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O Mistério da Cruz e a suposta imagem de Santa Teresinha

BENEDETTA BIANCHI PORRO

Courtesy of Bianchi Porro Family

José Eduardo Câmara de Barros Carneiro - publicado em 12/04/22

Uma fotografia comovedora circula nas redes sociais, alegando ser uma Comunhão de Santa Teresinha do Menino Jesus, mas não é

Circula pelas redes sociais uma imagem que se diz ter sido um registro fotográfico de uma Comunhão de Santa Teresinha do Menino Jesus, realizado um pouco antes de sua morte. 

Trata-se de uma fotografia realmente comovedora. Infelizmente não é uma foto da Padroeira das Missões, mas é sim de uma santa no final de sua vida, ou melhor, de uma beata: Benedetta Bianchi Porro. 

A foto foi tirada no final de 1963, pouco tempo antes da sua morte, ocorrida em 23 de janeiro de 1964. 

Ela também faleceu muito jovem, mas não foi religiosa como a Carmelita de Lisieux. Benedetta foi leiga e estudante de medicina.

Vida

Ela teve uma vida marcada pela enfermidade, pela dor, pela Cruz. Mas apesar das dificuldades, Benedetta não era de regredir, as cruzes não a impediram de tentar com todas as forças realizar seu sonho de se tornar médica. 

Durante a faculdade, os graves sintomas da sua doença se tornam cada vez piores, especialmente a surdez, diante da perplexidade dos médicos. Por fim, será ela mesma a descobrir sua enfermidade: a doença de Von Recklinghausen.

Jesus vinha ao seu encontro com sua Cruz, e aquela que era aplicadíssima aluna de medicina, deverá agora se empenhar na escola do Calvário, onde o Espírito Santo lhe ensinará a Sabedoria da Cruz. 

A doença progride, diminuindo progressivamente sua capacidade motora, mesmo a tornando cega. Mas também progredia sua intimidade com Deus, sua vida interior ia se tornando mais profunda. 

O Espírito Santo, com aquelas misteriosas operações que realiza nas almas, vai transformando Benedetta: ela vai se tornando luminosa, porque o Mistério da Cruz é cheio de luz, para aqueles que tem fé. 

Caminho espiritual

Mas deixemos que ela mesma nos conte algo de seu caminho espiritual. Alguns meses antes de sua morte, Benedetta tem conhecimento, através da leitura “pelas mãos” que sua mãe lhe faz – ela já não ouve nem vê mais – de uma carta publicada numa revista de então, do sofrimento de um jovem chamado Natalino Diolaiti, que tinha uma grave malformação da espinha. Então, resolve consolá-lo. O sofrimento ao invés de fechá-la em si mesma, abre-a para Deus e para os irmãos, pois a Cruz é verdadeira escola da caridade. Assim, em 01 de junho de 1963, lhe escreve: 

“Querido Natalino,

Na revista “Época” foi publicada uma carta sua. Através das mãos, mamãe leu-a para mim. Estou surda e cega, portanto, para mim a coisa se torna bastante difícil.

Como você, tenho também vinte e seis anos, e estou enferma há tempos. Uma doença atrofiou-me toda quando estava para concluir meus estudos; estava para me formar em medicina em Milão. Eu acusava uma surdez que os próprios médicos custavam a acreditar. Então eu continuava assim sem ser ouvida, mergulhada nos estudos, que amada desesperadamente. Aos dezessete anos, já estava matriculada na Universidade.

Depois, com a doença, tive de interromper completamente, quando estava quase no fim do curso, na época de minha última prova. A formatura quase alcançada só me serviu para fazer meu próprio diagnóstico, pois até então ninguém tinha entendido do que se tratava.

Há três meses, eu ainda tinha visão; agora, é noite. Porém, em meu calvário, não estou desesperada. Sei que no fim do caminho Jesus espera por mim.

Antes na cadeira, agora na cama, que é a minha morada, encontrei uma sabedoria maior do que a dos homens. Descobri que Deus existe e é amor, fidelidade, alegria, certeza, até a consumação dos séculos.

Muito em breve, nada mais serei do que um nome, mas meu espírito viverá aqui entre os meus, entre aqueles que sofrem, e eu mesma não terei sofrido em vão.

E você, Natalino, não se sinta sozinho, nunca! Prossiga serenamente na caminhada do tempo e receberá luz, verdade: o caminho no qual existe a verdadeira justiça, que não é a dos homens, mas a que só Deus pode dar.

Os meus dias não são fáceis; são duros, mas doces, porque Jesus está comigo, com o meu sofrer, e me dá suavidade na solidão e luz na escuridão. Ele me sorri e aceita minha cooperação com a sua Providência.

Adeus, Natalino, a vida é breve e passa rapidamente. Tudo é uma brevíssima passarela, perigosa para quem quer gozar desenfreadamente, mas segura para quem coopera com ele para chegar à Pátria.

Receba meu abraço. Sua irmã em Cristo,

Benedetta.”

Encontro definitivo

Estas tocantes palavras revelam como sua Benedetta já se preparava para o Encontro definitivo, como já tinha se deixado educar, moldar e transformar por Deus na Cruz. 

Em novembro de 1963, escreverá ao Padre Gabriel Casolari, sacerdote que aparece na citada foto lhe dando a Sagrada Comunhão:

“Em minha inútil solidão, ele não me deixa sozinha nunca, porém. Ele sempre está ternamente conosco, se soubermos atentamente amá-lo e ouvi-lo. Repito com o profeta Jeremias: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir”. Se nós, Padre, soubermos viver cada instante com ele, tudo será encantadoramente maravilhoso. Gosto de lembrar uma frase de São Francisco: “Tal é o bem que eu aguardo que toda pena é-me encanto! Como são verdadeiras as palavras “Deus dá a cruz e depois da cruz, a ressurreição!” Em cada provação, ele olha para nós, fala-nos, consola-nos. E eu penso que tudo é como a primavera que desabrocha, refloresce, emana perfume depois do frio e do gelo do inverno!”

Benedetta encontrará a sua verdadeira Primavera depois do inverno, a ressurreição depois da cruz, em 23 de janeiro de 1964. Finalmente, se encontra definitivamente com quem tanto ama e quem tanto esperava: Cristo Jesus!

Benedetta Bianchi Porro foi beatificada em 14 de setembro de 2019.

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