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Camarões: “A violência não é inevitável”, afirma sacerdote

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Pascal Deloche / Godong

Reportagem local - publicado em 24/07/22

No norte dos Camarões tem havido ataques com frequência por parte de terroristas do grupo Boko Haram

Camarões, um país situado na África Central Ocidental, tem conhecido nos últimos anos alguns focos de violência causados pelo movimento independentista da região onde predomina a língua inglesa, face ao poder que está concentrado na zona francófona. 

O sentimento de opressão que esta população afirma sentir deu origem, especialmente desde 2016, a marchas de protesto que se foram intensificando e degeneraram em confrontos. Hoje, há um conflito armado que opõe os separatistas das províncias anglófonas ao poder central dos Camarões, e que provocou já milhares de mortos e obrigou centenas de milhar de pessoas a abandonar as suas casas.

As crianças e os jovens, em particular, tornaram-se vítimas desta violência e muitos estão profundamente traumatizados. A maioria das escolas da região estão fechadas há vários anos e as crianças são deixadas muitas vezes à sua própria sorte e vários adolescentes juntaram-se aos grupos rebeldes armados. A longo prazo, a falha na educação escolar irá resultará em mais pessoas mergulhadas na pobreza.

Perante este cenário, a Igreja lançou um projecto que procura dar algumas respostas aos anseios da juventude local. A diocese de Mambfe, situada precisamente na região anglófona, introduziu um programa de educação para a paz como parte da sua preocupação com os mais jovens. O objectivo desta iniciativa, que está a ser apoiada directamente pela Fundação AIS, é promover uma cultura de não-violência. 

“Nunca devemos esquecer que num ambiente marcado pela violência e pelo conflito, qualquer forma de evangelização eficaz é impossível”, explicou, à Ajuda à Igreja que Sofre, o padre Roland Arrey, pároco e líder da equipa de apoio à juventude. “As diferenças de opinião podem muito bem ser inevitáveis, mas a violência não é inevitável. Se queremos evitar uma espiral de violência incessante, temos de nos esforçar para promover a paz e a tolerância e não incitar ao ódio e à desconfiança”, acrescentou.

O programa, que está a decorrer desde há um ano, envolve todas as 27 paróquias da diocese e tem mobilizado jovens para actividades aos fins-de-semana, que incluem também momentos de oração. Estes cursos são ainda complementados por emissões de rádio que podem chegar até às aldeias mais distantes. “O nosso programa centra-se em Cristo, o Príncipe da Paz, que anseia trazer a paz ao nosso mundo perturbado e violento”, explicou ainda o padre Arrey. “Estamos muito entusiasmados com este projecto e muito motivados, pois ele vai beneficiar especialmente os jovens e também todas as nossas comunidades paroquiais. Estamos muito gratos à AIS e a todos os nossos benfeitores!”

Ataques

A questão da violência gerada pelo conflito independentista não é, porém, o único problema grave que o país enfrenta em matéria de segurança. No norte dos Camarões tem havido, também, ataques com frequência por parte de terroristas do grupo Boko Haram.

Ainda em Abril, um sacerdote que se encontra nesta região, e que por motivos de segurança não pode ser identificado, descrevia, à Fundação AIS, o medo que se tinha instalado entre as populações locais, que temem não nó pelas suas vidas, mas também pelos seus haveres e as suas propriedades. “O povo está cheio de medo e de ansiedade”, afirmava o referido padre.

O sacerdote relatou ainda que os ataques dos islamitas do Boko Haram afectaram já cinco áreas administrativas e que algumas aldeias ficaram praticamente sem habitantes. “Estão quase vazias”, disse o padre. O medo das populações explica-se também pela forma como os terroristas têm vindo a actuar. No passado, chegavam às aldeias aos gritos, o que poderia permitir a fuga das pessoas. “Agora, eles têm vindo discretamente, aproveitando a lua cheia, surpreendendo as pessoas que estão a dormir. Matam os pais das famílias e os adolescentes, especialmente os rapazes e pilham as propriedades e destroem tudo o que não podem levar”, explicou o padre.

Face a todos estes ingredientes de violência, não só motivados pelo terrorista islamita, mas também em consequência da causa independentista, os bispos reconsagraram [a primeira consagração foi em 1890] o país ao Imaculado Coração de Maria. O acto decorreu em Abril, no Santuário de Marienberg, na diocese de Edea, e ficou marcado pela presença de milhares de fiéis.

Sinal da proximidade da Fundação AIS para com a Igreja dos Camarões, e além da iniciativa da diocese de Mambfe e destinada aos jovens, foi recentemente também aprovado um projecto de apoio a um campo de refugiados para vítimas do Boko Haram. Trata-se de um campo situado em Minawao, na diocese de Mourua-Mokolo, no extremo norte do país. Além disto, foi apoiada também a impressão de dois mil exemplares da Bíblia, na língua Mafa, que é falada em 12 paróquias desta diocese.

(Com AIS)

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