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Como a vocação me proporcionou estabilidade emocional e profissional

PRAY
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Hozana - publicado em 29/07/22
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Uma reflexão sobre as dificuldades para compreender o chamado de Deus e as alegrias de quem tem certeza que está no caminho certo

A cada ano, no mês de agosto, a Igreja Católica celebra no Brasil o mês vocacional. É sempre interessante aproveitar essa ocasião para refletir um pouco sobre as vocações. E com a proximidade da festa de São João Maria Vianney, acredito ser interessante refletir de forma particular sobre o chamado sacerdotal. Porém, gostaria de lançar essa reflexão partilhando um pouquinho sobre minha história de vida e minha própria vocação. 

Sou leiga e consagrada na Comunidade Católica Recado. Hoje vivo, graças a Deus, uma vida emocionalmente e profissionalmente estável. E essa graça da estabilidade tem uma relação direta com minha vocação, fé e abandono nas mãos de Deus. 

Moro na França há 10 anos. Foi a missão que me trouxe para esse belo país. Há 10 anos decidi dar uma pausa na minha vida profissional (na época era professora de teatro, atualmente sou responsável pela edição lusófona do Hozana), deixar minha terra natal, minha família, meus amigos e minha segurança para dedicar-me inteiramente à missão. O combinado é que ficaria por aqui por 2 anos e em seguida retornaria para o meu também belo país: o Brasil. 

O fato é que, naquela época, nossa missão na França estava passando por uma grande crise e foi-me pedido para permanecer por aqui por pelo menos mais um ano. Bom... Deus tem seus caminhos e sua forma de nos guiar. Permaneci em missão por mais um ano, ao término desse novo ano, acabei decidindo fazer meu mestrado por aqui. Sempre foi o meu sonho: seguir uma carreira acadêmica. Mas havia dado uma pausa também nesse desejo para me dedicar à missão. Fui aceita no mestrado na Universidade de Lyon, em meio a diversas dificuldades, pude concluir meu curso e tornar-me “mestra”.

Agora, era continuar perseguindo esse sonho na busca do doutorado que, na minha cabeça, deveria acontecer no meu tão amado Brasil. De passagem comprada de volta para minha terra natal (após cinco anos distante, era tudo o que eu queria: voltar para minha terra amada). Mas, como disse no início, Deus tem seus caminhos e sua forma de nos guiar. E foi de passagem comprada e com o pé já quase dentro do avião que conheci o amor da minha vida. Entre diversos percalços, namorei, noivei, casei-me e na França permaneci.

Por que estou contando essa história?

Porque cheguei neste país estrangeiro apenas com uma certeza: Deus me queria nessa missão. Mas trazia na bagagem diversas dúvidas: o que Ele esperava de mim? Será que eu iria conseguir? Será que eu realmente havia tomado a decisão correta? Qual era o meu chamado vocacional específico? Celibato? Matrimônio?

Essas duas últimas questões têm ligação com um relacionamento complicadíssimo que vivi antes de chegar nesta terra de missão. Um relacionamento com muitos problemas e que deixou marcas profundas. Talvez tenha aceitado vir em missão buscando curar essas marcas. Não sei se essa é a melhor forma de se tomar esse tipo de decisão, mas de alguma forma tive certeza de que Deus me queria neste lugar. E aos poucos fui entendendo que sim, Ele também queria me curar.

Em meio a essas feridas, cheguei então a pensar que meu chamado era o Celibato Consagrado. Fiz um ano de oferta. Não obtive uma resposta concreta nesse tempo. Mas ao final da minha missão e com minha passagem de volta na mão, a resposta chegou de forma clara e pude, já curada das minhas feridas, viver o relacionamento que Deus havia preparado para mim.

Foi a certeza de uma vocação – o meu chamado enquanto leiga consagrada – que me levou a certeza do meu estado de vida. Afinal, se eu não tivesse vindo em missão talvez eu nunca teria conhecido o amor da minha vida.

Nesse tempo de dúvidas, de marcas, de feridas, de medo... eu fui acompanhada por santos homens, santos sacerdotes, que me ajudaram a esperar e a confiar. A oração e o sustento espiritual desses sacerdotes, permitiu-me vivenciar com fé e coragem cada dúvida, superar cada medo e buscar a cura adequada para cada ferida. Esse acompanhamento foi e é fundamental na minha vida missionária.

É com lágrimas nos olhos que conto esse testemunho...

Foi também com lágrimas nos olhos que tomei conhecimento há alguns meses do triste relatório da CIASE sobre as violências sexuais cometidas por diversos sacerdotes. Aqui! Nesta mesma terra de missão onde tantos santos homens me ajudaram no meu caminho e discernimento vocacional. Aqui! Nesta mesma terra de missão se revelaram tantos escândalos... tanta sujeira... a verdade é de fato libertadora. Mas nem sempre é tão simples assim encará-la... É triste saber que não se trata de casos isolados. É triste saber que essa perversidade persiste há anos na nossa Igreja. É triste saber que a Bela Igreja de Cristo é manchada quotidianamente com atos tão vis!

E diante desses escândalos, é legítimo que percamos a confiança e que deixemos vir à tona diversos questionamentos. Sim é legítimo! 

Eu, enquanto leiga consagrada, que tive e tenho a oportunidade de conviver com tantos sacerdotes exemplares e diante da minha história de vida, me sinto na obrigação de rezar pelas vítimas, de rezar para que esse mal seja extirpado da nossa Igreja e de rezar para que os nossos sacerdotes abracem, com coragem, a santidade! Esses sacerdotes criminosos, graças a Deus, não representam a totalidade dos nossos ministros consagrados. 

Relembro este triste e recente fato da história da nossa Igreja não somente porque ele não pode cair no esquecimento, mas também porque ele nos lembra o quanto a nossa oração de fiéis católicos é necessária. Esse fato nos lembra o quanto nossa Igreja é santa e pecadora. Esse fato nos lembra o quanto somos frágeis e o quanto precisamos urgentemente de conversão.

E é diante desse fato, na abertura do mês das vocações, que convido você a clamar a intercessão de São João Maria Vianney pela santidade de todos os nossos sacerdotes e seminaristas. Clique aqui para se inscrever nessa novena online.

Precisamos de uma Igreja Santa! E isso começa em nós mesmos!

Débora Moreira Araújo, pelo Hozana

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