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Além de Ecce Homo: conheça outras seis restaurações que beiraram o desastre

Versão alterada de "Ecce Homo" do pintor do século 19 Elias Garcia Martinez, na Igreja Borja, em Zaragoza, em 28 de agosto de 2012.

AFP / CESAR MANSO

Detalhe de Ecce Homo, obra que ficou internacionalmente reconhecida após a desastrosa restauração feita por D. Cecilia Giménez

Beatriz Camargo - publicado em 30/08/22

Este mês, a internet relembrou os 10 anos da intervenção feita por D. Cecilia Giménez no afresco do pintor espanhol Elías García Martínez; relembre outros casos que também repercutiram na internet na última década

Basta um clique sobre a hashtag #arfails no Instagram para se deparar com milhares de fotos da restauração de Ecce Homo feita pela senhorinha espanhola D. Cecilia Giménez.

Mas, além desse episódio desastroso, o termo reúne inúmeras outras obras de arte cujo processo de restauração resultou num verdadeiro desastre.

O feed reúne de obras originais a cópias reconhecidas, passando por esculturas com cabeças estranhas e santos com “excesso de maquiagem”.

Sendo assim, conheça abaixo cinco casos que entraram para a lista dos grandes desastres da restauração artística na última década:

A desfiguração da Virgem Imaculada

Foi em 2020, também na Espanha, mais precisamente na cidade de Valência, que um colecionador de arte foi pego de surpresa com o resultado do trabalho que havia encomendado de um restaurador local.

De grande valor monetário e sentimental, sua cópia da A Imaculada Conceição dos Veneráveis – cujo original traz a assinatura do artista barroco Bartolomé Esteban Murillo –, ficou com o rosto completamente desfigurado.

 O colecionador pagou 1.200 euros para que o restaurador fizesse apenas uma limpeza na obra. Porém é importante destacar aqui um detalhe: o profissional era especialista na reparação de móveis e não de quadros.

Frente às reclamações do proprietário da obra, o restaurador buscou solucionar o problema.

Mas o resultado da segunda tentativa foi ainda mais desastroso. O quadro da Imaculada Conceição ficou irreconhecível, forçando o colecionador a contratar um restaurador de verdade.

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Sr. Cabeça de Batata de Palência

De maneira idêntica, também na Espanha, outro caso ganhou a imprensa naquele mesmo ano. O alvo da polêmica era uma estátua que ornamenta a fachada de um prédio histórico no centro da cidade de Palência, no norte do país.

A construção de 1923 é um cartão postal da cidade. E foi o artista plástico Antonio Capel, cujo ateliê é vizinho ao prédio, quem denunciou a deplorável restauração da obra.

Depois da intervenção, o rosto da mulher da escultura ficou completamente deformado, com aparência de que o trabalho foi feito por uma criança devido aos olhos separados e nariz redondo.

“Parece a cabeça de um personagem de desenho animado”, escreveu Capel na legenda das fotos da estátua que compartilhou no Facebook.

Versão Playmobill de São Jorge

Na Espanha não há lei que pessoas sem conhecimento técnico restaurem obras de arte, por isso e comum encontrar grandes desastres artísticos no país.

Supreendentemente, outro episódio famoso ocorreu em 2018, envolvendo uma escultura da Igreja de San Miguel de Estella, em Navarra.

A peça que retrata São Jorge trajando armadura, frente a um dragão, ganhou uma nova mão de tinta após um pároco decidir que precisava “arrumar um espaço que estava sujo”.

Há quem afirme que o novo São Jorge se pareça com um boneco Playmobil mas, ironias a parte, o fato é que a pigmentação original de uma com mais de 500 anos de idade provavelmente se perdeu.

“Ainda não sabemos plenamente a gravidade do dano, mas a impressão é de que se eliminou a policromia antiga e de que o dano é irreversível”, declarou Fernando Carrera, presidente da Associação Profissional de Conservadores-Restauradores da Espanha (Acre) à BBC News Brasil na época.

