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Por que os gatos não eram bem-vistos na Idade Média?

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Daniel R. Esparza - publicado em 09/08/22

Os felinos, apesar de cumprirem uma boa parte das suas responsabilidades domésticas, nem sempre foram tão queridos

Quase toda a gente gosta de gatos. Os vídeos de gatinhos na Internet são, de fato, talvez os mais populares; e o número de gatos no cinema e nos quadrinhos parece indicar que, de fato, os felinos são unanimidade.

Mas nem sempre foi assim. Mesmo na Idade Média, era comum encontrar um gato em quase qualquer lugar; e nos mosteiros e conventos os gatos eram sempre bem-vindos, pois ajudavam a manter os roedores e outros animais peçonhentos à distância.

Mas esta atividade de caça dos roedores, benéfica em todos os sentidos, pode ser interpretada de forma enviesada. Não é raro encontrar textos medievais em que se diz que o diabo brinca com o pecador como um gato com um rato antes de o matar, por exemplo.

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Talvez a natureza independente do gato também tenha ajudado a criar uma reputação tão má

Crueldade felina

Assim, a imagem do gato como um animal cruel, que goza da dor de outros, ajudou a criar uma certa associação do pequeno animal com o diabo. De fato, a lenda que associa o diabo a um gato preto – supostamente aparecendo em ritos satânicos – tornou-se tão popular que os cátaros e outros hereges foram acusados de adorar gatos.

Nesse sentido, no julgamento contra os Templários, eles foram acusados – entre muitas outras coisas – de permitir que os gatos participassem em atos litúrgicos.

A medievalista Irina Metzler, autora de Gatos Heréticos: Simbolismo Animal no Discurso Religioso, salienta que talvez a natureza independente do gato tenha contribuído para a sua má reputação. O livro do Génesis sugere que os animais foram criados para servir e ajudar o homem; mas o gato, por muito doméstico que seja, nunca obedecerá como um cão, cavalo ou vaca.

Difícil de domar

Metzer escreve:

Nos tempos medievais, algumas pessoas teriam gostado de restringir o gato à sua função de ratoeira viva; pela simples razão de que o gato está no limiar entre o doméstico e o selvagem.

Os gatos, de certa forma, são intrusos na sociedade humana. Não podem ser uma propriedade. Entram em casa à vontade, como ratos; e têm sido tolerados porque mantêm os ratos sob controle. Isso provoca uma espécie de tensão conceitual. Embora o gato possua as características de um bom caçador, é útil, mas no entanto permanece apenas parcialmente doméstico.

Também os hereges, num sentido figurativo, não foram completamente domesticados; pois ao interpretarem de forma independente as Escrituras (isto é, ignorando o que é apontado pela Tradição ou pelo Magistério) coincidem com a definição clássica do não doméstico, o selvagem. Como símbolo, os gatos podem ser os animais “heréticos” quintessenciais.

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