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A importância da religião na vida pública

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Vanderlei de Lima - publicado em 18/09/22

"Chegou a hora de despertar daquele fundamentalismo que polui e corrói toda a crença, chegou a hora de tornar límpido e compassivo o coração", diz o Papa

No dia 14 de setembro último, o Papa Francisco, no Palácio da Independência, no Cazaquistão, discursou para os líderes das grandes religiões do mundo.

Visto que parte da sua fala trata da importância da religião na vida pública dos povos, o que inclui, sem dúvida, a sadia liberdade de – mais do que professá-la – vivê-la, no dia a dia, sem sofrer restrições do Estado, reproduzimos dois densos parágrafos desse discurso de Francisco. Discurso no qual o Santo Padre não fez nenhuma citação direta da Sagrada Escritura ou da Tradição da Igreja, mas – talvez, num gesto diplomático – muito se valeu da obra Palavra, de Abai (1845-1904), “poeta mais famoso do país, pai da sua literatura moderna, o educador e compositor”, segundo o Papa. 

“Irmãos e irmãs, o mundo espera de nós o exemplo de almas despertas e mentes límpidas, espera uma religiosidade autêntica. Chegou a hora de despertar daquele fundamentalismo que polui e corrói toda a crença, chegou a hora de tornar límpido e compassivo o coração. Mas é hora também de deixar apenas aos livros de história os discursos que por demasiado tempo, aqui e noutras partes, inculcaram suspeitas e desprezo a respeito da religião, como se esta fosse um fator desestabilizador da sociedade moderna. Nestes lugares, é bem conhecida a herança do ateísmo de Estado, imposto durante decênios, aquela mentalidade opressiva e sufocante para a qual o mero uso da palavra ‘religião’ já gerava embaraço. Na realidade, as religiões não são problema, mas parte da solução para uma convivência mais harmoniosa. Com efeito a busca da transcendência e o valor sagrado da fraternidade podem inspirar e iluminar as opções a tomar no contexto das crises geopolíticas, sociais, econômicas, ecológicas, mas – na sua raiz – espirituais, que atravessam muitas instituições de hoje, incluindo as democracias, comprometendo a segurança e a concórdia entre os povos. Portanto, precisamos de religião para responder à sede de paz do mundo e à sede de infinito que habita o coração de cada homem”.

E segue: “Por isso, condição essencial para um desenvolvimento verdadeiramente humano e integral é a liberdade religiosa. Irmãos, irmãs, somos criaturas livres. O nosso Criador ‘pôs-Se de lado por nós’, ‘limitou’ por assim dizer a sua liberdade absoluta para fazer também de nós criaturas livres. Então como podemos coagir irmãos em nome d’Ele? ‘Enquanto acreditamos e adoramos – ensinava Abai –, não devemos dizer que podemos constranger os outros a crer e a adorar’ (Palavra 45). A liberdade religiosa constitui um direito fundamental, primário e inalienável, que é preciso promover em todos os lugares e que não se pode limitar apenas à liberdade de culto. De fato, é direito de cada pessoa prestar testemunho público da sua própria crença: propô-lo, sem nunca o impor. É a prática correta do anúncio, diferente daquele proselitismo e doutrinamento de que todos são chamados a manter-se distantes. Relegar para a esfera privada a crença mais importante da vida privaria a sociedade duma riqueza imensa; ao contrário, favorecer contextos onde se respira uma convivência respeitosa das diversidades religiosas, étnicas e culturais é a forma melhor de valorizar os traços específicos de cada um, de unir os seres humanos sem os uniformizar, de promover as suas aspirações mais altas sem cortar as asas ao seu impulso”.

Estes importantes pontos que o Papa Francisco traz devem, a nosso ver, ser lidos, meditados e aplicados na nossa vivência diária. No livro “Obedecer antes a Deus que aos homens” (Cultor de Livros, 2021), tratamos deste tema e oferecemos a solução religiosa e constitucional – em que pesem as tantas reinterpretações da Constituição Federal de 1988 no Brasil – a tudo o que fere a nossa consciência bem formada. O capítulo 6 da nossa obra trata, inclusive, do católico e da vida política do seu país e, além de textos do Dr. Ives Gandra Martins, consagrado jurista, se fecha com a transcrição de parágrafos da encíclica Immortale Dei, do Papa Leão XIII, sobre a religião na vida pública.

Preparemo-nos, pois, dentro da lei e da ordem. Os dias são sombrios…

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