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Direto do Vaticano: Papa pede que padres não se tornem pagãos clericalizados

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Antoine Mekary | ALETEIA

I. Media - publicado em 15/04/22

Boletim Direto do Vaticano, 15 de abril de 2022
  • O Papa exorta os padres a não se tornarem “pagãos clericalizados”
  • “Não, a guerra não é inevitável”, teoriza o Papa em livro
  • Francisco presta homenagem à visão de Joseph Ratzinger

Papa pede que padres não se tornem “pagãos clericalizados”

Na Missa Crismal, nesta Quinta-feira Santa, o Papa falou sobre “três espaços de idolatria escondida nos quais o Maligno se serve dos seus ídolos para nos enfraquecer na nossa vocação de pastores e, pouco a pouco, separar-nos da presença benéfica e amorosa de Jesus, do Espírito e do Pai“.

Disse o Santo Padre:

“Um primeiro espaço de idolatria escondida abre-se onde há mundanidade espiritual, que é «uma proposta de vida, é uma cultura, uma cultura do efémero, uma cultura da aparência, uma cultura da maquilhagem». O seu critério é o triunfalismo, um triunfalismo sem Cruz. E Jesus reza para que o Pai nos defenda desta cultura da mundanidade. Esta tentação duma glória sem Cruz vai contra a pessoa do Senhor, vai contra Jesus que Se humilha na Encarnação e que, como sinal de contradição, é o único remédio contra todo o ídolo. Ser pobre com Cristo pobre e «porque Cristo escolheu a pobreza» é a lógica do Amor; e não outra. No texto evangélico de hoje, vemos como o Senhor Se apresenta na sua humilde sinagoga e na sua pequena aldeia – a de toda a vida – para proferir o mesmo Anúncio que fará no final da história, quando vier na sua Glória, rodeado pelos anjos. E os nossos olhos devem estar fixos em Cristo, na história de Jesus aqui e agora comigo, como estarão na parusia. A mundanidade de andar à procura da própria glória rouba-nos a presença de Jesus humilde e humilhado, Senhor próximo de todos, Cristo sofredor com todos os que sofrem, adorado pelo nosso povo que sabe quais são os seus verdadeiros amigos. Um sacerdote mundano não passa dm pagão clericalizado. Repito: um sacerdote mundano não passa dum pagão clericalizado.”

“Outro espaço de idolatria escondida cria raízes onde se dá a primazia ao pragmatismo dos números. Aqueles que possuem este ídolo escondido, reconhecem-se pelo seu amor às estatísticas, aquelas que podem apagar qualquer traço pessoal no debate e dar a proeminência às maiorias, que passam a ser, em última análise, o critério de discernimento. Está mal! Mas isto não pode ser a única maneira de proceder nem o único critério na Igreja de Cristo. As pessoas não se podem reduzir a números, e Deus dá o Espírito «sem medida» (Jo 3, 34). Na realidade, neste fascínio pelos números, é a nós mesmos que nos procuramos, comprazendo-nos no controlo que nos dá esta lógica, que não se interessa dos rostos, e não é a lógica do amor; ama os números. Uma caraterística dos grandes santos é que sabem retirar-se para deixar todo o espaço a Deus. Este retirar-se, este esquecer-se de si mesmo e querer ser esquecido por todos os outros é a caraterística do Espírito, o Qual carece de imagem; o Espírito não tem imagem própria, simplesmente porque todo Ele é Amor, que faz brilhar a imagem do Filho e, nesta, a do Pai. A substituição da sua Pessoa, que já de por si gosta de «não aparecer» (porque não tem imagem!), é aquilo que visa o ídolo dos números, que faz com que tudo «apareça», mas de modo abstrato e contabilizado, sem encarnação.”

“Um terceiro espaço de idolatria escondida, emparentado com o anterior, é aquele que se abre com o funcionalismo, um ambiente sedutor em que muitos, «mais do que pelo percurso, se entusiasmam com a tabela de marcha». A mentalidade funcionalista não tolera o mistério, aposta na eficácia. Pouco a pouco, este ídolo vai substituindo em nós a presença do Pai. O primeiro ídolo substitui a presença do Filho; o segundo ídolo, a do Espírito; e este, a presença do Pai. O nosso Pai é o Criador: não alguém que faz apenas «funcionar» as coisas, mas Alguém que «cria» como Pai, com ternura, ocupando-Se das suas criaturas e agindo para que o homem seja mais livre. O funcionalista não sabe alegrar-se com as graças que o Espírito derrama sobre o seu povo e das quais poderia também «alimentar-se» como trabalhador que recebe a sua recompensa; mas o sacerdote com mentalidade funcionalista tem o seu alimento que é o próprio «eu». No funcionalismo, deixamos de lado a adoração do Pai nas pequenas e grandes coisas da nossa vida e comprazemo-nos na eficácia dos nossos programas, como fez David, quando, tentado por Satanás, se obstinou em realizar o recenseamento (cf. 1 Cro 21, 1). Estão enamorados pelo plano de rota, pelo plano do caminho, não pelo caminho.”


