A poderosa atração das terras longínquas e a força inspiradora de um propósito de liberdade
Em 2017, Jesse Koz pediu as contas na loja de roupas em que, na véspera, tinha sofrido um ataque de pânico.
“Eu trabalho das 15h às 23h e perco a minha vida inteira aqui dentro. Não tô fazendo nada por mim nos últimos 7 ou 8 anos da minha vida”.
O ataque de pânico precedeu em poucas horas o brado de alforria, conforme Jesse viria a relatar em 2020 ao podcast Camboriú Play.
Naquele dia da virada de chave,
“…quando cheguei no shopping, tinha muita gente, muito cliente, a maioria argentino e uruguaio, e eu não sabia falar nada de espanhol. Eles chegavam na loja, olhavam, olhavam e não compravam nada. Fiquei umas duas horas sem conseguir vender nada para ninguém, naquela pressão de vender – porque se você não vender, você não ganha. Me deu um surto, fui pra frente da loja e tudo parou, parecia cena de filme”.
O fim do mundo
Sem conseguir vender o alheio, o curitibano que tinha adotado Balneário Camboriú em 2010 como a sua cidade do coração resolveu então vender o próprio: se desfez da moto, da TV, do videogame e do microondas e, menos de três meses depois da decisão de jogar tudo para o alto, inspirado pelos aventureiros que cruzam mares e continentes sem grandes planejamentos, partiu com 12 mil reais rumo “ao fim do mundo” – ou, pelo menos, ao fim da América do Sul.
Ushuaia, onde a Argentina se despede de si mesma, não seria, porém, o seu ponto de chegada, mas o ponto de recomeço rumo a um sonho vago e novo, que tomava aos poucos a forma de um propósito: cruzar o continente americano da Terra do Fogo até o Alasca, levando como co-piloto o golden retriever Shurastey, seu companheiro de vida e de apartamento, a bordo de Dodongo, o seu Fusca 78, de 1.300 cilindradas, batizado como um personagem de Legend of Zelda.
Mas Jesse ainda não sabia que era isto o que queria.
“Saí bem doido por aí, sem rumo, sem saber muito bem o que estava fazendo na época, sem estrutura”.
7 mil quilômetros depois, Dodongo, Shurastey e Jesse Koz chegaram ao fim do mundo.
“Foi a emoção mais forte até hoje. Eu não tinha feito nada de tão extraordinário na minha vida. E ter chegado e vencido todas as dificuldades, principalmente dos últimos 220 quilômetros, embaixo de neve e com gelo na pista, foi incrível”.
Jesse Koz tinha finalmente definido um propósito. Iria para o Alasca. De Fusca. Com Shurastey.