Em 13 de maio de 1917, "uma Senhora mais brilhante que o sol" apareceu a três crianças, convidando-as a rezar e a encontrar-se com ela durante cinco meses, sempre no dia 13. Em sua última aparição, a misteriosa mulher se identificou, diante de milhares de pessoas, como "a Senhora do Rosário" e, a partir disso, ocorreram alguns milagres.
A Igreja aceitou a mensagem de Nossa Senhora em Fátima porque está em conformidade com a revelação divina: seu núcleo fundamental é o convite à conversão e à penitência – precisamente as palavras com as quais Jesus iniciou seu ministério público.
O que é o terceiro segredo de Fátima?
Quando Maria apareceu às três crianças, mostrou-lhes um segredo que, obviamente, não revelaram a ninguém, por expresso desejo da Virgem. Lúcia, uma das sobreviventes, escreveu o segredo quando o bispo de Leiria lhe ordenou e Nossa Senhora permitiu.
Na verdade, mais do que três segredos, é um texto que tem três partes; é por isso que se fala de "a terceira parte do segredo de Fátima". As duas primeiras partes foram dadas a conhecer na década de 40, quando foram divulgadas no diário da irmã Lúcia.
A terceira parte foi escrita em 1944 e enviada ao Arquivo Secreto do Santo Ofício de Roma. Nem João XXIII nem Paulo VI revelaram seu conteúdo. João Paulo II leu o texto após o atentado que sofreu em 13 de maio de 1981 e, após sua leitura, fez um ato solene de consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria.
Quando o segredo foi revelado e qual é seu conteúdo?
Em uma de suas visitas a Fátima, João Paulo II quis dar a conhecer publicamente a terceira parte do segredo de Fátima. Era 13 de maio de 2000. O secretário de Estado do Papa, cardeal Angelo Sodano, explicou o núcleo da visão, que "tem a ver sobretudo com a luta dos sistemas ateus contra a Igreja e os cristãos, e descreve o imenso sofrimento das testemunhas da fé do último século do segundo milênio".
Em junho de 2000, a Congregação para a Doutrina da Fé deu a conhecer os manuscritos da vidente Lúcia relativos às três partes do segredo. A primeira é relativa à visão terrível do inferno e a segunda contém a promessa de que, "no final, meu Imaculado Coração triunfará" e haverá paz, depois de ter feito a consagração da Rússia à Mãe do Senhor.
Quanto à terceira parte do segredo, revelado por Nossa Senhora em 13 de julho de 1917 e também escrito à mão por Lúcia, trata-se, em resumo, da visão de um anjo com uma espada de fogo junto a Maria, exortando à penitência.
Visão profética
Além disso, um bispo vestido de branco, junto a outros bispos, sacerdotes e religiosos aparecem subindo uma montanha coroada por uma grande cruz, atravessando, para isso, uma cidade em ruínas, cheia de cadáveres.
Ao chegar ao topo, o bispo é assassinado por soldados, que fazem o mesmo com os demais eclesiásticos e outros fiéis leigos. Sob a cruz, anjos recolhem, em jarras de cristal, o sangue dos mártires e com ele regam as almas que se aproximam de Deus.
A terceira parte do segredo é uma visão profética comparável às da história sagrada. A visão de Fátima se refere sobretudo à luta do comunismo ateu contra a Igreja e os cristãos, e descreve o imenso sofrimento das vítimas da fé no século 20. O bispo vestido de branco representava o Papa João Paulo II que sofria, e foi Nossa Senhora quem desviou a bala disparada no atentado, para evitar sua morte.
Como entender este segredo a partir da fé cristã?
Todo este tema, antes e depois da sua publicação por parte da Igreja, gerou muitas interpretações e comentários.
João Paulo II, na Missa de 13 de maio de 1982, destacou a dimensão do amor materno na mensagem de Fátima, um amor que não só abrange os caminhos do homem a Deus sobre a terra, mas também os que vão além, incluindo o purgatório.
O que está no centro é a vontade de Deus, que quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. O pecado afasta o homem de Deus, fonte da vida, e acaba condenando-o. A mensagem de Fátima é um convite à conversão urgente.
Bento XVI, no diálogo que teve com os jornalistas em maio de 2010, durante a viagem a Portugal, explicou que, na terceira parte da visão, "indicam-se realidades do futuro da Igreja, que se desenvolvem e se mostram paulatinamente". Por meio de uma linguagem simbólica e profética, reafirma-se o que o próprio Jesus disse: que a Igreja teria de sofrer sempre, de diversas maneiras, até o fim do mundo.
Por isso, acrescentou, "a resposta de Fátima não tem a ver substancialmente com devoções particulares, mas com a resposta fundamental, ou seja, a conversão permanente, a penitência, a oração e as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade".
Ataque do mal
Foi o Papa alemão quem melhor resumiu o sentido do terceiro segredo de Fátima e como este deve ser entendido na fé, quando disse: "Somos realistas ao esperar que o mal ataque sempre, do interior e do exterior, mas também que as forças do bem estão presentes e que, no final, o Senhor é mais forte que o mal; e Nossa Senhora, para nós, é a garantia visível e materna da bondade de Deus, que é sempre a última palavra da história".
Vale a pena ler o denso comentário teológico publicado em 2000, ao revelar a terceira parte do segredo, assinado pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Cabe destacar este trecho: "Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado. Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da história, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tais satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para a nossa curiosidade. O que permanece – dissemo-lo logo ao início das nossas reflexões sobre o texto do 'segredo' – é a exortação à oração como caminho para a 'salvação das almas', e no mesmo sentido o apelo à penitência e à conversão". Bem claro.
Em suma, a Igreja ocultou o terceiro segredo de Fátima?
À luz de tudo o que vimos aqui, a resposta tem de ser negativa. Porque a Igreja mostrou, no seu devido tempo, o conteúdo deste segredo tão temido. Da mesma maneira, deu a conhecer o conteúdo dos outros dois, no momento oportuno.
Outra coisa é o que cada um quiser pensar, as polêmicas que queiram criar sobre o tema ou a vontade de buscar aspectos mórbidos ou esotéricos. Aqui se cumpre algo que Jesus disse e que nos remete não a um obscurantismo eclesiástico, e sim a uma estratégia que vem mais de cima: de um Deus que ocultou estas coisas aos sábios e entendidos e as revelou às pessoas simples.