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A histórica visita do Papa Francisco aos esquimós

O Papa Francisco visita os esquimós ou inuítes no Canadá

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Francisco Vêneto - publicado em 29/07/22

Saiba por que o termo "esquimó" é considerado pejorativo no Canadá

O termo “esquimó”, no Brasil, não costuma ter conotação pejorativa, embora esteja associado com estereótipos ingênuos sobre os simpáticos habitantes do Polo Norte que constroem iglus e deslizam pelo gelo sobre trenós puxados por cachorros. Muitas crianças, aliás, costumam ficar fascinadas com as histórias sobre eles e seu estilo de vida, tão longinquamente diferente do cotidiano tropical.

No Canadá, na Groenlândia e no Alasca, porém, o termo caiu em desuso porque é considerado ofensivo. Em seu lugar, usa-se o termo inuíte (ou inuit), que se refere aos povos nativos que habitam os arredores do Círculo Polar Ártico nessas regiões. Já os que habitam a Sibéria Oriental, na Rússia, se denominam iúpiques (ou yupiks). Todos eles estão relacionados entre si e, de modo genérico, eram indistintamente chamados de esquimós.

A palavra “esquimó” deriva de uma língua algonquiana, outra etnia indígena canadense, e quer dizer “trançador de raquetes de neve”. Popularmente, no entanto, a palavra foi associada a outra origem, incorreta, que significaria “comedores de carne crua”: essa descrição passou a ser vista como injuriosa por sua conotação de “bárbaros”; é por este motivo que o termo “esquimó” é hoje firmemente evitado na América do Norte.

A visita do Papa

O caso é que o povo inuíte do Canadá está recebendo nesta sexta-feira, 29 de julho, a histórica visita do Papa Francisco.

O pontífice visita Iqaluit, a capital do vasto território do Nunavut, o mais setentrional e o menos povoado do país. Iqaluit quer dizer “lugar do peixe” no idioma inuíte local, o que evoca o histórico da região como tradicional centro de pesca. A cidade se localiza em uma baía da grande ilha de Baffin, uma das maiores do mundo – tem o tamanho da Espanha, mas bem menos de 0,1% da sua população: são 10 mil habitantes na ilha inteira, dois terços deles em Iqaluit, que, mesmo sendo capital, soma apenas 7.740 moradores.

O próprio Nunavut, que é um território autônomo canadense governado pelos inuítes, tem cerca de 40 mil habitantes, dos quais ao menos 80% são inuítes.

Após um voo de 5 horas entre Quebec e Iqaluit, o Papa finalizará na capital do Nunavut a sua muito comentada “peregrinação penitencial” pelo Canadá. Na cidade, Francisco visita a escola primária Nakasuk e se encontra com ex-internos da escola residencial indígena local.

A ferida das escolas residenciais

As antigas escolas residenciais para crianças indígenas canadenses estão no centro das atenções desta viagem apostólica por conta dos traumas que ali sofreram centenas de crianças forçosamente separadas de suas famílias e de suas culturas, dentro de uma política do governo do Canadá de obrigá-las a se adaptarem à cultura dos colonizadores europeus.

Mentiras sobre “valas comuns” e “centenas de restos mortais” de crianças, supostamente “descobertos” em “várias” dessas escolas residenciais, giraram o mundo em 2021 com grande alarde, mas foram desmascaradas no início deste ano pelo historiador Jacques Rouillard, professor emérito na Faculdade de História da Universidade de Montreal.

O pedido de perdão apresentado pessoalmente pelo Papa Francisco em nome da Igreja Católica não se refere, portanto, a essas inexistentes “valas comuns” nem a esses fantasiosos “restos mortais”, mas sim à corresponsabilidade de pessoas e instituições católicas, junto com o governo canadense, pelos abusos psicológicos e físicos perpetrados contra as crianças nativas e suas famílias nesse modelo destrutivo de colonização, já que boa parte dessas escolas residenciais teve a sua gestão terceirizada pelo governo a instituições cristãs, a maioria das quais eram católicas.

Durante a viagem, o Papa reiterou diversas vezes a sua “vergonha e tristeza” pela má gestão dessas instituições. A razão primordial da sua visita a Iqaluit é justamente encontrar ex-alunos das antigas escolas residenciais para uma audiência privada no ginásio esportivo da Escola Primária de Nakasuk. Em seguida, o Papa se reúne ao ar livre com a comunidade local, num evento a ser encerrado pelo canto da Oração do Senhor.

Sobre os pontos positivos e negativos da antiga escola residencial de Iqaluit, o bispo local dom Anthony Wieslaw Krótki conversou com a agência Vatican News:

“Os benefícios educacionais dessa instituição foram comprovados pelo número de ex-alunos que se tornaram líderes em sua sociedade, governo e nas negociações ligadas a reivindicações de terras. Mas a escola também trouxe sofrimentos e alguns abusos inaceitáveis”.

Católicos em Iqaluit

Dom Anthony Wieslaw Krótki é o bispo da vasta diocese de Churchill-Hudson Bay, que cobre Iqaluit e a maior parte do território de Nunavut. A diocese se estrutura em 17 paróquias e missões, por cujo meio atende os cerca de 9 mil católicos residentes. Há dois sacerdotes diocesanos, cinco sacerdotes religiosos, um diácono permanente, duas freiras, um religioso e três agentes pastorais.

Os Oblatos de Maria Imaculada estabeleceram a primeira missão católica do território de Nunavut em 1912, na cidade de Chesterfield Inlet.

Atualmente, existe em Iqaluit apenas uma paróquia católica, a de Nossa Senhora da Assunção, cujo pároco, pe. Daniel Perreault, contou à agência de notícias Associated Press que poucos paroquianos são inuítes. Embora a igreja reúna mais de 100 pessoas na Missa todos os domingos, a grande maioria dos católicos que moram na capital são forasteiros, muitos deles estrangeiros procedentes de vários países de cinco continentes.

A diocese de Churchill-Hudson Bay foi a primeira do Canadá a pedir desculpas formalmente aos ex-alunos de uma escola residencial, ainda em 1996.

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