Depois de muito tempo de uma crença meramente racionalista ou na técnica, há alguns anos estudiosos da Medicina têm se voltado para a religiosidade – embora de modo um tanto vago e genérico, é verdade –, como meio de ajudar os próprios pacientes.
Um breve exemplo é o do geriatra e psiquiatra americano Harold Koenig, diretor do Centro para o Estudo da Religião/Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke, na Carolina do Norte e autor do Manual de religião e saúde: revisão de um século de pesquisa.
Ciência e fé
Vale a pena citar trechos de sua fala, pois é a palavra de um homem de ciência e de fé que parece enxergar o ser humano como um todo, ou seja, a necessitar dos cuidados técnicos dos médicos, mas também da espiritualidade para a vida do dia a dia, especialmente nos momentos difíceis aos quais todos estamos sujeitos.
Perguntado se sempre foi um homem de fé, Dr. Koenig respondeu que não. “Só a partir dos 33 anos, quando enfrentei situações difíceis e busquei conforto na religião, que me ajudou a superar problemas físicos e emocionais. E hoje, sou cada vez mais religioso. Perdi meus pais nos últimos dois anos e fico muito mais tranquilo para passar por tudo isso tendo fé”.
Saúde melhor
Aliás, a fé, segundo ele – com base em pesquisas realizadas em Durham, na Carolina do Norte e em outros centros de pesquisas norte-americanos e canadenses –, ajuda as pessoas a viverem mais, pois têm elas uma saúde melhor e superam com mais facilidade as doenças que as atinge. Quem frequenta um culto religioso ao menos uma vez por semana ganha, em média, sete anos a mais de vida, diz o geriatra.
Questionado se ainda há muitos médicos céticos (não creem, nem descreem), o cientista estadunidense respondeu que a questão parece não estar em ter fé ou deixar de ter fé, pois isso seria ir contra a Ciência que tanto defendem, mas, sim, em como utilizar-se da fé em proveito dos pacientes. Ademais, o médico não deve, segundo ele, receitar fé, mas só falar nela se o paciente se predispor a saber mais.
Ajuda o doente
Ainda: a oração de terceiros sempre ajuda o doente, senão na cura física, no preparo a fim de que ele se sinta mais apto a enfrentar as adversidades da doença em sua vida. Há quem tenha fé no próprio médico ou no medicamento, o que, sem dúvida, é bom, contudo nem o profissional da saúde nem o fármaco é um deus. Ambos têm poder limitado, ao passo que a força do verdadeiro Deus é infinita.
Koenig ainda assegura: “Quando comecei a exercer a Medicina, notei que pessoas religiosas, especialmente as idosas, pareciam mais saudáveis e respondiam melhor aos tratamentos. Desfrutavam de bem-estar e tinham uma atitude mais positiva diante da vida. Decidi então estudar as relações entre a religião/espiritualidade e saúde” (Pergunte e Responderemos n. 540, junho de 2007, p. 246-247).
Espiritualidade
O Jornal do Brasil diz, por sua vez, em 05/06/03, p. A5: “A medicina começa a incluir cada vez mais em suas práticas o instrumento da espiritualidade no cuidado com os pacientes, usando a favor do doente a sua crença em uma religião ou sua busca de aprimoramento espiritual por meio de outros caminhos que não os religiosos. A mudança atende à demanda dos próprios pacientes por um tratamento que contemple sua saúde em sua dimensão mais ampla, incluindo o respeito a seu lado da espiritualidade. Pesquisas têm demonstrado que religiosos apresentam 40% menos chance de sofrer de hipertensão, têm um sistema de defesa mais forte, são menos hospitalizados, se recuperam mais rápido e tendem a sofrer menos de depressão quando se encontram debilitados por enfermidades”.
Desejamos, ao final desses dados citados sem comentários, deixar claro o que segue: a Religião, como o próprio nome diz, quer dizer religação do ser humano com Deus em vista da vida eterna, sua finalidade principal. Secundariamente, porém, ela, como se viu, ajuda as pessoas a melhor viverem o seu dia a dia. É a fé encarnada na realidade humana: pés no chão e cabeça no céu, como se tem dito.