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Como rezar nos momentos de muita angústia?

PRAY

Shutterstock | KieferPix

Aliénor Strentz - publicado em 21/09/22

Um guia completo para você saber como rezar nos momentos mais difíceis da sua vida

O ser humano tem uma tendência ou a se retirar em si mesmo e desesperar, ou a se voltar sem qualquer discernimento para “receitas terapêuticas” da moda. A angustia, esta sensação exacerbada de abandono e no fundo do buraco, pode então levar a desvios e causar muitos danos na vida de uma pessoa. Nessas situações, recorrer a Deus, em oração, é fortemente benéfico. Mas como podemos fazer isto quando temos pouca força e a sensação de termos sido abandonados por Deus?

1Clamar ao Céu

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A maior santa dos tempos modernos, Santa Teresinha do Menino Jesus, deu uma definição simples de oração. Para ela, trata-se de um “impulso do coração”, um “simples olhar para o Céu”, um “grito de gratidão e amor no meio da provação, bem como no meio da alegria”. Recordar isto é particularmente apropriado quando se está angustiado(a), e se tem pouca paz e desejo de entrar em oração.

A Bíblia fala-nos de muitas situações de angústia individual e coletiva – a do povo hebreu. Entre outros exemplos, o livro de Tobias fala-nos da angústia de Sara. Ela tinha sido casada sete vezes. Mas a cada vez, o demónio Asmodeu matou todos os seus maridos. Era regularmente insultada por uma jovem criada do seu pai que a acusava de matar os seus próprios maridos (Tobias 3, 7-9). A angústia de Sara é explicada no capítulo 3, versículo 11 de Tobias: “Nesse dia Sara chorou com o coração pesado”.

Hippolyte Muaka Lusavu, no seu livreto Orações de Cura, observa: “É a alma que fica ferida quando acontece de ficarmos abalados por causa dos aborrecimentos da vida”.

Sara vai até ao quarto superior da casa do seu pai para se enforcar. Mas ela percebe que o ato que está prestes a cometer pode causar a morte do seu pai. Assim, recorre a Deus para pedir a sua própria morte. Por isso, ela reza:

Deus de nossos pais, que vosso nome seja bendito. Vós, que depois de vos irardes, usais de misericórdia e no meio da tribulação perdoais os pecados aos que vos invocam. Volto-me para vós, ó Senhor, para vós levanto os meus olhos. Rogo-vos, Senhor, que me livreis dos laços deste opróbrio, ou então que me tireis de sobre a terra!

Tobias 3, 11-15

A oração de Sara assemelha-se à de Jó, que, humilhado e angustiado, amaldiçoa o dia do seu nascimento, mas em nenhum momento amaldiçoa Deus, em quem continua a ter esperança, apesar de tudo (Jó, capítulos 3 e 19).

2REJEITAR O ESPÍRITO DE DESÂNIMO E RECORDAR AS GRAÇAS RECEBIDAS NO PASSADO

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Como as situações de angústia e aflição podem durar muito tempo, existe uma grande tentação de cultivar um espírito de complacência com o próprio desespero, e de permanecer num estado de permanente e paralisante desânimo.

Contudo, como exorta o Padre Muaka Lusavu, “a melhor maneira de ultrapassar a angústia é recusar-se a viver nela. É portanto necessário assumir um compromisso firme para remover de nós próprios todos os pensamentos de desânimo e toda a paralisia nas nossas ações. É frequentemente necessário, durante esta fase, ser acompanhado a nível emocional por um psicólogo ou psiquiatra, mas também, a nível espiritual, por um padre.

Sejam quais forem as dificuldades e tormentos por que estamos a passar, é possível olhar em frente e construir um futuro novo. Para tal, precisamos de alcançar um certo equilíbrio psicológico e emocional, com a ajuda e apoio.

Podemos também recordar, com a ajuda do Espírito Santo, as graças que recebemos no passado. Esta memória de ação de graças ancora-nos na esperança, porque nos lembramos que Deus quer a nossa felicidade, que Ele é o nosso pastor em quem podemos confiar.

O salmista canta isto repetidamente, como no Salmo 22, versículo 4:

Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo. Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo.

Leiamos, portanto, frequentemente em voz alta os salmos da confiança (como os salmos 22, 27 e 54) e tenhamos a certeza de que a confiança em Deus faz milagres. Por exemplo, Paulo e Silas na prisão cantavam as maravilhas de Deus. Depois as suas correntes foram quebradas pela vontade de Deus (Atos 16,24-26).

3INVOCANDO OS ARCANJOS E A VIRGEM MARIA

O próprio Jesus experimentou a angústia no Monte Getsémani e na Cruz, sentindo profundamente o “abandono de Deus”. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” gritou ele (Mt 27, 46).

No Jardim das Oliveiras, quando os apóstolos estavam todos a dormir, um anjo veio consolá-lo (Lc 22, 42-45). Lembremo-nos disto: os anjos querem nos ajudar e consolar, porque têm imensa compaixão por nós. Numa situação de desespero, recorramos ao poderoso Anjo do Monte das Oliveiras, o mesmo que consolou o nosso Salvador na sua angústia.

Os arcanjos S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael também atuam poderosamente contra os espíritos malignos “que vagueiam pelo mundo” e fazem-nos desanimar. O terço de São Miguel ou as orações de São Miguel são orações libertadoras para nos afastar a todos os servos do diabo.

Finalmente, o Santo Terço, ou simplesmente a invocação do santo nome de Nossa Senhora, é também uma poderosa oração de proteção e libertação do mal e de todas as formas de angústia.

Depois do Espírito Santo, a Virgem Maria e os Arcanjos são os nossos ajudantes mais preciosos nas nossas “batalhas espirituais”.

4MEDITAR SOBRE A VITÓRIA FINAL DO BEM SOBRE O MAL… E REDESCOBRIR AS BEM-AVENTURANÇAS

Deus não precisa de adoradores, mas nós temos a liberdade de adorá-Lo como Deus

A angústia pode levar à tristeza e ao esquecimento do propósito final de Deus: o triunfo final do Reino de Cristo, tal como revelado no Apocalipse. Meditar sobre a volta de Cristo em glória e sobre a Jerusalém celestial pode espalhar paz e esperança dentro de nós. Assim, já não estamos concentrados no nosso sofrimento, mas na vitória final de Cristo, e num lugar onde toda a dor irá desaparecer, o que São João viu e relatou no Livro do Apocalipse (21, 10-11).

Levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, revestida da glória de Deus. Assemelhava-se seu esplendor a uma pedra muito precio­sa, tal como o jaspe cristalino. 

Finalmente, pode ser reconfortante redescobrir as Bem-aventuranças, e ver a situação atual de angústia como uma fonte de maior alegria espiritual. “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5, 4).

5OFERECER A NOSSA ANGÚSTIA A DEUS E COMPROMETERMO-NOS A LUTAR CONTRA O MAL

A nossa oração também pode ser uma oferta a Deus pela salvação das almas. Oferecer a Deus a nossa situação angustiante é dar-lhe um significado, algo que é tão salutar para nós como para o nosso próximo.

Nesse sentido, o sofrimento é oferecido pela conversão dos pecadores ou pela libertação das almas no purgatório. Este dom de si já é uma vitória contra a angústia porque nos tira de um sentimento de intensa solidão, ao ligar-nos aos nossos irmãos e irmãs em Cristo. De fato, a angústia pode também, com empenho e muita força de vontade, ser transformada numa ação benéfica.

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