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Tal como Maria e José, também nós podemos tomar grandes decisões sem arrependimentos

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Michael Rennier - publicado em 21/03/22

Alguma vez você se sentiu paralisado quando se deparou com uma bifurcação no caminho? A Anunciação pode ser uma inspiração

Sou uma daquelas pessoas que, quando encontro uma bifurcação num caminho no bosque, lamento não poder percorrer os dois caminhos. Incomoda-me o fato de não saber para onde vai o outro caminho. Talvez seja algo grandioso – uma cachoeira ou vista panorâmica – mas, infelizmente, não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo. Tenho de arriscar, escolher um caminho e ater-me a ele.

É um enigma clássico. Em “The Road Not Taken”, Robert Frost escreve,

Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
Mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive

Paralisado em uma encruzilhada, Frost captou o próprio espírito da indecisão. Ou talvez seja o espírito consumista. Queremos experimentar ambos os caminhos e, como um cão que deixa cair o osso na boca porque vê outro osso refletido na água, perdemos ambos. Talvez se eu reescrevesse esses versos me colocasse num restaurante durante toda a noite a olhar para todas as imagens de panquecas, waffles, e torradas francesas. Ponha esse menu à minha frente e eu quero tudo.

O poema termina com a famosa reflexão do poeta sobre ter tomado a estrada menos percorrida. Gerações de oradores motivacionais e homilistas exortaram-nos a fazer o mesmo. Tudo bem, no que diz respeito a isso. Tomem o caminho que vos convém, suponho, e o caminho menos viajado pode de fato ter as suas recompensas.

Os outros caminhos

Mas o engraçado é que o poema se intitula “A estrada não trilhada”. Por outras palavras, ele decidiu-se por uma estrada, mas anos mais tarde ainda pensa na outra estrada.

Se já você viveu tempo suficiente, provavelmente já tomou alguma grande decisão, que mudou a sua vida. Decidiu frequentar uma faculdade, ou não. Talvez tenha se mudado para uma nova cidade para um novo emprego. Tomamos grandes decisões muitas vezes, mas são escolhas de vida tão assustadoras que me fascina a nossa capacidade de as tomar.

De fato, surpreendo-me por nunca me ter arrependido ou questionado a decisão de me casar, nem mesmo por um instante. Naquela altura, tínhamos ambos 19 anos e várias pessoas advertiram-nos sobre a nossa juventude. Nada disso importava. Nunca houve uma dúvida na minha mente.

Depois de casarmos, Amber e eu tomámos uma série de grandes decisões em conjunto. Mudámo-nos de Tulsa, Oklahoma, para New Haven, Connecticut, para que eu pudesse estudar. Depois disso, tomámos a decisão de nos mudarmos para Cape Cod, onde aceitei um trabalho liderando uma pequena igreja anglicana.

Decidimos comprar uma casa e ter um filho. Decidimos continuar a ter filhos – seis deles. Convertemo-nos ao catolicismo juntos, mudámo-nos novamente pelo país, entrei no processo de discernimento para ser ordenado sacerdote católico, e comprámos e vendemos mais algumas casas. Tudo isto sem qualquer hesitação ou arrependimento. Não posso dizer que, mesmo uma única vez, tenha olhado para trás na minha vida e imaginado um conjunto alternativo de escolhas.

A Anunciação

A razão pela qual as grandes decisões estão na minha mente é porque esta sexta-feira é a festa da Anunciação. É quando o anjo Gabriel anunciou a Maria que ela iria conceber e dar à luz um filho como Virgem. Imagine as considerações que ela e José poderiam ter feito?

Mas José, para usar a linguagem moderna, precisou de um minuto. Ele revirou o cenário na sua mente – o embaraço, as implicações sociais, a família e a necessidade de proteger a pureza de Maria. No final, ele concordou. Tanto quanto sabemos, ele nunca lamentou a sua decisão.

Maria também tinha muito em que pensar. O que lhe foi pedido era assustador. Foi uma decisão enorme e que, mesmo depois de tomada, ela passou anos a ponderar no seu coração. Ela também nunca se arrependeu da sua decisão.

As nossas escolhas nos transformam. Uma decisão única e definidora da vida é uma extensão natural do desenvolvimento pessoal. Olhando para trás nas minhas escolhas, porque me arrependeria da pessoa em que me tornei? Por que questionar se quem eu sou não é suficientemente bom? Claro, talvez as nossas escolhas nos tenham levado por caminhos difíceis, talvez até uma escolha se tenha revelado um erro, mas as escolhas fazem de nós quem somos e não há que lamentar isso.

A humildade é o segredo

Há humildade em fazer uma escolha. Não podemos ter tudo ou ser tudo. Eu sou quem sou, com todos os meus defeitos e e limitações. Este é o segredo para tomar grandes decisões e não para as lamentar. Não se arrependa de quem você é. Não anseie pelo caminho não tomado e não deseje ter-se tornado alguém diferente.

Sabendo como é pessoal a tomada de decisões, o conselho de escritores como Santo Inácio de Loyola torna-se eminentemente prático. Essencialmente, diz ele, purifique os seus desejos, imagine a pessoa que se quer tornar e a vida que se quer viver, não se distraia com o que outras pessoas estão a fazer, livre-se de apegos insalubres. Inácio está a dizer que temos de nos conhecer a nós próprios. Desta forma, quando nos encontramos numa bifurcação na estrada, não somos levados a um impasse pelo medo e pela dúvida. Viva a sua vida. Só você pode vivê-la.

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