sonhos estão soterrados, junto com a sua casa. No sábado, 19, o padre Alan preside os ritos do funeral e do sepultamento dos planos, dos sonhos e dos corpos de Sara e Bernardo.

"Infelizmente, a gente já sabia"

Na tarde de terça-feira, 15, um temporal histórico arrasou Petrópolis. Desde aquela tarde, o número de mortos não tem parado de subir, já se aproximando dramaticamente, após uma semana, de duas centenas - com outra centena de desaparecidos.

O padre Alan ficou atento aos grupos de WhatsApp e de sobreaviso para disponibilizar a igreja em caso de emergência no bairro da Cidade Nova. Mas as notícias mais devastadoras da tarde vinham de outros bairros - em especial do Alto da Serra e do Morro da Oficina. Ele tentou às pressas fazer contato com Sara e Bernardo. Não conseguiu. Depois de pedir e aguardar notícias da família, veio a confirmação que ele mais temia.

Era, afinal, uma tragédia anunciada - e já havia anos.

Em 11 de janeiro de 2011, o padre Alan estava à frente de uma paróquia em Teresópolis quando aquela cidade, vizinha de Petrópolis, foi uma das mais devastadas pelo maior desastre natural de toda a história do Brasil, com temporais, deslizamentos e inundações que mataram 918 pessoas e deixaram outras 99 desaparecidas para nunca mais serem achadas, nem sequer onze anos depois: desse total chocante de mais de mil vítimas, 382 das mortes ocorreram em Teresópolis. Em declarações registradas pelo jornal O Globo, do Rio de Janeiro, o sacerdote recorda:

O luto de um sacerdote

No meio do próprio luto, ele tem a missão sacerdotal de levar o bálsamo da Igreja ao luto do próximo:

É por isso que o padre Alan, como homem e como sacerdote, chora a morte de Sara e Bernardo.

Homenagem e orações por Sara e Bernardo

A página no Facebook da Igreja Nossa Senhora do Perpéuto Socorro e São Mateus, do Rio de Janeiro, compartilhou a foto de Bernardo e Sara que ilustra esta matéria - uma imagem que testemunha a felicidade do casal em sua união matrimonial.

A paróquia também publicou o seguinte texto em homenagem e em oferta de orações por eles:

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