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O problema da agressão sexual contra os jovens

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Dean Drobot |. Shutterstock

Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 28/08/22

Agressões de ordem sexual são problemas reais da sociedade, mais frequentes do que geralmente pensamos

Em uma pesquisa recente, 32% das pessoas entrevistadas disseram ter sofrido agressões de ordem sexual quando menores de 18 anos. Os casos tipificados incluíam situações como “apalpadas”, exibição de órgãos sexuais e ataques físicos. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública observou que, segundo os registros policiais, mais de meio milhão de pessoas foram vítimas de estupro no Brasil na última década. Ainda segundo esse levantamento, 67% dos casos aconteceram dentro das residências e 86% foram praticados por conhecidos das vítimas.

Segundo uma pesquisa anterior, 42% das brasileiras com 16 anos ou mais declara já ter sido vítima de assédio sexual. A pesquisa considerou tanto assédio físico quanto verbal e os resultados podem estar muito falseados em função da própria forma como a mulher trata a agressão. Por exemplo, a taxa de católicas que declaram ter sofrido assédio (32%) fica abaixo da registrada entre evangélicos (47%) e mulheres sem religião (68%). Evidentemente, os ofensores não perguntam a religião da mulher antes de ofendê-la. Contudo, pode-se supor que evangélicas e sem religião, por motivos até diametralmente opostos, guardem mais ressentimento diante da ofensa recebida do que as católicas. Numa outra vertente, os relatos de assédio são mais frequentes entre mulheres mais escolarizadas e de renda mais alta. Provavelmente, mais do que uma questão de frequência do assédio, trata-se de uma percepção mais aguda de ter sofrido uma indignidade.

Os dados ganharam visibilidade dentro de uma campanha de combate à violência sexual contra crianças e adolescentes, promovido pelo Instituto Liberta. O problema é grave – e não deixa de chamar a atenção o fato de que a pedofilia não é “um problema dos padres celibatários”, como certas mídias querem nos fazer pensar.

Duas visões do problema

Ninguém é favorável a essa violência, mas quando perguntamos às pessoas quais são as causas e as soluções do problema, encontramos respostas muito diferentes. Um grupo associará o problema à permissividade crescente e ao avanço da pornografia em nossa sociedade, enfatizando a necessidade de se estabelecer limites e regras morais mais rígidas. Outro grupo dirá que o problema é do machismo e da truculência da sociedade tradicional, sendo necessárias campanhas de conscientização da dignidade das vítimas e ações judiciais para a punição dos agressores.

Como em tudo na vida, os dois lados têm a sua dose de razão, uma solução não substitui a outra e todas serão ineficientes se aplicadas de forma esquemática e pouco inteligente.

Onde falta o amor, sobram o despotismo e o abuso 

O assédio e a violência sexual estão entre as maiores ameaças a uma concepção sadia de amor e de família. Na verdade, são manifestações de um mundo que não sabe amar e acolher a pessoa. A violência sexual, especificamente, costuma estar vinculada a históricos de conflitos e problemas pessoais e familiares, onde muitas vezes a violência praticada hoje é decorrência daquelas sofridas no passado. Já casos de assédio verbal, constrangimentos e coerções muitas vezes nascem de âmbitos carentes de amor ou onde o amor se desvirtuou e deixou de ser um caminho de reconhecimento da dignidade do outro.

Rigor moral, denúncias públicas e ações legais contra os culpados são instrumentos importantes para evitar o assédio e a violência sexual. Contudo, têm um limite: se baseiam na condenação do mal e não na proclamação do bem. Para cada adulto, o primeiro passo, o mais natural, para enfrentar essas situações deveria ser uma vida construída a partir do afeto, do carinho e da atenção para com o outro. Onde vigora o bem, o mal tem poucas chances de agir e, quando acontece, temos mais facilidade para combatê-lo e superá-lo. Por outro lado, uma insistência em denunciar o mal, sem um anúncio do bem, acaba criando um clima de ressentimento e frustração, que deprime a pessoa e acaba propiciando outros males.

O testemunho fundamental

Temos de reconhecer que, por trás de muitos discursos educativos moralizantes, frequentes em nossa sociedade, se escondem maldades e comportamentos hipócritas, que não são reconhecidos pela maioria das pessoas, mas agridem e ferem profundamente as vítimas. Essas situações levaram muitos jovens bem-intencionados a desconfiarem da pureza do amor, da veracidade dos valores morais e da construção de uma família feliz. São a porta de entrada para uma série de ideologias contrárias à família, das quais tanto nos queixamos hoje em dia. Por outro lado, campanhas para denúncia e condenação dos agressores – apesar de justas e necessárias – podem estimular um cinismo desiludido, que passa a duvidar da bondade e do amor, desencorajando jovens e adultos a se arriscarem no afeto sincero e na construção de uma família estável.

Negar os problemas ou criticar os que pensam diferente sem olhar os erros da própria posição não faz bem a ninguém. Pode parecer fácil, mas nos impede de crescermos, melhorar e sermos mais feliz. Agressões de ordem sexual são problemas reais da sociedade, mais frequentes do que geralmente pensamos. Contudo, uma posição alarmista também não constrói e pode levar a outros erros.

O testemunho do amor sincero, da fidelidade e do respeito ao outro ainda é o passo mais importante que todos nós somos chamados a dar e a repetir sempre, tanto para nossa própria felicidade quanto para a daqueles que amamos e para a edificação do bem comum.

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