O título da carta apostólica do Papa Francisco publicada na quarta-feira 29 de Junho, Solenidade dos santos apóstolos Pedro e Paulo, é evocativo. "Desiderio desideravi" é de fato o início de uma fala de Cristo antes da Última Ceia: "Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer." (Lc 22,15). Segue-se uma longa meditação sobre a liturgia, com ênfase na formação, como o título do texto indica. Mas, um ano após o motu proprio Traditionis custodes, o sucessor de Pedro quer acima de tudo reiterar a necessidade de trazer a paz sobre as questões litúrgicas.
[N. do R. - As passagens traduzidas neste artigo não são uma tradução oficial, já que o Vaticano não ofereceu uma tradução oficial em língua portuguesa. O Vaticano ofereceu apenas traduções oficiais em alemão, inglês, espanhol, francês e italiano]
1 - FRANCISCO DIRIGE-SE A TODOS E OFERECE REFLEXÕES SOBRE A LITURGIA
Um ano após a carta apostólica Traditionis custodes, o Papa Francisco dirige-se a todos os fiéis. Ele deseja meditar sobre a liturgia, "uma dimensão fundamental para a vida da Igreja". Ao contrário do motu proprio, esta carta não tem qualquer efeito regulador.
2 - A CELEBRAÇÃO DO CULTO É UM LUGAR DE UNIDADE
Com o seu motu proprio de 16 de Julho de 2021, Francisco quis recordar que a Missa era por excelência o sacramento da unidade. Mais uma vez, ele evoca esta dimensão na carta apostólica.
3 - A LITURGIA DEVE SER CELEBRADA COM CUIDADO E OBEDIÊNCIA
Mais uma vez, o Papa Francisco sublinha a importância de respeitar os textos que nos dizem como celebrar. Fazer o contrário seria arriscar o subjetivismo. Esta insistência é também uma forma de não endossar liturgias descuidadas.
4 - O MARAVILHAMENTO COMO REMÉDIO PARA A FALTA DE SACRALIDADE
Uma crítica frequentemente feita pelos opositores à Missa resultante da reforma litúrgica do Vaticano II é que ela carece de sacralidade, que é demasiado horizontal. Para contrariar esta crítica, que ele considera injustificada, o Papa Francisco convida as pessoas a maravilharem-se.
5 - AS DISPUTAS LITÚRGICAS TÊM UMA DIMENSÃO ECLESIOLÓGICA
Este era o coração do motu proprio Traditionis custodes: se alguns rejeitam a Missa de São Paulo VI e a concelebração, é por razões mais profundas, ligadas à compreensão do que é a Igreja, explicitadas na Constituição dogmática Lumen gentium do Concílio.
Seria trivial ler as tensões, infelizmente presentes em torno da celebração, como uma simples divergência entre diferentes sensibilidades em relação a uma forma ritual. O problema é acima de tudo eclesiológico. Não vejo como se pode dizer que se reconhece a validade do Concílio - embora me surpreenda que um católico possa afirmar não o fazer - e não aceitar a reforma litúrgica nascida do Sacrosanctum Concilium, um documento que expressa a realidade da liturgia em íntima ligação com a visão da Igreja admiravelmente descrita pela Lumen Gentium (art. 31).
6 - UMA NECESSIDADE: FORMAÇÃO LITÚRGICA PARA TODOS
Para que todos possam aproveitar ao máximo as celebrações litúrgicas para o seu próprio bem espiritual, mas também para que aqueles que estão relutantes em aceitar a reforma litúrgica possam aderir à mesma, só há uma solução: a formação! O objetivo principal da carta "sobre a formação litúrgica do povo de Deus".
7 - REDESCOBRINDO A CORPORALIDADE ATRAVÉS DA PARTICIPAÇÃO LITÚRGICA
Num mundo cada vez mais virtual e, ao mesmo tempo, obcecado pela aparência, o Santo Padre vê a liturgia como uma escola para habitar e conhecer a nossa corporalidade.
8 - A IMPORTÂNCIA DO SILÊNCIO
A Cardeal Sarah escreveu um livro sobre isto, La Force du silence. O Papa Francisco também quer enfatizar o silêncio, que não é um tempo extra, mas um momento integrante nas celebrações. Um momento durante o qual o Espírito Santo pode respirar.
9 - OS "MALES" DO PADRE QUE QUER SER O CENTRO DAS ATENÇÕES
O Papa Francisco está familiarizado com este modo de expressão. Para melhor expressar a atitude em que o padre deve presidir à Eucaristia, ele enumera uma série de falhas paradoxais. Surge a figura do pastor que não procura estar no centro das atenções.
10 - A BUSCA DO PAPA POR PACIFICAÇÃO
Os fiéis ligados à Forma Extraordinária do Rito Romano esperavam por isto: um sinal paternal de Roma. Antes de concluir a sua carta, o Vigário de Cristo reitera tanto as razões que o levaram a publicar Traditionis custodes, como, ao mesmo tempo, o seu desejo de pôr fim às disputas em torno da liturgia.
Somos chamados a redescobrir constantemente a riqueza dos princípios gerais estabelecidos nos primeiros números da Sacrosanctum concilium, captando a ligação íntima entre esta primeira constituição do Concílio e todas as outras. [Por esta razão escrevi Traditionis custodes, para que a Igreja possa levantar, na variedade de tantas línguas, uma única oração capaz de expressar a sua unidade. Como já escrevi, pretendo que esta unidade seja restabelecida em toda a Igreja do Rito Romano (art. 61).
Abandonemos as nossas polémicas e escutemos juntos o que o Espírito está a dizer à Igreja. Salvaguardemos a nossa comunhão. Continuemos a maravilhar-nos com a beleza da liturgia. A Páscoa foi-nos dada. Sejamos resguardados pelo desejo contínuo do Senhor de comer conosco a sua Páscoa. Sob o olhar de Maria, Mãe da Igreja (art. 65)