"É difícil expressar em palavras tanto amor, tantos telefonemas, tanta simpatia que toda a Ucrânia está recebendo da Polônia. É difícil expressar em palavras. Estamos cientes dos problemas históricos entre a Ucrânia e a Polônia, mas neste momento a Polônia é simplesmente alguém do nosso lado, que simpatiza e ajuda”, diz Pe. Andrzej Lalik, vigário da paróquia da Natividade de São João Batista em Mościska, perto de Lviv. Ele falou com a edição polonesa da Aleteia.
As pessoas que buscam segurança migram para a fronteira polonesa. Muitos deles passam por Mościska...
Padre Andrzej Lalik: Sim, é verdade. Mościska é a última grande cidade ucraniana antes da fronteira. A rota principal para a passagem de fronteira em Medyka passa por aqui. Minha cidade mudou completamente. Todas as ruas estão bloqueadas com carros, há filas enormes, milhares de pessoas estão se movendo a pé com suas malas, com crianças pequenas, para a fronteira.
A Polônia removeu todos os obstáculos e facilitou a passagem de fronteira. Não há apenas ucranianos aqui, mas também muitos africanos, asiáticos, pessoas que falam línguas diferentes, que querem ir para a Polônia.
Qual é a situação deles?
Muito trágica. Eles levaram suas coisas, levaram seus filhos com eles e estão indo a pé. A passagem da fronteira fica a 15 km de Mościska. E seguem a pé, dia e noite. Muita vezes, abandonam suas malas no caminho porque não conseguem carregar. São principalmente mulheres e crianças pequenas, porque o governo ucraniano proíbe homens entre 18 e 60 anos de deixar a Ucrânia.
Nós distribuímos sanduíches e chá quente. À noite, uma mãe com filhos pequenos andou ao nosso lado, carregando malas. Uma das crianças estava doente e tossindo muito. E há tantos quilômetros a percorrer. Oferecemos acomodação a ela, mas ela queria ir mais longe, para a Polônia.
O número de imigrantes está aumentando?
Sim, existem milhares, milhares de pessoas. Muitos vêm de carro. Mulheres com filhos viajam juntas, e os carros estão lotados. Elas esperam na fila por pelo menos um dia e meio, e até dois dias e meio, para atravessar a fronteira. A fila de carros se estende de 25 km a 40 km.
Qual é a temperatura à noite lá?
A temperatura pode ficar abaixo de zero. Aqui a cidade termina e a floresta começa. Não há banheiro, tudo está escuro, trágico. Sinto muito por todas aquelas pessoas que estão deixando a Ucrânia.
Como a comunidade paroquial está no momento?
Infelizmente, alguns de nossos paroquianos também partiram para a Polônia. Muitos têm familiares ou filhos lá. Aqui, a paróquia ajuda. Quando há pobreza, as pessoas se juntam. Mesmo aqueles que não estavam se dando bem juntos vêm ao presbitério para cozinhar algo, levá-lo para a rua e oferecê-lo às pessoas.
Havia um problema com roupas de cama ou colchões, então as pessoas começaram a trazer seus próprios travesseiros, colchas e colchões. Eles compartilham com os refugiados que estão dormindo na escola. A paróquia também está respondendo à emergência. Ajudamos da maneira que pudermos. Ninguém se arrepende de oferecer seu dinheiro, recursos materiais, carro, combustível ou comida para compartilhar.
Como é essa experiência para você como padre?
Lamento que a Rússia tenha invadido a Ucrânia e que haja uma guerra, mas não vou fugir, não vou me esconder. Estou no meu posto, pronto para ouvir confissões, para celebrar a missa.
Nós rezamos muito. Na paróquia, organizamos a adoração ao Santíssimo Sacramento, Rosários e Estações da Cruz. Celebramos a missa como antes da guerra. Nenhum de nós, sacerdotes, fugiu. Todos na diocese estão no lugar e prontos para estar com os paroquianos até o fim.
A paróquia de Mościska fica perto da fronteira com a Polônia. Como você percebe as reações dos poloneses ao que está acontecendo na Ucrânia?
É difícil expressar em palavras tanto amor, tantos telefonemas, tanta simpatia que toda a Ucrânia está recebendo da Polônia. É difícil expressar em palavras.
Estamos cientes dos problemas históricos entre a Ucrânia e a Polônia, mas neste momento a Polônia é simplesmente alguém do nosso lado, que simpatiza e ajuda.
O que é a Ucrânia para você?
Minha terra natal. Eu nasci na Ucrânia, mas venho de uma família polonesa e tenho cidadania polonesa. Eu amo a Ucrânia e a Polônia. E meu coração dói pelo sofrimento do meu país, porque sei que a guerra não leva a nada de bom, mas à destruição e à morte. Por que mães e filhos deveriam sofrer assim? Por que os homens deveriam morrer na guerra?