“Não, a guerra não é inevitável”, teoriza o Papa em livro

Por Anna Kurian: No prefácio de um livro publicado a 14 de Abril pela Livraria do Vaticano, o Papa entrega um novo panfleto contra a guerra, uma “derrota da política” e uma “capitulação vergonhosa perante as forças do mal”. “O ódio deve ser arrancado dos corações antes que seja demasiado tarde”, ele diz, levantando o espectro de uma guerra nuclear na Europa, no contexto do conflito russo-ucraniano. O livro de 192 páginas em italiano, intitulado “Contra a guerra, a coragem de construir a paz”, reúne os principais textos do chefe da Igreja Católica sobre o assunto, menos de dois meses depois de a Ucrânia ter sido “atacada e invadida” – denuncia ele.

Há um ano”, confidenciou o Papa no seu prefácio, assinado a 29 de Março, “durante a minha peregrinação ao Iraque, um país martirizado, pude tocar com o dedo o desastre causado pela guerra, pela violência fratricida e pelo terrorismo, vi as ruínas das casas e as feridas dos corações […]. Nunca imaginei então que um ano mais tarde veria surgir um conflito na Europa. “Perante o grito das crianças e das mulheres, só podemos gritar: “Parem!”, diz o pontífice, que nunca deixa de se manifestar contra esta “loucura”, este “monstro”, este “sacrilégio”, que é a guerra, “um cancro que se alimenta de si próprio através da fagocitação de tudo”.

Rumo a uma terceira guerra mundial

“Antes de chegar à linha da frente, a guerra deve ser parada nos corações”, repetiu o Papa Francisco, sob pena de preparar “um futuro de morte para os nossos filhos e os nossos netos”. E ele preocupa-se: “Pouco a pouco estamos a caminhar para a catástrofe. Peça por peça, o mundo corre o risco de se tornar o cenário de uma terceira guerra mundial única.

“Não, a guerra não é inevitável”, afirma repetidamente o sucessor de Pedro. “Há milhões de jovens que nos pedem para fazer todo o possível e impossível para parar a guerra”, acrescentou, explicando que a guerra é desencadeada “quando apagamos a face do outro”. Para sair da lógica da guerra, salientou, “precisamos de diálogo, negociação, escuta”, “criatividade diplomática”, bem como “políticas visionárias capazes de construir um novo sistema de coexistência que já não se baseie em armas”.

O pontífice reiterou que a utilização e posse de armas nucleares é “imoral”. Mais uma vez criticando a indústria de armamento, concluiu renovando o seu apelo na encíclica Fratelli tutti para dedicar dinheiro das despesas militares a “um Fundo Mundial para finalmente eliminar a fome e promover o desenvolvimento dos países mais pobres”.


Francisco presta homenagem à visão de Joseph Ratzinger

Por Cyprien Viet: Por ocasião da sua recente visita a Malta, como é costume em cada viagem, o Papa Francisco dedicou algum tempo ao diálogo com os jesuítas locais. Uma transcrição desta conversa informal de cerca de quarenta minutos, realizada na manhã de domingo 3 de Abril na Nunciatura Apostólica na presença de 38 religiosos malteses, foi colocada online pela La Civiltà Cattolica, a revista italiana dos Jesuítas, antes da sua publicação em formato papel a 16 de Abril. I.MEDIA analisa os principais tópicos discutidos durante o diálogo, incluindo o futuro da Igreja, a crise vocacional e o caminho sinodal.

A “Igreja do futuro” será menor, mas mais autêntica

O Papa Francisco, que confidenciou conhecer alguns dos seus confrades malteses durante a sua formação como jesuíta no Chile nos anos 60, foi questionado sobre a sua visão da “Igreja do futuro”. Ele prestou uma sincera homenagem ao seu predecessor, explicando que “o Papa Bento XVI tem sido um profeta desta Igreja do futuro, uma Igreja que perderá muitos privilégios, será mais humilde e autêntica e encontrará energia para o essencial”, disse o Papa argentino.

Esta visão de uma “Igreja dos pequenos” foi uma das “mais ricas ideias” de Joseph Ratzinger como teólogo e bispo, explicou o seu sucessor. Referia-se ao conteúdo de uma entrevista que Joseph Ratzinger deu a uma estação de rádio alemã em 1969, que tem sido regularmente citada nos últimos anos.

