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Recordando Monsenhor Nilo (II)

POPE-FRANCIS-CHRISM-MASS

Antoine Mekary | ALETEIA

Vanderlei de Lima - publicado em 01/05/22

A ideia de publicar artigos na imprensa seguia (e segue) um raciocínio muito simples: se eu tenho, por graça de Deus, a oportunidade de ler e aprender tantas coisas boas, devo partilhá-las

Tive – continuando meu artigo da semana passada – outro importante encontro com o Monsenhor Nilo, desta vez na secretaria paroquial, em março de 1999. O assunto principal era, agora, a imprensa. 

Sim, eu me aventurara, em outubro de 1998, a escrever para jornais. Meu primeiro artigo foi publicado no extinto jornal O Comércio, de Amparo (SP), com o título “Nossa Senhora Aparecida”, por ocasião de sua festa.

A ideia de publicar artigos na imprensa seguia (e segue) um raciocínio muito simples: se eu tenho, por graça de Deus, a oportunidade de ler e aprender tantas coisas boas, devo partilhá-las. Tento, prezado(a) leitor(a), aprender com quem sabe muito mais do que eu e passar isso a quem sabe um pouco menos.

Foi esse o anseio que expus ao Monsenhor Nilo naquela conversa e ele julgou a ideia excelente, mas com uma sábia condição, aliás, muito própria dele: eu escreveria os artigos, ele até me conseguiria espaço nos jornais, mas – ao menos de início – gostaria de ler o que eu escrevia antes de ser publicado.

Não é preciso dizer que aceitei de imediato. Nesse gesto aprendi mais uma característica sua: o tempo somos nós quem fazemos. Seja-me permitido exclamar: quanta humildade e dedicação à causa do Reino de Deus naquele sacerdote! Com tantos afazeres de pároco zeloso, ainda se dispunha a ler os textos certamente não tão bem elaborados deste modesto candidato a escritor. Resultado: a coisa caminhou bem e, depois de três ou quatro artigos, o “Padre Nilo” me liberou para escrever sozinho, não, porém, sem antes fazer mais um sapientíssimo alerta: “Sempre que você for tratar de assuntos religiosos católicos, busque distinguir bem o que é realmente declaração da Igreja e o que são opiniões particulares de bispos, sacerdotes ou teólogos”.

De lá para cá, não parei mais de escrever, embora, às vezes, por circunstâncias particulares, tenha publicado com menos assiduidade ou não publicado nada, como foram os casos dos anos de 2000 e de 2003, especificamente. Via de regra, porém, continuo ainda tentando, na escola da vida, aprender a redigir bons textos. Essa santa teimosia, eu a devo em grande parte ao sempre querido Monsenhor Nilo.

Evidentemente, depois disso, voltei a visitá-lo mais algumas vezes, sempre que me era possível. A pergunta que brotava de sua brilhante memória era toda vez alentadora: “Continua escrevendo aqueles bons artigos ainda?”. Minhas respostas afirmativas o animavam, e de sua animação contida saia a frase ainda mais estimuladora: “Não pare de redigir, o nosso povo precisa de boas leituras”.

Lembro-me, por fim, de que tive três conversas mais demoradas com Monsenhor Nilo em seus últimos anos de vida. A primeira delas foi, em Campinas, num almoço feito para homenagear Dom Gilberto Pereira Lopes, arcebispo-emérito de Campinas, por ocasião de seus 80 anos de vida. A segunda aconteceu, em sua casa, em 2007. Voltando de Bragança Paulista (SP) por um caminho sinuoso, passei por lá à noite e o encontrei, apesar de já idoso, bastante entusiasmado, falando da paróquia com suas pastorais e movimentos, suas leituras, seus projetos de construções e reformas etc.

O terceiro e último encontro foi, em 2009, à tarde, na secretaria paroquial. Avisado por um padre de que o Monsenhor Nilo já não era mais o pároco da Santana e havia, inclusive, deixado a casa paroquial em que morara nos últimos anos, decidi vê-lo. Encontrei em sua sala, ao lado da Matriz, um Monsenhor Nilo bastante abatido e, apesar de muito atencioso como sempre, pouco disposto a conversar. Mesmo assim, ele me ofereceu o livro de Priscilla Raggio, escrevendo na folha de rosto: “Ao amigo Vanderlei de Lima, de Mons. Nilo Romano Corsi”. Poucos meses depois, ele faleceu. 

No entanto, continua vivo em nossos corações e junto a Deus intercede por nós, que ainda peregrinamos neste vale de lágrimas, esperançosos da vida eterna.

Ao Monsenhor Nilo, exímio latinista, só resta formular um voto: Requiescat in pace! (Descanse em paz!).

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