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Padre cubano: “trocar Sagrado Coração pela foice e o martelo foi nosso pior erro”

PROTESTOS CONTRA A DITADURA DE CUBA EM HAVANA

YAMIL LAGE / AFP

Francisco Vêneto - publicado em 01/09/22

"Será que não entendemos que passamos anos culpando um inimigo externo quando, na realidade, o inimigo está dentro de casa?"

Virar as costas a Deus e trocar o Sagrado Coração pela foice e o martelo foi o pior erro da história de Cuba, declarou o pe. Alberto Reyes Pías, ele próprio cubano, em um texto pungente que está viralizando nas redes sociais, enquanto a ditadura comunista que martiriza a ilha desde 1959 perpetra mais uma onda de repressão violenta contra manifestantes.

Desde 19 de agosto, voltaram a se intensificar protestos regionais contra a falta de comida e de remédios, contra os cortes no fornecimento de energia elétrica que chegam a 18 horas por dia e, principalmente, contra a repressão às liberdades de expressão e até de movimento.

Eis o texto completo do sacerdote, traduzido do espanhol:

“Andei pensando que não se pergunta a Deus ‘por quê?’. Acredito firmemente que Deus nos ama e sabe o que está fazendo e que nunca permitiria sofrimentos inúteis aos seus filhos, porque ninguém minimamente bom faria outro ser humano sofrer por prazer.

No entanto, percebo que Deus permite que ocorram em nossa vida sofrimentos profundos que nem sempre conseguimos evitar. Levantar o punho e dizer a Deus ‘por quê?’ seria admitir que Ele não me ama, que me esqueceu, que está me castigando ou me agredindo. Mas isto é impensável em Deus, então só posso admitir que, quando Deus permite o sofrimento, Ele o faz porque quer me dar alguma coisa; quer que eu entenda alguma coisa; quer que eu cresça, me renove, seja um pessoa melhor, para que a minha vida seja diferente… E, desta perspectiva, só posso perguntar a Deus: ‘para quê?’.

Para que permites que aconteça algo na minha vida que eu não pedi, que eu não gosto, que eu não quero? Para que Deus permitiu que o comunismo chegasse à mais próspera das ilhas do Caribe? Para que Deus permitiu não apenas que perdêssemos a nossa liberdade, mas que essa ditadura durasse mais de 63 anos, destruindo os sonhos de várias gerações? Para que Ele permitiu que tantas pessoas valiosas fugissem e abandonassem suas terras, mesmo morrendo na tentativa? Para que Deus permitiu que a nossa vida cotidiana se tornasse uma provação de precariedade, de angústia existencial, de necessidade esmagadora? Para que Deus permite que, toda vez que meu povo levanta a voz dizendo ‘basta!’, a resposta é uma repressão tão brutal, sádica e sistemática que nos submerge no (falso) sentimento de que essa opressão é insuperável?

Será que ainda não entendemos o que Deus quer nos dizer ou nos dar? Será que Deus quer que entendamos que virar as costas para Ele e trocar a imagem do Sagrado Coração pela dos líderes com a foice e o martelo foi o pior erro da nossa história? Será que não entendemos que ‘não há país sem virtude ou virtude com impiedade’? Que a liberdade não se pede, mas se conquista? Que aqueles que nos governam não se importam com a nossa vida, nem com nossos sonhos, nem com nosso presente, nem com nosso futuro? Que aqueles que nos governaram e nos governam não se importam que nossos filhos morram, seja em Angola, seja em Matanzas? Que os repetidos apelos para ‘resistir e vencer’, ‘fazer mais com menos’ ou transformar-nos e retransformar-nos em ‘povo calejado’ não passam de placebos para nos inflamar com um futuro brilhante e nos fazer esquecer a escravidão do presente? Que, quando se insiste em exercer o direito de voto, na verdade já está tudo decidido? Que passamos anos culpando um inimigo externo quando, na realidade, o inimigo está dentro de casa?

Será que não entendemos que ficar calados para evitar problemas só serve para normalizar e perpetuar nossa miséria? Que não nos manifestarmos publicamente é continuar esperando que algum dia ‘aconteça alguma coisa’ ou que alguém ‘faça alguma coisa’, quando a solução está em nossas mãos? Que quando nos comportamos bem e, depois de nos baterem, nos dão frango e xampu, estão é nos tratando como bichos de estimação que precisam ser acalmados para ficar quietos e obedecer? Que, quando eles nos reprimem, não é que esteja acontecendo algo extraordinário, mas simplesmente o normal, e que não poderia ser diferente, porque, uma vez que usurparam o lugar de Deus, o resto dos mortais é dispensável e desprezível? Será que ainda não entendemos?

Talvez eu esteja errado, talvez sejam meus pensamentos errantes, mas não posso evitar que as ideias se amontoem na minha mente e me persigam violentamente quando de repente começo a pensar”.

Tags:
comunismoIdeologialiberdadePerseguiçãoPolítica
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