O bilionário Elon Musk negociou um acordo para comprar o Twitter por cerca de US$ 44 bilhões. Esse acordo, que pode ou não ser aprovado, parece ser animado pelo desejo de Musk de promover a liberdade de expressão na plataforma.
Pouco depois de anunciar sua tentativa de comprar a mídia social, Musk disse: “O Twitter se tornou uma espécie de praça da cidade, então é realmente importante que as pessoas tenham a percepção de que podem falar livremente dentro do limites da lei”.
Musk também falou várias vezes sobre a censura do Twitter. Criticou, inclusive, a suspensão do New York Post da plataforma.
Elon Musk também afirmou que, “para o Twitter merecer a confiança do público, ele deve ser politicamente neutro".
O bilionário também falou sobre a liberdade de expressão: “Por 'liberdade de expressão', quero dizer simplesmente o que está de acordo com a lei”. Ele ainda declarou: “Sou contra a censura que vai muito além da lei”. Então, para Musk, as proibições e suspensões do Twitter vão além da lei do país, mas esse é o único princípio que deve reger a liberdade de expressão?
Doutrina social católica e liberdade de expressão
O Compêndio da Doutrina Social da Igreja afirma:
Aqui a Igreja fala do direito de articular as próprias opiniões. Parece razoável concluir que isso se estenderia às plataformas de mídia social, que, como Musk vê, se tornaram a praça pública.
Qualquer coisa serve?
Para a Igreja, no entanto, isso não significa que vale tudo. Os críticos de Musk se preocupam com os limites da liberdade de expressão. No passado, o Twitter permitia postagens incitando diretamente a violência, como aconteceu durante a “Primavera Árabe”. Outros estão preocupados em reviver a experiência de assédio que sofreram anteriormente no site.
A Igreja Católica ensina que existem limites para “o bem comum e a ordem pública”. Mas isso exige dos cidadãos as virtudes gêmeas da prudência e da responsabilidade.
Prudência
Para Tomás de Aquino, o teólogo dominicano medieval, a prudência é a rainha das virtudes morais. Segundo ele, a prudência é regnetiva, ou, como ele diz, “sabedoria sobre os assuntos humanos”. A prudência é a virtude que, como diz Thomas Hibbs, “envolve não simplesmente a subordinação de particulares a universais apropriados, mas a avaliação de circunstâncias concretas e contingentes”. A prudência orienta a aplicação dos princípios morais, animando o prudente a aplicá-los na vida cotidiana.
No Twitter, a prudência deve conter a depreciação e o discurso desnecessariamente depreciativo. Porque a prudência orienta homens e mulheres para o autêntico florescimento humano, ela anima o princípio católico que exige que a liberdade de expressão seja ordenada ao bem comum. A autêntica liberdade humana, em última análise, permite que a pessoa se afaste “de tudo o que possa impedir o crescimento pessoal, familiar ou social” (Compêndio, n. 200).
Responsabilidade
Na perspectiva católica, “a vida humana em sociedade é ordenada, produz frutos de bondade e responde à dignidade humana quando se fundamenta na verdade”. Para que isso aconteça em uma sociedade, homens e mulheres devem aceitar a responsabilidade por suas ações.
Em uma plataforma digital, é fácil interagir descuidadamente ou anonimamente. Na melhor das hipóteses, isso pode ser divertido. No pior cenário, essas trocas distorcem a realidade e prejudicam o tecido da sociedade, das pessoas que vivem em comunhão umas com as outras. Aspectos particularmente viciosos das personalidades podem ser amplificados, enquanto as virtudes pessoais são silenciadas ou ocultas. A responsabilidade requer autenticidade e vulnerabilidade. Somente com esse núcleo de virtudes podem ocorrer trocas autênticas.
A possível compra do Twitter por Musk levanta muitas questões sobre a natureza da liberdade de expressão. Esperemos que outras vozes católicas aproveitem o momento para refletir mais profundamente sobre o que isso significa na praça pública digital.