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Pe. Zezinho: na oração atribuída a São Bento, falamos com Satanás?

Medalha com oração de São Bento

Bernardo Ramonfaur | Shutterstock

Pe. Zezinho - Reportagem local - publicado em 14/07/22

O sacerdote provoca uma reflexão impactante e começa com uma pergunta forte: "Você já falou com Satanás?"

O pe. Zezinho propôs aos seus seguidores no Facebook uma reflexão impactante sobre o fato de que, a seu ver, fala-se com Satanás na oração atribuída a São Bento. O sacerdote defende que isto requer uma explicação catequética mais adequada.

Trata-se da oração gravada na medalha de São Bento mediante abreviações em latim. Em um dos trechos abreviados (V.R.S.N.S.M.V., que se refere a “Vade retro Satana, non suade mihi vana“), a prece diz:

“Retira-te, Satanás, nunca me aconselhes coisas vãs!”

E complementa (S.M.Q.L.I.V.B., iniciais da frase “Sunt mala quae libas, ipse venena bibas“):

“É mau o que me ofereces: bebe tu mesmo os teus venenos!”

medalha de São Bento

Antes de entrar propriamente no assunto, o sacerdote ainda avisou: “Se achar este texto longo demais, ignore. Procure outro catequista. Aqui eu respondo a quem pediu detalhes”.

Isso posto, ele escreveu, abordando logo de cara esta polêmica:

“Falar com Satanás… É disso que trata a oração atribuída a São Bento de Núrsia“.

Ele então afirma:

“Não estou caçando assunto para agitar a Internet. Cumpro meu dever de padre e catequista, explicando a católicos que desejam explicações para pontos confusos da fé. Fiquei padre para explicar a fé católica como está no Catecismo oficial da nossa Igreja! O texto oficial é de 15.08.1997. Este é o texto aprovado por São João Paulo II. E um dos redatores foi o cardeal Ratzinger, que depois também ficou o Papa Bento XVI.

Então não se enganem: eles quiseram uma nova redação do Catecismo, mantendo o que era preciso e atualizando e ajustando o que deveria ser ajustado! Sou pedagogo da fé! Caminho junto, ensinando quem quer saber mais sobre Deus, Jesus e nossa Igreja.

Não há nenhum desrespeito a São Bento de Núrsia, um dos maiores santos da nossa Igreja. Ele praticamente semeou e plantou a civilização europeia. Tinha cultura suficiente para encher a Europa de monges estudiosos. Hoje em dia, tudo depende de como seguimos São Bento: com o olhar de um passado de 17 séculos ou com o olhar do presente e do futuro com enfoques e novas teologias! Jesus atualizou e também mudou muita coisa no judaísmo. Mudou e mandou mudar! ‘Eu vos dou UM NOVO MANDAMENTO!’… Então Jesus quis mudanças!

Se alguém segue Jesus ou São Bento de jeito errado, achando que tudo deve continuar como há 17 séculos, e que devemos orar como se orava nos anos 500, escolheu marcar passo na fé. É aí que eu discordo deste católico! Temos que evoluir também na linguagem de quem reza. Isto: houve gigantescas mudanças em tudo, mas ainda hoje existem pregadores que não explicam, não se atualizam e jogam seus fiéis de volta para os anos 500.

Quer saber mais? Até as datas de seu nascimento e morte não são claras. Há passagens da vida de São Bento que precisam ser explicadas aos modernos devotos de São Bento. Quem sabe isto são os monges beneditinos. E eles estudam e são cultos. Nunca dizem coisas ao sabor da onda ou da devoção do momento”.

O padre prosseguiu:

“Há 17 séculos, por volta dos anos 450 em diante, os estudos de Teologia, Cristologia e Moral e Pastoral não estavam avançados como hoje. A psicologia e psiquiatria nem existiam como ciência. Não havia a ciência do comportamento humano. Hoje há! Então, há 17 séculos, era comum conversar com Satanás (o tentador).

Alguns o chamavam de ‘dragão do inferno’, até porque, na nascente Idade Média sem escolas, havia histórias assustadoras, nas aldeias, de dragões voadores que cuspiam fogo e dizimavam a colheitas do povo. Mas eram lendas! Hoje, há mais de 50 filmes sobre dragões e demônios que cuspiam fogo! Mas são lendas! Não aconteceram. Nada mais pedagógico que um inteligente monge tenha usado aquela linguagem para um povo sem nenhuma escola, e assim, levar as aldeias a aceitarem Jesus quando ainda havia muito paganismo na Europa.

Acontece que a Europa mudou e os monges e os padres e pregadores mudaram nestes 17 séculos. Ficaram mais cultos! Atualizaram suas preces. Basta ver os livros de orações destes 1500 anos. Os monges fundaram escolas e universidades e começaram a orar de maneira mais instruída. Com isso, suas orações também mudaram.