Santo Antônio maquiado

No mesmo ano, outro caso bizarro ocorreu em Soledad, cidade a 985 km de Bogotá, na Colômbia.

Depois que foi atacada por cupins, uma famosa imagem de Santo Antônio de Pádua, o padroeiro local, foi enviada para restauração.

Com data do séc. XVII, a obra necessitava de um reparo cuidadoso, mas segundo os moradores a intervenção não envolveu os materiais corretos, o que teria deixado tanto a imagem de Santo Antônio e como a doo Menino Jesus em seu colo com um aspecto caricato.

“Foi colocada muita maquiagem nos olhos e na boca”, reclamou o ex-secretário de cultura de Soledad, Giovanni Montero, na época.

Menino Jesus alienígena

Outro caso curioso aconteceu na cidade de Sudbury, no Canadá em 2016. Com o fechamento da Igreja de St. Eugene, uma estátua do séc. XX originalmente erguida no local, foi transferida para Ste. Anne des Pins, uma igreja histórica localizada no centro da cidade.

Mas, após a mudança, a obra que representa Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços passou a ser alvo frequente de vândalos, que frequentemente arrancavam a cabeça de Jesus.

Os criminosos costumavam deixar a peça arrancada no local, mas em 30 de outubro de 2015, padre Gérard Lajeunesse notou que a cabeça fora levada pelos criminosos.

Na época, a igreja considerou substituir a obra, mas o alto valor do trabalho, que varia de US$ 6.000 a US$ 10.000, tornou a troca inviável.

Um dia, enquanto passava pela igreja a artista plástica Heather Wise notou a destruição da peça. Ela então se ofereceu a trabalhar voluntariamente na construção da estátua.

E foi aí que o meme nasceu.

A princípio, Heather utilizou argila para construir uma cabeça provisória. Sua intenção era posteriormente ser capaz de esculpir uma outra em pedra.

Mas o resultado de seu trabalho viralizou antes que pudesse concluir sua promessa. Muitos internautas comparavam a cabeça de argila à bebê Maggie Simpson, personagem do famoso desenho da TV.

Entre milhares de memes, houve também quem até a criação de página no Instagram reunindo todas as montagens de fotos criadas.

Ainda na galeria, é possível ver a famosa cabeça de argila como parte do corpo de E.T., o extraterrestre que protagonizou o famoso filme de Steven Spielberg.

A repercussão foi tão grande que a cabeça original foi entregue ao padre Gerald. “Disseram-me que a pessoa [que o roubou] tem problemas e, na verdade, é tudo o que sei”, disse o pároco à CNN na época.

No Brasil, uma santa repaginada

Contemporânea ao Ecce Homo de D. Cecilia Giménez, a Santa Bárbara da capela da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói (RJ) também foi parar nos noticiários.

Com 1,73 m e feita em madeira de fatura portuguesa, a nova Santa Bárbara de Niterói esteve presente na festa do Dia de Santa Bárbara, em 4 de dezembro de 2011.

Passados os festejos, o historiador Milton Teixeira percebeu as intervenções que deixaram a imagem com aspecto de nova – o rosto foi pintado e as roupas trocadas –, e se manifestou publicamente:

“É uma obra lindíssima, que conheço há 20 anos e deve datar de 1810. Estava em bom estado. Isso o que fizeram foi um crime. Descaracterizaram uma peça histórica que, no máximo, precisava de uma limpeza”, declarou na ocasião.

Ao contrário dos desastrosos casos anteriores, aqui a restauração havia sido feita por especialistas.

O trabalho foi realizado pela equipe de preservação e conservação do Museu Histórico do Exército, no Forte de Copacabana.

“Os procedimentos de identificação histórica e higienização foram feitos. Quando chegou na decapagem (que possibilita saber quantas camadas de tinta tem obra), percebeu-se várias camadas de tinta. Como é padrão, optou-se por manter a pintura original — explicou o Major Migon, porta-voz da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, rebatendo às críticas.

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