Terça-feira 30 de Agosto de 2022
- Novos cardeais – um teste antes de um possível conclave?
- A atitude de oposição subjacente ao Vaticano II não é católica, adverte um cardeal
- O eclipse dos católicos na política italiana?
1Novos cardeais – um teste antes de um possível conclave?
Após o consistório para a criação de 20 novos cardeais, a reunião de dois dias sobre a Constituição Apostólica da Cúria Romana está de fato a ser utilizada para discutir “muitas outras questões”, de acordo com a vaticanista Elisabetta Piqué. Ela vê no encontro “uma oportunidade extraordinária, especialmente depois da pandemia, para os cardeais de todo o mundo (…) não só para discutir os atuais desafios da Igreja, as suas preocupações, a situação complicada e crítica do mundo, mas sobretudo para se conhecerem pessoalmente. E isto “tendo em conta, inevitavelmente, que entre eles poderia estar o sucessor de Francisco”. O Papa terminou de dar forma à configuração do próximo conclave, acrescenta: “Dos 132 atuais eleitores cardeais de 69 países, 83 foram criados por ele, ou seja, quase dois terços dos cardeais que entrarão na Capela Sistina para eleger o seu sucessor, após a sua renúncia ou morte. Francisco também internacionalizou o Colégio dos Cardeais como nunca antes: os países do Norte perderam peso e os do Sul, “os das periferias”, ganharam peso. Dos 132 eleitores, 53 são da Europa, 38 das Américas, 21 da Ásia, 17 de África e 3 da Oceânia. Para Elisabetta Piqué, parece que o pontífice está a preparar-se para o futuro. Mesmo que não seja por agora, porque, para além dos seus problemas no joelho, “o antigo arcebispo de Buenos Aires está a ir muito bem, lúcido como sempre, de bom humor e longe de atirar a toalha”.
La Nacion, espanhol
2A atitude de oposição subjacente ao Vaticano II não é católica, adverte um cardeal
O novo Cardeal Arthur Roche, prefeito do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, diz que aqueles que “obstinadamente” se opõem às reformas litúrgicas do Concílio Vaticano II correm o risco de tomar uma posição que já não é católica. “O Concílio é a legislação mais elevada que existe na Igreja”, disse aos jornais The Tablet e ao National Catholic Reporter. “Se se ignora isso, coloca-se de lado, à margem da Igreja. Torna-se mais protestante do que católico. O defensor da reforma conciliar, braço direito do Papa Francisco para a liturgia, acredita que é “muito grave” opor-se a ela. O prelado diz que a Missa vernacular pode ser tão digna como a Missa latina. Contudo, disse que apenas o rito tridentino está na mira do Vaticano: “A missa latina ainda está disponível no Missal de 1962 para aqueles que a desejarem”, disse ele.
The Tablet, inglês
3O eclipse dos católicos na política italiana?
“Na Itália há um mundo católico que pensa, escreve e produz todo o tipo de obras: mas no discurso público, a voz católica está quase ausente. Esta é a observação deste jornalista do Corriere della Sera, que acredita que só o Papa é ainda hoje capaz de se fazer ouvir na Península. A razão para este eclipse: a identidade católica tornou-se indefinível. Para “existir”, é preciso “consistir”. E cita a grande fratura ideológica que há entre certos católicos, em pontos como a noção de uma guerra justa ou o problema do aborto, por exemplo. Perante a secularização e o individualismo, o catolicismo passou de uma oposição resignada a uma lógica de compromisso. A identidade católica decompôs-se numa constelação de identidades. O princípio de permanecer unido em questões fundamentais foi quebrado. Como resultado, os católicos, embora ainda numerosos, tornaram-se politicamente mudos. Resta saber se isto é permanente ou não.
Corriere della Sera, italiano