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Grande massacre contra cristãos fez aniversário neste fim de semana

guerra drusos maronitas

Jan-Baptist Huysmans / Domínio Público

Francisco Vêneto - publicado em 11/07/22

"O pesquisador relatou que os criminosos tentaram fazer os cristãos renunciarem à sua fé. Como eles resistiram, ofereceram-lhes riquezas, igualmente recusadas. Então os martirizaram"

Um grande massacre contra cristãos fez aniversário neste fim de semana: 162 anos. E, novamente, foi um aniversário que passou em brancas nuvens para a maior parte dos meios de comunicação.

Já havia sido assim, e ainda pior, em julho de 2020: na mesma semana em que se recordavam os 160 anos de um dos mais brutais massacres de cristãos da história contemporânea, a Turquia voltava a transformar a histórica basílica de Santa Sofia em mesquita. A indiferença oficial para com a tragédia também se estendeu, sem surpresas, à autodeclarada “grande mídia” internacional, que mal se incomodou em dar algum destaque a uma das maiores carnificinas perpetradas pelo Império Otomano contra os cristãos em séculos.

A guerra civil de 1860 começou no Monte Líbano, então pertencente àquele vasto império territorial cuja capital era Istambul, na moderna Turquia. O estopim foi a rebelião dos camponeses cristãos maronitas libaneses contra o domínio dos drusos, minoria religiosa autônoma cuja fé guarda certa relação com o islã, embora não sejam reconhecidos como muçulmanos. As batalhas se estenderam até a cidade de Damasco, capital da Síria atual, onde ocorreu uma chacina de cristãos apoiada por autoridades militares, soldados turcos otomanos, outros grupos drusos e paramilitares sunitas.

O horror durou três dias, de 9 a 11 de julho, mas o dia 9 é recordado como o mais sangrento: milhares de cristãos foram mortos naquela data, assim como foram devastadas e incendiadas igrejas, escolas cristãs, conventos e até mesmo vilas inteiras. O massacre obrigou milhares de pessoas a fugirem e levou à ocupação do território sírio por tropas francesas.

O historiador espanhol José Ramón Hernández Figueiredo, doutor em História Eclesiástica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, comentou o motivo do massacre em declarações à agência de notícias ACI Digital:

“Naquele ano, o sultão [do Império Otomano] emitiu um decreto pelo qual todos os súditos tinham os mesmos direitos em impostos e ocupação de cargos públicos. Os maometanos ficaram indignados, porque consideravam os cristãos entre raças inferiores excluídas da lei durante doze séculos”.

O historiador recorda que quase 6 mil cristãos foram mortos, mutilados ou sofreram abusos em vários povoados do atual Líbano. Na manhã de 9 de julho, os drusos chegaram a Damasco na vigília do Ramadã e começaram a matança atacando o bairro cristão de Arat-el-Nassara, onde o número de mortos, em três dias, chegou a 3 mil.

O emir argelino Abb-al-Kadar, embora fosse grande defensor do islã, deu asilo a 1.500 cristãos. Entre os refugiados havia religiosas Filhas da Caridade e religiosos jesuítas, paulinos e franciscanos, que chegaram a sofrer tortura nas mãos da multidão violenta. Os franciscanos foram atormentados com o facão dos beduínos e com as baionetas dos turcos. José Ramón Hernández complementou:

“Cada assassinato era recebido com imensa alegria por aquela multidão, ansiosa por exterminar”.

O pesquisador relatou que os criminosos tentaram fazer os cristãos renunciarem à sua fé. Como eles resistiram, ofereceram-lhes riquezas, igualmente recusadas. Então os martirizaram.

O historiador recorda que estava entre as vítimas o pe. Engelbert, que se negou “de forma decidida e tenaz a pisar na cruz do Redentor, protestando em língua árabe contra os atos de selvageria dos partidários de Maomé presenciados por ele, suportando e perdoando, como Deus manda perdoar os inimigos da Igreja”.

A Igreja reconhece vários santos e beatos mártires desse massacre, que, porém, não foi o único nem o último perpetrado pelo Império Otomano. No artigo abaixo, conheça mais sobre o genocídio cometido contra os cristãos armênios, cujo ápice ocorreu em 1915, durante a I Guerra Mundial e já nos anos finais daquele império em decadência.

Em 10 de julho de 2020, em pleno aniversário de 160 anos do massacre otomano contra os cristãos maronitas, o atual presidente da Turquia, república que veio a substituir o antigo Império Otomano, decretou que a histórica basílica de Santa Sofia voltasse a ser transformada em mesquita.

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