Um terço no volante chamou as atenções de quem viu as imagens do carro destruído de Jarbas Maximiano da Silva, de 58 anos: na manhã de 8 de setembro, festa da Natividade de Nossa Senhora, o motorista escapou ileso de um grave acidente que, além do seu veículo, envolveu mais dois caminhões e outros quatro automóveis na rodovia Fernão Dias, em Minas Gerais.
O carro de Jarbas foi prensado pelos dois caminhões. Enquanto o veículo ficou destruído, Jarbas saiu com alguns arranhões e um corte no rosto, mas consciente e estável. A única parte preservada do carro foi justamente a do motorista. Encaminhado ao Hospital Regional de Betim, Jarbas ficou internado em observação, avaliado pela equipes médicas de cirurgia geral e ortopedia.
Como as imagens do acidente levam a considerar que muito dificilmente alguém ter saído vivo daquelas ferragens, não falta quem repare no que estava pendurado ao volante do carro destruído: um terço com a medalha de Nossa Senhora Aparecida.
Irma dos Santos Silva, esposa de Jarbas, é a primeira pessoa que vê naquele terço um sinal do livramento que foi concedido a ele:
Milagre?
A Igreja Católica é prudente e cuidadosa ao avaliar algum acontecimento como milagroso. De fato, não se pode falar tecnicamente em milagre quando existem explicações científicas plausíveis para um fato. Neste caso, uma considerável gama de variáveis pode explicar por que uma pessoa conseguiu sair viva de um acidente com potencial catastrófico.
O uso do termo “milagre” é comum diante de fatos que parece impossível terem acontecido: na maioria dos casos, o uso dessa palavra é bem intencionado, mas, como termo técnico, é precipitado e equivocado.
Milagres são fenômenos cientificamente inexplicáveis que contradizem as regras da natureza conforme as conhecemos. Para que algum fenômeno possa ser oficialmente declarado como de caráter sobrenatural por parte da Igreja, são necessários prudentes e detalhados estudos. A Igreja segue critérios científicos bastante rígidos para afirmar algum milagre. Os milagres de cura, por exemplo, chegam a demorar décadas até serem reconhecidos. Os fatos precisam ser cuidadosamente estudados por médicos, revisados por cientistas (na maioria dos casos, laicos e até mesmo ateus), expostos às críticas públicas e, só depois de feitos todos os estudos científicos, a própria Igreja faz a análise teológica mediante o trabalho das suas comissões de especialistas em teologia.
Aliás, você pode conhecer um pouco mais sobre a delicada avaliação de supostos milagres por parte da Igreja no seguinte artigo sobre os 7 critérios para se declararem milagrosas as curas que acontecem no santuário de Lourdes:
Então é um “sinal”?
Sair ileso de um grave acidente, em especial quando se observa a explícita presença de um elemento religioso como é o terço, poderia ser considerado então como um “sinal”, se não como um milagre?
Entendendo-se por “sinal” aquilo que carrega um “significado”, certamente não há erro em dizer que sim, é um sinal natural – ou seja, um fato raro e chamativo, mais ainda assim “previsto” na ordem natural das coisas. Esses fatos extraordinários, por mais que sejam inusitado ao nosso olhar, significam primariamente a própria existência de uma ordem natural – e isto já é instigante: existe uma ordem natural em vez de mero acaso.
Afinal, não é apenas o sobrenatural que pode nos impactar: a natureza mesma, incluindo a nossa capacidade natural de admirar os acontecimentos surpreendentes, também tem muito a nos dizer, dado que o fascínio pela grandiosidade da vida, em si mesmo, já nos remete a uma das perguntas-chave da filosofia e da ciência: qual é o sentido de tudo isso?
Um acontecimento chamativo, mas explicável pela ordem natural das coisas, pode servir como “gatilho” para reflexões importantes.
O cristão acredita que Deus nos fala através de sinais, sejam naturais, sejam sobrenaturais, e que Ele sempre deixa à liberdade de consciência de cada um a decisão final de como interpretá-los. Os próprios ateus, aliás, costumam enfatizar que as tragédias são uma “prova” de que Deus não existe, apelando para a sua “fé” na inexistência de Deus com base em sinais passíveis de interpretações pessoais (que, aliás, cientificamente falando, não são válidos como provas).
Para quem crê na inexistência de Deus, tudo é e será sempre mero acaso e falta de sentido. Para quem acredita em Deus e no sentido sobrenatural da existência, tudo é e será sempre um grande milagre, testemunhado por uma abundância de sinais repletos de sentido.