Exceção são os que optaram pelas lendas sem teologia e sem catequese atualizada. Teimam em orar como nos anos 500. Não querem e não aceitam nenhuma explicação ou atualização. Este tipo de católico, sim, continua mostrando a medalha que nem foi São Bento quem cunhou, e usando a oração sem nenhuma explicação para aquelas frases de 17 séculos.

A própria Bíblia tem centenas de versões e traduções, porque cristãos cultos a atualizaram, respeitando o aramaico, o hebreu e o grego. Mas estes estudiosos acharam outros vocábulos para explicar a Bíblia como era lida pelos hebreus, judeus e línguas da época.

Tenho ou não tenho o dever de defender São Bento e a catequese atual, quando há pregadores teimosos que não explicam nada? Eles só oram e só divulgam uma linguagem dos anos 500 sem nenhuma explicação! E por que não explicam? Isto mesmo: por que nunca explicam esta oração?”.

O pe. Zezinho continuou:

“Engraçado é que alguns são os mesmos que, para passar de ano, consultam enciclopédias atualizadas e consultam as novas linguagens! Só não aceitam atualizar a teologia católica! Chamam a isso de tradição católica. Ora, Jesus valorizou a boa tradição e combateu a falsa tradição dos fariseus do seu tempo!

Então existe o falso tradicionalista e o bom que aceita dialogar. Na verdade, muitos não gostam dos novos Papas e bispos e padres, porque acham que não somos pela tradição cristã! Mas sabemos distinguir entre os tradicionalistas ‘ferrenhos’ e tradicionalistas cultos e abertos a diálogo. Jesus vivia questionando os tradicionalistas errados do seu tempo. Sinal de que há tradições boas e tradições erradas.

Todos os dias eu explico e divulgo as mudanças do Catecismo católico, vindas do Concílio Ecumênico Vaticano II. Defendo tudo que foi escrito naquele concílio! São mais de 100 documentos atualizados desde Leão XIII, Pio X, Bento XV, Pio XII e, depois de 1962-1965, com São João XXIII, São Paulo VI e São João Paulo II.

Tudo fala de mudanças substanciais da pedagogia e da liturgia da nossa Igreja. Teríamos que mudar nossas maneiras de orar, de pregar e de encarar o mundo depois das duas guerras mundiais. E a Igreja encarou este desafio. Perdeu seguidores? Sim! Está com medo? Não! As bombas atômicas foram criadas naquele tempo: século XX. Nossa resposta foi ir ao povo dialogar e enfrentar políticos e guerreiros que vivem de guerras”.

Sobre o que descreve como atualização da catequese, o sacerdote afirmou:

“O CIC, Catecismo atual da Igreja Católica, estudado por mais de dez anos, na década de 1990, sob a orientação do agora idoso cardeal Ratzinger, e que foi lançado em 1997 com a bênção do hoje São João Paulo II. O catecismo atualizado ensinou que, sem a devida atualização da catequese, perderemos a missão de ser uma Igreja Mãe e Mestra. Se a mestra ensina errado, deixa ser mestra. Se ela se atualiza, ela merece carinho e obediência. Ora, nossa Igreja mudou, exceto pelos pregadores rebeldes que até hoje não engolem a pedagogia do concílio, do Catecismo e dos Papas que mandaram mudar e atualizar a catequese. Isto: catequese sem atualização é como servir o pão esquecido há anos em alguma gaveta!

E são estes rebeldes que não explicam esta oração, nem aceitam que alguém explique! A oração fala com Satanás! Você já viu algum pregador midiático explicar esta oração ao povo? E eles dizem que somos nós que não temos fé! Não entendem que Jesus chamou a resistência ao Espírito Santo como gravíssimo pecado (Mt 12,31-32; Mc 3, 28-29; Lc 12,10). Os fariseus eram tão duros de coração que chegaram a dizer que Jesus era sócio de Belzebu! Em outras palavras: Jesus seria demoníaco porque ousava mudar doutrinas e práticas religiosas do seu tempo. E nunca aceitariam que alguma tradição fosse mudada. Jesus aceitou algumas e mudou outras. Paulo também aceitou as boas tradições e combateu as injustas que oprimiam o povo! Ora, quem está resistindo ao Espírito Santo? Quem aceitou o Vaticano II e suas mudanças, ou quem anda chamando o Papa Francisco e os bispos do Brasil de comunistas?

Aposto que São Bento, se estivesse vivo, jamais conversaria com Satanás. Tendo Jesus para conversar, o certo é que ele invocaria Jesus diretamente. O resto seria com Jesus, porque Jesus sabe dominar e sabe o que fazer com ‘daimon’, ‘satã, ‘diabolus’. Ele os expulsava!

Jesus era atualizado e atualizava seus ouvintes nos debates com os fariseus. Quem era contra qualquer atualização da catequese do seu tempo eram os fariseus.

Você, use, use, use e divulgue suas orações, mas explique isto direito! Não se conversa com satanás! Conversa-se com Jesus! E isto é catequese atualizada”.

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