A vida de um casal, por trás de um belo sorriso, às vezes esconde fragilidades que esmaltam o cotidiano de um e de outro. São desentendimentos, discussões e aborrecimentos que irrompem, arrastando os cônjuges para um certo isolamento.
Todos os casais, mais cedo ou mais tarde serão confrontados com a questão do perdão, seja por uma pequena indelicadeza ou uma ferida muito mais profunda. E nunca é tarde demais para perdoar. “Mesmo que o desejo de perdoar às vezes se depare com emoções como raiva, desejo de vingança ou exasperação. Mesmo que o caminho possa ser mais ou menos longo e árduo, dependendo das feridas e dos recursos internos de cada um, o perdão é acessível a todos. Todos têm a oportunidade de trilhar o caminho do perdão”, explica Mathilde de Robien, autora de Se pardonner, chemins de réconciliation pour les couples ("Perdoar: caminho de reconciliação para casais") e jornalista da Aleteia.
"Falsos perdões"
Se há perdões pequenos e grandes, ordinários e extraordinários, há também os “falsos perdões”. Ao querer perdoar rápido demais ou pela metade, perdemos o perdão real. Não recebemos seu poder libertador, aquele que nos permite recriar o relacionamento, reconstruir o vínculo rompido, restaurar a confiança. “O conflito permanece aberto, não resolvido e é material para uma nova disputa. Velhos desentendimentos, rancores e decepções podem ressurgir mais tarde e distorcer o relacionamento do casal, enquanto o problema pode ser resolvido no presente”, continua Mathilde de Robien.
Mas, concretamente, como são esses “falsos perdões"? Abaixo, a autora os explica.
1Perdão "trompe l'oeil"
O perdão trompe-l'oeil sistematicamente minimiza ou nega o erro ou a injúria. Acontece com todos. É o famoso "OK, tá perdoado, vamos mudar de assunto". Mas, na verdade, a pessoa não quer reconhecer a mágoa, e permanecer em negação não permite o perdão pleno e sincero. A absolvição, portanto, não é possível para aquele que pede perdão.
2Perdão magnânimo
Aqui está um “falso perdão” que desculpa tudo, não importa o “valor” do mal praticado ou da injúria. “Sim, ele me traiu com uma amiga, mas errar é humano. Além disso, foi em um contexto particular. Qualquer um poderia ter caído nessa". Esse excesso de benevolência não corresponde à gravidade da situação e não permite que a verdade seja dita.
3Perdão devedor
Outro falso perdão é o perdão "devedor", que não apaga completamente a ofensa. Esse tipo de perdão deixa o outro em dívida com o ofendido. “Eu te perdoo, mas terei dificuldade em esquecer o que aconteceu". Esse perdão pela metade, um dia, voltará à mesa.
4Perdão heroico
Esse falso perdão é egocêntrico: não precisa do pedido de perdão do ofensor para perdoar. Ele está acima de tudo, inclusive do ofensor. É o conhecido "passei a esponja", que significa: "Não preciso de você, nem do seu remorso, o herói sou eu."
5Perdão arrogante
Finalmente, há o perdão "arrogante". É o: “Eu sou muito melhor que você, eu te perdoo”. Muitas vezes, a pessoa se sente humilhada e se defende da vergonha de ter sido traída ao infligir isso ao outro.
Perdão, caminho para uma nova luz
Ao contrário do que acontece com os “falsos perdões”, perdoar é definitivamente “rasgar a página em que se registrou com má-fé ou raiva a conta devedora do próximo”, disse o padre Henri Caffarel. É mudar o olhar para adotar um olhar de amor.
Para São Paulo, o perdão é parte integrante do amor cristão. É essencial em qualquer relacionamento normal entre duas pessoas que se amam.
“É maravilhoso poder dizer a nós mesmos que, falhos, finitos e imperfeitos, somos criados à imagem de Deus e, portanto, capazes de perdoar. Temos essa capacidade, como seres humanos, de empreender um caminho de reconciliação para renovar nosso amor pelo outro", conclui Mathilde de Robien.