Evangelização, eixo central do pontificado

“Não devemos esquecer a jóia da Evangelii Nuntiandi de Paulo VI”, insistiu o Papa Francisco durante a conversa, referindo-se à exortação apostólica publicada pelo papa italiano durante o Ano Santo de 1975. “A alegria da Igreja é evangelizar”, insistiu o pontífice, recordando que a perspectiva de uma “Igreja em movimento” tinha sido formulada durante as congregações gerais que preparavam o conclave de 2013.

“Hoje, o Senhor está a bater de dentro para que o possamos deixar sair”, o Papa recordou-nos uma vez mais com humor. Explicou também que “cuidar da casa comum já é evangelizar”, convidando os jesuítas a investir no tema da preservação ambiental. “Não cuidar do clima é um pecado contra o dom da criação de Deus”, insistiu o Papa Francisco.

Acompanhamento de vocações sem concentração em números

Sobre a questão das vocações, o Bispo de Roma reiterou que as congregações religiosas não deveriam concentrar-se na sua preocupação com o baixo número de participantes, mas deveriam sobretudo levar a cabo um “discernimento adequado”, identificando perfis que satisfaçam estas qualidades essenciais: “humildade, serviço, autenticidade”. Eventuais partidas, ligadas por exemplo a assuntos amorosos ou problemas familiares, devem ser acompanhadas com atenção e caridade.

Por outro lado, o Papa advertiu contra o risco de instrumentalização ligado à preocupação com os números: recordou a sua memória do Sínodo sobre a Vida Consagrada de 1994, durante o qual “o escândalo dos noviços nas Filipinas tinha rebentado: congregações religiosas foram lá procurar vocações para ‘importar’ para a Europa”, o Papa Francisco ficou aborrecido, apelando em vez disso à criatividade para enfrentar o envelhecimento das comunidades religiosas na Europa.

Nas congregações religiosas e particularmente na Companhia de Jesus, “os superiores devem fomentar a confiança”, insistiu o Papa, que foi ele próprio Provincial dos Jesuítas na Argentina de 1973 a 1979 e foi criticado pelo seu autoritarismo, como ele próprio admitiu. Convidou-os a confiar no Espírito Santo “a dar-lhes o conselho certo”, disse ele. O Papa aconselhou a formação de aspirantes “com a sabedoria que a Igreja tem acumulado ao longo do tempo”, mas sem procurar “uniformizar os jovens”. “Não somos todos iguais”, insistiu ele.

“Sejam jovens normais, capazes de tomar decisões sobre a vossa vida pelo caminho”, o Papa aconselhou os seminaristas e os noviços, pedindo aos responsáveis que abandonassem “qualquer hipocrisia que arruine a trajetória de um jovem”.

Compreender o significado do Sínodo

Relativamente ao “caminho sinodal”, o Papa falou da sua frustração pessoal quando foi relator geral do Sínodo de 2001, em substituição do Cardeal Egan, que ficou em Nova Iorque por causa dos ataques do World Trade Center. “Claramente, houve uma falta de compreensão do que é um Sínodo”, disse ele, relatando como as propostas votadas pelos vários grupos, que ele era responsável por transmitir à Secretaria Geral do Sínodo, foram frequentemente bloqueadas. “Havia coisas que [a secretaria do Sínodo, nota do editor] não consideravam apropriadas. Em suma, houve uma pré-seleção de materiais”, recorda o Papa argentino, que estava então a viver uma das suas primeiras experiências romanas como cardeal.

A dinâmica espiritual de um Sínodo deve ser vivida em completa liberdade, “entre consolações e desolações”, explicou Francisco, relatando, por exemplo, que o tema dos “padres casados” tinha estado no centro das primeiras sessões do Sínodo de 2019 sobre a Amazónia, mas que os debates tinham então passado para outros temas: “O Espírito também nos fez compreender que faltavam muitas outras coisas: catequistas, diáconos permanentes, o seminário para os indígenas, sacerdotes que vêm de outras dioceses ou que estão deslocados dentro da mesma”, disse o Papa.

A necessidade de solidariedade europeia no acolhimento de migrantes

Questionado sobre o acolhimento de migrantes, o Papa apelou uma vez mais à solidariedade com os países do sul da Europa. “Compreendo que para a Itália, Chipre, Malta, Grécia e Espanha não é fácil. São eles que os devem receber porque são os primeiros portos, mas depois a Europa deve cuidar deles”, insistiu ele.

“Na Europa, devemos fazer progressos no domínio dos direitos humanos para eliminar a cultura do descarte”, insistiu o Papa.

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