1 - Quando Pio XII negociou com o Brasil os vistos para os judeus
Um pesquisador brasileiro a estudar em Itália, Jair Santos, obteve acesso aos arquivos apostólicos do Vaticano e analisou a correspondência entre o Papa Pio XII e o governo Getúlio Vargas no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. As cartas mostram que, apesar do ceticismo das autoridades brasileiras, acabaram por chegar a um acordo com o Vaticano para a emissão de 3.000 vistos a judeus convertidos ao catolicismo. No entanto, os documentos mostram agora que apenas 959 vistos foram emitidos, e Santos explicou que tinha de continuar a investigar os arquivos do Vaticano e do Brasil para compreender o que tinha acontecido. Quanto à razão pela qual o Vaticano escolheu o Brasil em particular para este caso, Santos sugere que foi devido à "familiaridade" entre Pio XII e a sua hierarquia e o contexto brasileiro. A Santa Sé sabia que o Brasil estava aberto aos imigrantes e precisava deles por "razões sociais, económicas e religiosas". Além disso, quando o Presidente Getúlio Vargas chegou ao poder em 1930, uma das primeiras coisas que ele fez foi procurar o apoio da Igreja, explica Santos. Antes de se tornar Papa, o Cardeal Pacelli tinha também visitado o Brasil em 1934 e estabelecido boas relações.
Veja, português
2 - O Vaticano não é o único a pensar em termos de séculos
Durante a viagem do Papa Francisco ao Canadá, muitas pessoas apelaram ao Papa para revogar a "Doutrina da Descoberta", um conjunto de bulas papais do século XV que encorajava a colonização das Américas. John Allen, do jornal Crux, salienta que este apelo à revogação remonta pelo menos a 1992, e foi feito várias vezes. No entanto, "quem exorta Francisco a revogar estes documentos não compreende como a Igreja funciona", diz ele. Quando quer "mudar de marcha", assinala, "não nega os anteriores éditos papais, mas ignora-os". Isto é o que o Papa já fez com a sua persistente rejeição do colonialismo e a sua defesa dos direitos indígenas, explica o vaticanista americano. Os bispos canadenses e o Vaticano irão, no entanto, analisar mais profundamente a questão.
Crux, inglês
3 - É preciso energia para servir a Igreja hoje
Num artigo de opinião, Lucetta Scaraffia, historiadora e jornalista italiana que durante muitos anos editou a revista mensal feminina do L'Osservatore Romano, contextualiza os comentários do Papa sobre uma possível futura renúncia. Ela explica que "o papado contemporâneo […] envolve muitas missões de 'presença' e intervenções contínuas nos problemas do mundo". Um papa hoje não se pode limitar a ser simplesmente "um símbolo da unidade da Igreja", prossegue ela. Ao mesmo tempo, porém, os pontífices de hoje têm de enfrentar o fato de as pessoas viverem mais tempo, mas sem a mesma "força e eficácia" que nos seus anos mais jovens. "A velhice, com o seu cansaço, dor e limitações, afeta também os papas e põe em perigo a sua missão", diz Scaraffia, que aplaude a decisão do Papa Francisco de falar abertamente sobre a possibilidade de renunciar. Scaraffia argumenta que remover "a aura de sacralidade que envolve o Santo Padre" ao falar de renúncia é bom para a Igreja e é outra forma do Papa Francisco "lutar contra o clericalismo".
Quotidiano.net, italiano